O meu menino é o mais lindo e também o melhor filho do mundo.
O meu menino diz que sou a melhor mãe do mundo e faz-me sentir como a melhor mãe do mundo.
O meu menino é o homem da minha vida e costumo dizer que, se não fosse meu filho, casava com ele - isto se ele aceitasse casar com uma velha como eu, claro!
O meu menino é meigo e calmo e inteligente. E bonito, claro.
O meu menino tem mais juízo e discernimento que eu, o pai, ou a maior parte dos adultos que conheço.
O meu menino é generoso e justo.
O meu menino trata bem os outros meninos e também os adultos. Às vezes até melhor do que uns e outros mereceriam.
O meu menino é d'oiro, é d'oiro fino. E também de prata, diamante, esmeraldas e rubis.
O meu menino é o meu tesouro, a maior preciosidade que eu tenho na minha vida, tirando a minha menina, é claro.
O meu menino tem nove anos e acorda às oito da manhã, mesmo aos fins-de-semana; e quando a mana, de 15 meses, acorda, ele vai buscá-la ao quarto para que eu possa dormir mais um bocadinho. E chega a dar-lhe o bibas, para que eu possa dormir mais um bocadinho. Só não lhe muda a fralda, mas estamos a falar de um menino, não de um semideus!
O meu menino por vezes faz disparates, como qualquer menino e eu, como qualquer mãe, ralho com ele. Mas por vezes exagero e ele fica sentido, e com razão. Porque eu sou apenas humana e ele compreende - aliás, o meu menino compreende tudo - mas eu exijo demasiado dele. Afinal, ele é um menino. Mesmo assim, o meu menino continua a dizer que sou a melhor mãe do mundo e a fazer-me sentir como a melhor mãe do mundo.
O meu menino é óptimo aluno e muito exigente consigo próprio. Mas também gosta de brincar, , ler os livros do Harry Potter e jogar playstation e futebol; aliás, o meu menino é fanático por futebol e está constantemente aos chutos nas milhentas bolas que insiste em coleccionar. Este é um dos pontos de fricção entre o meu menino e eu e uma das razões pelas quais eu às vezes passo das marcas na minha irritação, mesmo que ele passe das marcas na sua excitação de menino.
Mas o meu menino é o melhor do mundo.
O meu menino foi ontem para a grande aventura dos seus nove anos ( e eu fiquei na grande aventura dos meus nove anos de mãe: sozinha com a Calamityzinha pecanina na casa nova). Foi com outras três turmas para os Pirinéus. E eu fui levá-lo à estação, com um gigantesco saco cheio de roupa para que ele possa enfrentar os 10 graus negativos que o esperam. E, na estação de Santa Apolónia, chorei. Sei que não fui a única e também que chorarei muitas mais vezes. Já estive noutras ocasiões longe do meu menino durante uns dias. Na primeira vez que passei uma semana longe do meu menino chorei todos os dias. Ele tinha apenas 2 anos, ou melhor, ainda não os tinha feito. Mas nessa ocasião fui eu que viajei e o meu menino ficou com o pai e avós. Desta vez o meu menino foi com a escola e nós, pais, não falaremos com eles até ao seu regresso. Apenas vamos ter notícias através do email (espero que) diário que receberemos da professora. E o meu coração de mãe não consegue deixar de estar apertadinho. Será que ele está bem? Será que não tem frio? Será que não lhe vão fazer falta as pantufas que ficaram esquecidas no chão da sala? Será que vai conseguir fazer caber tudo no gigantesco saco na hora do regresso? O que irá ele fazer se acordar de noite com um pesadelo? Quem lhe irá lembrar que tem de assoar o nariz e lavar as mãos e puxar o autoclismo quando suja a sanita? Quem lhe irá dar mil beijos de boa-noite e mil abraços de bom dia? QUEM VAI CUIDAR DO MEU MENINO?
Eu sei que os meninos crescem e que um dia a pele deliciosamente macia do meu menino irá transformar-se numa epiderme coberta de acne juvenil e depois pelinhos irão crescer e transfigurar o meu menino num homem de barba rija. Eu sei que estas experiências são maravilhosas e importantes e fundamentais para a vida e para o crescimento. Eu sei que devemos deixar voar os nossos meninos. Mas o meu menino é o meu menino. Já o era antes de nascer. Antes sequer de ser concebido. O meu menino. E assim será todos os dias da minha vida. Desde a origem dos tempos e até ao fim da eternidade. E para lá.
Amo-te desmesuradamente, meu menino. Amo-te daqui até ao infinito. E para lá. Meu menino.
PS: Este texto foi escrito ontem mas só hoje o consegui publicar