2/27/2008

Desafios, TPCs, olá ukié

Como o prometido é de vidro, há sempre um dia em que a malta tem de se decidir a (cor)responder aos desafios, TPC's e afins que a nossa mui solicitada vida neste quintal que é a blogosfera nos exige/proporciona (depende de que ângulo queremos ver a coisa, se do do copo meio-cheio, se do do meio-vazio...). De modos que vamos a isto, que já se faz tarde e se a malta não diz nada, os inúmeros e incontáveis vão-se embora e ficamos tristes e abandonados na imensidão do ciberespaço. Ah, pois é. Pediram-me, pois, 12 palavras de que eu gostasse particularmente e ós pois, outras 12 de que eu em especial não gostasse.

Mas como eu sou do contra, e sem desrespeito por quem me fez as encomendas - antes pelo contrário! - vou começar pelas feiosas, que é para terminar em beleza. Ora palavras de que eu não gosto, xa cá ver, como diria ó outro...
Olha, eu cá não gosto nada de ouvir a palavra colégio. Desculpem lá mas não gosto, prontos. E por isso nunca digo. Digo escola, liceu ou faculdade, é conforme, mas estas não fazem parte das minhas top 12. Também me causa alguma comichão a palavra ordeiro. Acho que é palavra típica de fascizóide. Mas acho alguma piada às palavras terminadas em óide, com excepção de hirudóid, que me lembra sempre alguma maleita, de modos que não vou escolher nenhuma destas ,embora algumas estejam ligadas a conceitos que muito repudio. Mas, lá está, trata-se de palavras e não dos seus significados, se é que conseguimos separar uma coisa da outra. Comedão é o termo técnico para ponto negro e é tão feio como o dito. Mastectomia e rinoplastia são ambas operações, em que a segunda poderá resultar bastante melhor do que a primeira, mas, como vocábulos, são igualmente desengraçadas. Irra é interjeição que não me lembraria de soltar: mais depressa vou aos palavrões, vulgo asneiras, estas sim habitualmente tidas como palavras feias.
Ainda vou a meio da primeira parte e confesso que isto não é nada fácil. Eu cá gosto de palavras, gosto mesmo, de todas elas, mesmo das que não gosto. É cá uma coisa que não sei explicar. Prossigamos, pois. Escroto é definitivamente um palavra feia, mas gosto de a dizer à boca cheia (pois, eu sei que isto pode ser mal interpretado, mas eu rio-me convosco, inúmeros e incontáveis, e deixem-se de gracinhas parvas, siiiim???), sobretudo se tiver vontade de insultar alguém. Ora experimentem lá, vão ver se não é mais giro e reconfortante que filho desta ou daquela... Aborto também é palavra cuja sonoridade me fere mas não a usaria como ofensa, até porque o assunto ficou arrumado. Espero eu de que. Não gosto de hábito, o que não significa que não a use, até porque é sinónimo de costume, e estas são palavrinhas necessárias useiras e vezeiras (ora aí está uma expressão que nunca uso, deve ter sido a primeira vez, que tal fazer um desafio com expressões de que não gostamos?) na minha prática laboral. E quem diz hábito, diz monge, substantivo comum cuja sonoridade bule com o meu sentido estético. Ornitorrinco é tão feio que até se torna giro, assim como escatológico. Definitivamente uma das minhas palavras preferidas (Heheheheh!).

Agora, passemos ao segundo, que na verdade era primeiro. Aqui a dificuldade é a escolha. São tantas e tão belas... Vejamos.
Algazarra é mais do que barulho, confusão. É um ruído intenso, brutal, que pode ser causado por um tumulto. Gosto, sem dúvida, gosto muito. Assim como também aprecio particularmente um sussurro. Faz-me pensar em segredo, bruma, serenidade. O mar é belo, belíssimo, mas o oceano é fantástico, grandioso, overwhelming (desculpem lá, mas não conheço equivalente em português. Amo o sol mas adoro a sonoridade e as formas sensuais da lua. Gosto do calor e em geral embirro com a chuva, sobretudo em Lisboa, mas a palavra nuvem tira-me do sério. E um sorriso cai bem em qualquer ocasião, mesmo - ou sobretudo! - quando estamos longe e sofremos com a linda e tão lusitana saudade....

2/20/2008

Alguém me agarre, depressa!

Por motivos de trabalho, tive de fazer uma pesquisa no google que me levou à descoberta disto.
Já tinha ouvido falar nesta reportagem (penso que até foi premiada), mas nunca a vi. Permitam-me, inúmeros e incontáveis, que partilhe um bocadinho convosco, que não consigo guardar só para mim. E desde já as minhas desculpas às vossas inteligências e sensibilidades que muito respeito.

Excerto de excerto da reportagem 'Vermelho & Negro' de Cristina Boavida (exibida na SIC algures em 2003)

"João Moura e o filho praticam quase diariamente com bezerras, esta tem cerca de um ano. Antes de entrar na arena cortaram-lhe tanto os cornos que o animal não parou de sangrar, e o facto de ser apenas uma bezerra não a impediu de ser cravada com várias bandarilhas durante o treino. As pessoas ligadas à tauromaquia ficam incomodadas quando se fala em crueldade contra os animais.

Manuel Gonçalves (empresário tauromáquico): "Minha senhora, minha senhora, minha senhora, o touro existe, só e exclusivamente para as touradas, é um animal que existe só para isto!"
Jornalista: Não acha que é um espectáculo cruel?
José Pedro Pires da Costa: Não, de maneira nenhuma.
Jornalista: Não acha que é cruel para com o touro?
JPPC: Claro que não!
Jornalista: Porquê?
JPPC: Porquê? Porque... porque... sei lá, é complicado agora estar a responder...
Jornalista: Gostas de animais?
João Moura Júnior: Gosto... cavalos, de toiros.
Jornalista: Achas que gostas de toiros?
JMJ: Gosto, gosto de toiros.
Jornalista: Mas estás disposto a andar a... a espetá-los. E eventualmente a matá-los.
JMJ: Pois, a matá-los também.
Jornalista: Achas que isso é maneira de gostar?
JMJ: Ah, não sei. Mas é a profissão, tem de ser assim.
Jornalista: Nunca teve pena de um toiro?
Sónia Matias: Não [risos] Não, acho que não.
Luís Rouxinol: O touro é... nasce com... com a finalidade em ser toureado.
João Moura: É um touro bravo que é criado só para ser toureado.
Hélder Queiroz: Os touros não sofrem naquela altura, podem sofrer mais tarde...
Jornalista: Por que é que diz isso?
HQ: Porque... essa... a raça desse touro foi lidada para isso, este touro foi criado para isso, não... não... ele foi, a genética dele não faz com que ele sofra dentro da praça...
JPPC: As pessoas que não gostam de corridas de touros deviam de se informar, informar acerca do que é uma corrida de touros.
SM: Nós somos livres de gostar do que gostamos, só vai à arena quem gosta.
MG: Deus criou o Homem e criou os animais, para que os animais servissem o homem, não é para que o homem sirva os animais.
JPPC: Não há ninguém que goste mais dos animais do que eu. "

O excerto completo aqui

2/15/2008

O S. Valentim é um canalha*

Perguntaste-me se lhe havias de enviar um sms pelo S. Valentim.
(Que sei eu do amor, meu amor?)
Respondi-te que sim, que o fizesses, se achasses que era o que devias fazer - versão irresponsável e cobarde do "faz o que o coração te mandar". Às seis da tarde ligaste-me. A chorar. "Ela disse que não". Soluçavas no teu pranto de menino. Na tua dor tão grande que era maior do que eu. Meu amor.
Se soubesses, se imaginasses o quanto foi minha a tua dor. A vontade que tive de sair a correr para te ir pegar ao colo, abraçar-te e chorar contigo. Ficar com o teu sofrimento, tirar-to todo, todinho. Dizer-te que não há no mundo mulher que mereça uma lágrima dos teus olhos de ouro. É tão cedo, meu filho. Tão cedo ainda.
Quis dizer-te que não ligasses, que não desses importância. Mas eu sei, meu filho: hoje nada é mais importante que o teu amor de menino. Meu menino.
Um dia vais sentir um amor tão maior ("Oh mãe, mas eu gosto mesmo dela. A sério. Quando estou com ela sinto uma dor na barriga. Porquê?").
Um dia o teu peito vai querer rebentar para que o teu amor se espalhe pelos campos, pelas ruas. ("Oh mãe, eu não quero gostar de outra pessoa. Eu quero gostar dela para sempre!"). Meu amor.

Sabes, filho, o S. Valentim é um cretino. Um malandro, um pulha, um canalha. Um santo do pau-oco, um aliado do capitalismo selvagem, o inimigo nº 1 do Robin dos Bosques: rouba aos pobres para dar aos ricos. Apenas existe para os encher ainda mais e esvaziar-nos a nós. E agora o biltre causou-te o primeiro desgosto de amor. Meu amor.

Deixa-me que te mande o meu postal de São Outra Coisa Qualquer (haverá lá santo que seja capaz de patrocinar o amor de uma mãe por um filho?) sob a forma de uma canção (como todas as canções de amor, ridícula)

Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita dizia ela tinha
um sorriso luminoso tão triste e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista
nas acácias floridas na fímbria do mar

Sua pele macia era suma-uma
sua pele macia cheirando a rosas
seus seios laranja laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não

Mandei-lhe um cartão que o amigo maninho tipografou
'por ti sofre o meu coração'
num canto 'sim' noutro canto 'não'
e ela o canto do 'não' dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do sete
pedindo e rogando de joelhos no chão
pela Sra do Cabo, pela Sta Efigénia
me desse a ventura do seu namoro
e ela disse que não

Mandei à Vó Xica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço bem forte e seguro
e dele nascesse um amor como o meu
e o feitiço falhou

Andei barbado, sujo e descalço
como um monangamba procuraram por mim
não viu ai não viu não viu Benjamim
e perdido me deram no morro da Samba

Para me distrair levaram-me ao baile
do Sr. Januário, mas ela lá estava
num canto a rir, contando o meu caso
às moças mais lindas do bairro operário

Tocaram a rumba e dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu
e a malta gritou 'Aí Benjamim'

Olhei-a nos olhos sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lálá lá lá lá lá
E ela disse que sim
E ela disse que sim
E ela disse que sim
E ela disse que sim...

(letra Viriato Cruz, intérpretes vários)

*(havia um filme francês chamado 'Le père-Noël est une ordure'. Não sei como se traduz 'ordure', que era a palavra exacta que gostaria de usar aqui. 'Canalha' é o conceito mais aproximado que encontrei.)

2/12/2008

Basta

Hoje digo basta.
(Da minha doença cuido eu. Quem quiser cuide da sua.
Só me lembro de ter parido dois filhos...)

2/04/2008

As duas calamitosas e o Técnico-de-raio-X-do-cabelo-cor-de-prata



Ontem de manhã, a miniCalamity não achou melhor maneira de descer do sofá para o chão do que mergulhando directamente de cabeça. Vai daí, chorou um bocadinho, fui lá peguei-lhe ao colo, dei-lhe uns miminhos, uns beijinhos e uns abracinhos, parou de chorar e eu voltei aos meus afazeres. Mas uns minutos mais tarde, ao entrar de novo na sala, apercebi-me que estava a sangrar do nariz. Fora a hemorragia (pouco abundante e já quase estanque), parecia em plena forma, até porque brincava e se divertia como se nada fosse, mas com estas coisas é melhor não facilitar, de modos que resolvi levá-la ao hospital. (A propósito, alguém me explica por que motivo, sempre que temos de ir para o hospital é domingo de manhã?)


Enviadas para o Raio X, lá fomos, corredor fora, a miniCalamity e eu, de mãos dadas, pato Chicco a arrastar ("vamos lá tirar uma fotografia ao pato a ver se tem dói-dói na cabeça") pelo chão, tentando encontrar o nosso caminho por entre setas e setinhas, portas, janelas, átrios e elevadores, pelo labirinto que nos levaria à sala das radiografias.

Recebidas por um rapaz assaz simpático, este último e a minha pessoa tentámos em seguida com a piolha a via do diálogo, mas a miniCalamity não foi na conversa. Se é para radiografar o pato, é para radiografar o pato, então para quê encostar o nariz a esta coisa onde me dizem que há de estar o Noddy? Eu cá sei muito bem com o que é que se parece uma televisão com o Noddy lá dentro e para começar, a televisão é preta e esta coisa é branca. Para além disso, a minha mãe está sempre a chatear-me para me chegar para trás e agora está aqui com este caramelo a mandar-me chegar para a frente. Mas por que carga de água é que vou encostar o nariz a esta coisa? Já bem basta o saco de gelo que a minha mãe me quis impingir durante o trajecto todo até aqui. Nem pensem. Acabou. Vou já para o chão que esta sala é gira que s'a farta e tem montes de coisas interessantíssimas para explorar...

Bom, vai tentativa vem tentativa, vai negociação vem negociação, e eis senão quando entra na sala de raio x outro técnico. Não percebi bem se vinha porque vinha ou se vinha para nos auxiliar. Mas também, inúmeros(as) e incontáveis, isso agora não interessa nada! Nossa, que homem bonito! Alto, na casa dos seus quarenta, cabelo longo cor de prata, de tal forma que eu digo: "Ó miniCalamity, olha para este senhor (e nisto o pouco bom senso que me resta dita-me que não acrescente as palavras que se preparam para brotar boca fora: "que tem um cabelo tão bonito!" e então substituo-as por um disparate do género: "mostra-lhe como és crescida e já te portas bem" - ou "como já sabes contar até 10", ou "que mias como um gato", ou "que sabes cantar o raiosparta-ónoddy" ou lá o que lhe disse, que isso agora também não interessa nada).

Claro que a MiniCalamity não cooperou muito mais do que estava a cooperar com o outro rapaz e comigo antes da entrada do Técnico-de-raio-X-do-cabelo-cor-de-prata, mas a partir daí, bem que a missão podia demorar o resto da tarde... Infelizmente duas chapas depois a coisa estava resolvida. Aguardámos o resultado na "salinha de espera" e cinco minutos mais tarde regressávamos às urgências pediátricas não sem antes nos termos perdido duas vezes pelo caminho.

À porta da sala do Raio X, o técnico nº 1 despediu-se de nós e a miniCalamity lá foi, de envelope na mão, contendo as chapas que o rapaz lhe entregara. Simpática, como de costume, lançou um sonoro "Até amanhã", ao que o rapaz respondeu com uma gargalhada e pusemos os pés a caminho, a sua vozinha monologante ecoando pelo corredor vazio. Mas vinte passos à frente, não me contive: dei uma olhadela para trás ainda a tempo de ver de relance o Técnico-de-raio-X-do-cabelo-cor-de-prata entrando de novo na sua salinha. Heheheh. Ficara a ver as duas calamitosas afastar-se corredor fora.


E agora, meninas, a questão é a seguinte: dói-me aqui. E aqui e também neste sítio... exactamente aí. Ai aiai aiaiaiai. Preciso urgentemente de uma radiografia... de corpo inteiro.

PS: a miniCalamity está óptima e recomenda-se, como é evidente...