12/27/2007

É hoje!!!

Em Alcântara, Rua Prior do Crato, entre o BES e o Paraíso de Alcântara, frente ao Palácio. Chama-se Brilha Tejo e está marcado para as 20h30. Melão, Ck, Mocho, e etc, etc, estamos à espera da vossa confirmação. Digam coisas!!!

(esta mensagem autodestruir-se-á dentro de algumas horas...)

12/21/2007

Oh! Oh! Oh!

Prestes a tirar uns bem merecidos dias de semi-férias, no meio da leva de aniversários que constitui o mês de Dezembro no seio dos calamitosos - ah, pois é, inúmeros e incontáveis, a vossa Calamity fez 19 anitos (em cada perna, claro!) ensanduíchada entre o filhote que fez 10 e a filhota que faz 2 amanhã... - não quero deixar de desejar aos inúmeros e incontáveis um santo e feliz Natal e relembrar a super-farra com janta, ceia e pequeno-almoço incluídos marcada para a próxima 5ª feira, dia 27 numa cervejaria lisboeta (isto, claro, é o ponto de partida...). As inscrições estão quase quase a fechar, por isso toca a marcar os vossos lugares, dizer quantos são e bute aí córtir à grande e à lusitana. Aqui ou em calamityjanerealmente@gmail.com, tudo a cão-correr, faxavori!

12/14/2007

A revolução

Há dias fiz um teste (The Political Compass - desculpem lá mas não consegui gravar como deve ser para reproduzir aqui e repetir o teste ia demorar mais do que o que posso hoje) que encontrei no tasco da Tuxa. Destinava-se a situar-nos do ponto de vista político (esquerda/direita), económico e social. O resultado obtido indica que me situo à esquerda de Nelson Mandela e de Gandhi, num ponto para lá de qualquer juízo ou noção do mundo real. Aliás, o mais provável a seguir a esta posta é que metam numa camisa de forças e me internem compulsivamente numa unidade psiquiátrica de alta segurança.

Uma das perguntas colocadas no referido teste era qualquer coisa como "Concorda que a terra seja algo que se possa comprar e vender?". Pois bem, inúmeros e incontáveis, a verdade é que, embora sonhe com o meu quinhãozinho, onde possa um dia cultivar umas batatas e uns tomates e passar uma velhice mais tranquila, ouvindo a brisa agitar as folhas do arvoredo e observando as mudanças subtis dos tons de verde e castanho ao ritmo das estações, a resposta é "Não, não concordo". Como os índios, acredito que a terra não nos pertence. Se o sol, quando nasce é para todos, também a terra, a água, o ar e o fogo. Porque, para ser algo que se compra e vende, é porque pertence a alguém. E se pertence a alguém é porque esse alguém a comprou ou a herdou ou a roubou a outrem. E antes disso, o mesmo. E por aí afora. Mas um dia, teve de ter havido um tipo que chegou ali e disse: "Isto aqui é meu". E com que direito, pergunto eu?

Tenho andado com uma série de questões a incomodar-me o neurónio. Eu sei que a todas estas angústias não serão alheios o Inverno, os dias curtos, o frio. Mas regularmente assola-me um pensamento: a geração anterior à minha fez alguma coisa para mudar o mundo. Mesmo se deu na merda que todos sabemos. Mas ao menos, eles mexeram-se por algo em que acreditavam. Tá bem que hoje, estão quase todos sentados, acomodados. Mas, e nós??? Os que hoje têm 30, 40? O que fizémos nós? O que estamos a fazer? Que mundo é este que estamos a deixar aos nossos filhos? Não podemos fazer nada? TANGA! TANGA! TANGA!!!

O senhor Óscar Niemeyer faz 100 anos amanhã. No fim-de-semana passado deu uma entrevista ao Diário de Notícias. No final da mesma, dizia algo como:

Acredito na revolução (...) O socialismo está dentro do coração das pessoas e não acaba de um dia para o outro. A revolução na União Soviética talvez tenha sido um acidente de percurso. O que é justo é um Estado correcto amando o povo, procurando criar um clima normal, de felicidade geral (...)”

O mesmo senhor diz também que a vida é um sopro. E eu, que acredito que temos uma missão na vida, caso contrário não sei bem o que estaríamos aqui a fazer, digo-vos, inúmeros e incontáveis: se há quem chegue aos 100 anos a acreditar na revolução, no amor e na felicidade, então temos de acordar rapidamente para fazer a nossa parte. A vida é um sopro, sim. Um sopro divino que tem de nos levar onde nós temos de ir. Fazer o que temos de fazer.

É possível mudar o mundo porque eu quero.

12/07/2007

Tá tudo doido???

O Presidente do Banco Central Europeu defendeu há dias, num simpósio em Berlim o fim dos salários mínimos obrigatórios. Afirma o iluminado senhor, de seu nome Jean Claude Trichet - refira-se a título de curiosidade que 'tricher' significa em francês 'fazer batota - que os mesmos impedem a criação de postos de trabalho. Boa, senhor Trichet! Eu se fosse a si levava a coisa mais longe. Bute nessa! Inúmeros e incontáveis, o desafio é claro: vamos todos escrever à Comissão Europeia e defender o regresso da escravatura. Se formos muitos, muitos, mesmo, pode ser que a malta consiga. A bem dizer já esteve mais longe. Bem mais longe. Cerca de 5 décadas antes da Revolução Industrial...

Uma senhora cujo nome não foi divulgado resolveu doar o seu corpo Faculdade de Medicina de Coimbra. Uma bela atitude, a bem do avanço científico, penso eu de que. Ora, a referida senhora faleceu sexta-feira passada, no Instituto de Oncologia daquela bela cidade. Acontece que o referido Instituto tinha a câmara frigorífica avariada. A faculdade estava fechada e ninguém conseguiu contactar com os responsáveis da instuitição universitária. Por sua vez, o Instituto de Medicina Legal recusou-se (!!!) a guardar o corpo. Resultado: quando, na 2ª feira, chegou ao IPO o técnico da Faculdade de Medicina encarregue de recolher o dito corpo, este já não se encontrava em condições para ser usado com fins científicos. Ora! Qual é o problema???! Não dá para perceber. Lá porque o cadáver tinha três dias, não o podiam utilizar?! Estes cientistas têm cada uma! Precisavam de um corpo, não era? O corpo estava morto, certo? Então! Morto por morto, o que é que isso interessa...

O Tribunal Judicial de Vila Real resolveu 'devolver' à mãe biológica a menina Iara, de 6 anos, que vive desde os 25 dias de idade com os 'pais afectivos', a nova expressão agora em voga para designar aqueles que são pais embora não adoptivos, neste caso porque se trata de uma família chamada 'de acolhimento'. Refira-se que, quando tinha cerca de 2 anos, a menina chegou a a ser entregue pelo Tribunal de Alijó à mãe biológica, toxicodependente. Pouco tempo depois foi o próprio companheiro desta que devolveu a menina aos pais afectivos, por se aperceber da incompetência desta em cuidar da filha. Iara sabe da decisão judicial: "Fartou-se de chorar, não quis ir à escola e fez chichi nas calças"... Os pais afectivos não sabem se ainda passará o Natal com eles, já que poderá ser retirada à família de acolhimento a qualquer momento. O motivo de tão nobre decisão prende-se com a alegada recuperação da mulher que há seis anos a deu à luz.
Eh pá malta, esta nem sequer consigo comentar.

Só vos digo, inúmeros e incontáveis.
Ponham-se a pau.
Lembrem-se daquele poema de Berthold Brecht:

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso,
também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.



Inúmeros e incontáveis: desejais que continue esta minha leitura dos jornais da semana?

PS: As inscrições para a janta continuam abertas...

12/05/2007

Todos à janta interbloggers de 27 de Dezembro

Vai ser em Lisboa.
Vai ser muita louco.
Vamos ser mais cás mães.
Vão inúmeros e incontáveis amigos do 'Nada...' mas a janta foi ideia da Chiqui (amanhã linko-a assim como a outros dos inúmeros e incontáveis já confirmados e por confirmar a ver se se decidem rapidamente) e eu sei que ela não se vai importar que eu estenda o convite a todos os inúmeros e incontáveis. Aliás, qualquer inúmero e incontável da Chiqui é um inúmero e incontável meu e se ela concordar, o vice-versa também é válido.

Desculpem se fui confusa mas estou quase a fazer tilt, de modos que vou já pra casa jantar com os putos que é coisa que não faço há mais de três quinze dias. Ah pois é.

Mais pormenores amanhã. Estão abertas as inscrições

11/29/2007

FMI (Foi Muito Intenso) ou mais uma Crónica da Outra Vida

Foi em 1981. Eu tinha 11 anos. Tento em vão que o meu cérebro digira esta realidade assustadora. Passaram 26 anos. Não diria que parece que foi ontem. Mas anteontem, certamente. Quando me lembro ainda me arrepio. Claro que a possibilidade de ouvir a gravação (daquilo de que estou a falar, claro) permite refrescar a memória das células. Embora conste que já não são as mesmas. Mas isso é outro assunto. Portanto, adiante.
Foi, pois, em 81. Aqui mesmo ao lado, no Teatro Aberto, na Praça de Espanha. O dito teatro não ficava, como hoje, na Avenida Gulbenkian, como quem vai para a Av. de Berna, mas antes do outro lado da praça, como quem seguisse em direcção ao Hospital de Santa Maria. Isso agora também não interessa nada, como diria a Teresa Guilherme, mas os inúmeros e incontáveis já sabem como sou e o quanto gosto de me perder em pormenores, tipo janela barroca e o que vale é que depois a janela abre e fecha e veda na mesma, e dá para uma qualquer paisagem e, a bem dizer, podia dar-me para pior, que era esquecer-me ao que ia, ou neste caso vinha.
Os meus pais sempre me levaram para estas coisas, e diga-se de passagem que era mais por influência do meu pai que da minha mãe.Tratava-me como se eu fosse mais crescida do que na realidade era e agradeço-lhe o ter-me assim proporcionado momentos que trago comigo, agarrados à pele e aos ossos e que fazem parte de mim, indissociáveis do que sou, ou pelo menos julgo ser... Naquela noite, o programa era o espectáculo do José Mário Branco. 'SerSolid(t)ário'. Não era imensa, a audiência, que o teatro não levava uma multidão. Mas era suficiente para encher a sala e formar um todo,do qual se desprendia sopro, consistência, vibração. E sei que, apesar dos meus 11 anos, aquilo que senti a determinada altura não foi exclusivo meu, da minha ingenuidade, da inocência que trazia, muito inferior, diga-se, à de muitos 11 anos que por aí vejo. Não sei se feliz, se infelizmente, mas também isso são outros assuntos, e tantos haveria para trazer ao 'Nada...'...
E 'às páginas tantas', diz assim o Zé Mário: "Vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não seja muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam já não ser muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto. Chama-se FMI.Quer dizer: Fundo Monetário Internacional. Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos... É o internacionalismo monetário..."
E foi assim que assisti à primeira (e única??) apresentação (demorei um pouco a achar esta palavra e, embora não me pareça a ideal para definir o que foi 'aquilo', talvez seja a única que eu consiga achar neste momento, por isso aqui ficará a não ser que entretanto me surja outra mais adequada...) ao vivo desse texto e até hoje, a cada vez que me lembro, sinto-me grata. E muitas outras coisas, mas não sou menina para repetir adjectivos, apesar do meu já bem conhecido pendor para o alongamento verbal. E sei que, naqueles longos minutos, as confusas e variadas emoções que emergiram no meu ser foram de uma intensidade brutal e inesquecível. Sei também que algumas delas foram partilhadas com a restante plateia. O às tantas não saber se o homem 'se tinha passado' (nessa altura não se usava tal expressão), e se aquilo faria mesmo parte do que estava previsto. O sentir que estava ali a mais, frente a um homem com idade para ser meu pai que se estava a 'desmanchar' diante de 300 pessoas, para lá de todo o pudor, de toda a contenção. O riso e o espanto. A desmesura.

Ando há dias com este poema fabuloso no ouvido. Passaram 26 anos(!!!). 28 desde que foi escrito. Mas mudássemos-lhe nomes e pormenores e poderia ter sido escrito ontem. Anteontem. Amanhã.

Inúmeros e incontáveis. Se não conheceis, lede. E ouvide. Se não conheceis, idem. (Espero que esteja em óptimas condições. Não tive ocasião de ouvir tudo, que ainda me punham na rua por acto subversivo no local de trabalho. E já se se sabe, o precariado tem de manter low profile. Very, very low...)

Acrescento: Ando a cozinhar esta posta há uma semana. E o FMI às voltas na minha cabeça. Sempre e sempre. Mas da posta perdeu-se muita coisa pelo caminho. Vou-me lembrando, à medida que leio e releio o texto, que tem algumas imprecisões em relação à gravação. Pedaços que tomam um significado cada vez maior. Como: "(...) Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!"(...). Passaram 26 anos que o ouvi despejar isto. 28 que ele o escreveu. E hoje, quem tem 37 anos sou eu. E nunca como hoje senti este texto tão meu.

11/23/2007

Será um sinal?

Abri o tasco. Marcava 8888 visitas. Merece uma posta, pensei eu. Abro o blogger. Posta nº 111.
É do caraças, não acham, inúmeros e incontáveis?

Volto o mais breve possível, com assuntos menos comezinhos. Penso eu de que.

Ah! Gosto muito de vocês. Eu sei que estas coisas não se agradecem, mas o vosso carinho enche-me de calor e de luz :-)

11/15/2007

Nada

Sinto-me vazia. Sem assunto para escrever e de palavras gastas. Acabei de terminar mais uma correria de vários dias a cortar, colar, trocar, esticar e encolher vocábulos sobre questões alheias. À minha vontade e ao meu interesse. Não conseguir alinhar dois parágrafos dos quais sinta orgulho. Esperar por gente que se atrasa e não poder ir embora. Não poder fazer o mesmo sob pena de não esperarem por mim. Estar com os miúdos meia-hora por dia. Procurar em vão um par de meias no armário. Uma camisola que combine com a t-shirt e que aqueça na rua. Uma t-shirt que não destoe das calças e suficientemente fresca para os 30 graus da redacção. Umas calças que não pareçam ter sido adquiridas em 1983. Conseguir chegar a casa antes das dez da noite e sentir que não estou a fazer ali nada. Estar só no meio da multidão. Não pertencer a lugar algum. Ter saudades do futuro. Ansiar pelo que nunca tive e lamentar o que deixei para trás. Desejar outra coisa. Desejar desejar. Querer querer. Querer mais. Querer menos. Querer sair. Viajar. Conhecer. Querer entrar. Dormir. Acordar. Dormir. O inverno está a chegar e sinto-me vazia.

11/07/2007

Continuando em maré de intervalo

... e como continuo sem tempo para me alongar em assuntos mais sérios, os quais, porém (gostaram do porém? digam lá os inúmeros e incontáveis se não ficou aqui simplesmente uindo, sim, leram bem, eu escrevi uindo!!!) tenciono esmiuçar numa posta futura e espero que breve, aqui fica uma deliciosa posta de outrem que descobri quando fazia uma pesquisa com intuitos laborais (já viram o quão eloquente estou hoje? hein??? é pena não aproveitar a maré, mas já estou aqui a esticar-me, imaginem então se me largo aqui a falar de coisas realmente graves - e podem crer que os temas que pretendo tratar a curto trecho [mais uma expressão de fino recorte - já repararam que estou aqui num parêntesis entre travessões que já se encontravam entre parêntesis?!!! rachpartam a rapariga que não há meio de evitar dispersar-se a propósito de tudo e de nada - portanto agora vou fechar esta catrefada de àpartes interessantíssimos] este já está e agora mais este - e por fim...) Ufa. Prontos. O melhor é observar aqui um piqueno parágrafo.
Já está.
Dizia eu que descobri esta posta enquanto pesquisava e vou parar por aqui esta verborreia que, como toda a gente sabe - e os meus inúmeros e incontáveis ainda melhor, já que são pessoas de uma cultura tremenda (sim, tremenda, bláblábláblábláblá) - , é uma diarreia verbal, e deixar aqui o link para que os inúmeros e incontáveis possam ler com os próprios olhos e, quiçá, esboçar um sorriso como eu esbocei...

Posta engraçada descoberta em blog até agora desconhecido mas que desconfio valer a pena ir dando um olho... Meus amigos, que é como quem diz, inúmeros e incontáveis, é caso para dizer:

fisga-se! ou o que mais vos aprouver

Já agora lanço o desafio: bora lá arranjar (e enumerar aqui) mais expressões idiotas que as pessoas usam para substituir os palavrões, vulgo asneiras, vocábulos tão saborosos que não compreendo por que motivo a malta não os há de pronunciar com todas as letras.
E mais digo (heheheh!): bute inventar novos palavrões, que os que existem, como referi em posta relativamente recente, pura e simplesmente não chegam!

11/06/2007

Não era nada disto

Havia vários assuntos para várias postas, mas acontece que, para variar NÃO TENHO TEMPO, portanto, para já, vou partilhar convosco este GUIA PRÁTICO DA CIÊNCIA MODERNA que recebi por e-mílio. Além disso, os assuntos não eram propriamente divertidos e às vezes convém, como dizem os nossos irmãos brasileiros - que, por sinal, assinam as linhas que se seguem - , aligérar a coisa...

Aqui vai, pois, o Guia Prático da Ciência Moderna, de autor desconhecido, mas definitivamente brasileiro

1. Se mexer, pertence à biologia.
2. Se feder, pertence à química.
3. Se não funciona, pertence à física.
4. Se ninguém entende, é matemática.
5. Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

LEI DA PROCURA INDIRETA
1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

LEI DA TELEFONIA.
1. Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.

Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA.
Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você. >

LEI DA GRAVIDADE.
Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS.
80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu.

LEI DA QUEDA LIVRE.
1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS.
A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.

LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA.
Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

LEI DO ESPARADRAPO.
Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

LEI DA VIDA.
1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.

LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS.
Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

11/01/2007

Saudades da blogosfera (Parte 3 e não sei se acabou ou não)

Cada vez estava mais agarrada, mas, paradoxalmente, cada vez tinha menos tempo para alimentar o blog. O Nada começou a tornar-se um bicho, sedento de posts e eu a ressacar literalmente. Preciso de vir aqui, escrever como quem vomita, despejar as litradas que não bebo. Mas ao mesmo tempo dói-me. Precisamente porque perdi o pudor. Porque o blog é o único veículo da escrita que, estranhamente, me despe de bloqueios, de receios. Nem os inúmeros e incontáveis com rosto e cheiro, mulheres e homens me travaram. Cheguei ao ponto de revelar a existência do Nada a pessoas a quem nunca mostrei uma linha de poesia. Ou de prosa. Minha, digo. Coisas que tivesse escrito para além das encomendas do trabalho. Sem medo, sem vergonha. Como se isto tivesse deixado de me pertencer. Porque a verdade é que me exponho aqui como raramente o fiz. Um escarrapachanço completo. De modos que este tasco me provoca sentimentos ambivalentes, tipo: quero cá vir, quero postar mais e ao mesmo tempo fujo disto, fujo de mim mesma. Porque isto cada vez exige mais de mim. Não são vocês, inúmeros e incontáveis. (A propósito, ó Melongue, a questão não é quantas palavras vocês conseguem ler. A questão é quantos minutos consigo roubar ao rachtaparta do trabalho que cada vez me absorve mais, que me está literalmente a engolir e eu sem saber como escapar...). Não, não são vocês. Sou eu, é ela, a Calamity. É o Nada. Criei um monstro.
E tenho saudades. Saudades daqueles primeiros tempos, tempos de inocência, a infância da blogosfera, se é que posso designá-la desta forma. Eu sei que, para muitos, aquilo que para mim foi o início já era um período bem avançado. Havia blogs com nome. Com história. Com passado. Com memória. Com milhares de visitas e comentários.
Mas o que recordo com nostalgia foram aqueles 2, 3 meses, que pareciam o período de lua de mel dos adictos. Em que não descansava enquanto não viesse aqui, a este espaço de encontro, e ao mesmo tempo de solidão. E agora parece que isto nunca me satisfaz. Uma droga, tal e qual uma droga. Passo a semana inteira a tentar arranjar um bocadinho para isto mas tudo o que penso pôr aqui não ponho. Ou ponho, mas não chega. Tivesse eu o dia inteiro, não seria o suficiente. Tivesse eu os dias inteiros. Já não sei se gosto disto ou não. Mas que tenho saudades, tenho

A escrita é bela mas dói. A vida é bela mas dói. Será que arde porque cura, a escrita? Ou irá doer sempre tanto, cada vez mais e eu sem nada poder fazer que não seja continuar???

10/29/2007

Saudades da Blogosfera (parte 2 e ainda não última - sorry!!!)

Aquilo dizia-me tanto, era-me tudo tão familiar. Impossível não comentar, não dizer allô, eu estou aqui, sou tua amiga, tua irmã. Disse-lhe. Ela respondeu-me. Foi ela, a responsável por eu ter voltado ao Nada. Por ter feito um novo início. Por ter assumido a personalidade da Calamity.
Depois, vieram a Carla, a Estrelinha, a Loira. Todas como bizarras, divertidas e sedutoras extensões de mim própria. Devagarinho, primeiro. Como que a medo. O desflorar tímido de novos territórios. O descobrir cauteloso do outro - da outra, neste caso. O feedback despontava, empático, hilariante, bombástico, avassalador. A Zuza, a Frenética, a Sandra J, a Rute. A CK. A Azulinha. Gaijas, gaijas. Desculpem se me esqueço de alguma. A ideia nem é ser exaustiva. Foram momentos excitantes, delirantes. Todos os dias, horas na PC da minha mãe, eu sempre sem net em casa. Bebé no berço. Bebé nos braços. Bebé a mamar e eu a blogar. A emoção de postar e esperar pelos comentários. De sair de blog em blog à descoberta do que tinham elas inventado para hoje. de comentar e comentar os comentários. O que iam elas responder? Iriam elas gostar? Os primeiros encontros. O perceber que não era engano aquela sensação de conhecer mesmo as pessoas. O prazer de conseguir ainda surpreender-me com elas. E outra vez o receio de postar, pois agora já as conhecia. Já tinham rosto. Já sabiam o meu verdadeiro nome, o meu nº de telefone. Mas era irreversível. O Nada tinha ganho vida própria. A Calamity tornou-se quase maior que eu. Mais corajosa, pelo menos. Porque se expõe de uma forma que eu nunca teria ousado. Nunca ousei. Alguma vez ousarei?
Com quatro meninas que tinham ainda mais pontos em comum comigo do que as outras todas - por afinidades do coração, da cabeça e de ganha-pão, o que acaba por unir mais as pessoas do que se possa julgar - formou-se uma Estrela de 5 pontas, uma Estrela de Estrelas que brilhou e aqueceu os nossos corações para lá da blogosfera, para lá dos pequenos-almoços em tom de 'O Sexo e a Cidade' versão lisboeta com menos sexo, menos cidade, mas mais projectos, efervescência barulhenta e louca, que acabava sempre muito antes de ter começado a render coisa que se pudesse aproveitar realmente. Brainstormings frutuosos mas a pedir mais, a exigir sempre mais e nós a ter que ir, chamadas pelos filhos, pelos gaijos, pelo trabalho, o trabalho, o trabalho, o trabalho. Uma das pontinhas fazia-se sentir à distância, mas a presença dela era tão, mas tão forte que sinto desde então que ela sempre esteve lá. Até hoje, não lhe senti a consistência do abraço, mas conheço-lhe a composição da matéria. Verdadeira poeira de estrela. Luz capaz de trespassar a distância e a escuridão.

Mais à frente apareceram os primeiros gaijos. Um embate - aguardado mas temido . Enquanto as coisas se mantêm no âmbito estritamente feminino, tudo é permitido. Entre mulheres vai-se à casa de banho e, se não fomos à depilação, tudo bem. Elas entendem. Agora tirar as calças sem ter tratado do contorno do bikini é coisa que não se faz em qualquer praia. Estranhamente, a entrada dos homens no Nada não me bloqueou. Nem mesmo depois de, pelo menos um deles passar a ter rosto, nome, cheiro (como ele próprio referiu) e nº de telemóvel.

(continua)
P.S. Desculpem-me os inúmeros e incontáveis, mas o dever chama-me. Não se trata absolutamente de uma estratégia de marketing - se bem que até é capaz de funcionar... heheheh! Volto assim que puder, ok?

10/26/2007

Saudades da blogosfera

Como todas as paixões, esta foi nascendo sem que me apercebesse bem do que estava a acontecer. Foi-se insinuando, crescendo, ganhando espaço e, quando dei por mim, estava apanhada. Literalmente enredada. Começou por ser um mundo fascinante, mas que eu visitava como outsider, uma curiosa que não ousava imiscuir-se num meio a que não pertencia. Tipo penetra numa festa para a qual não tinha sido convidada.

Um dia, ganhei coragem, e, com a ajuda do gaijo que vive lá em casa - como dizia uma saudosa blogueira dissidente da nossa praça - , criei o meu tasco. Na altura não conhecia ainda os babyblogs nem os fotoblogs ou os musicblogs, nem os blogs de gaijas, de gaijos, de sexo, de comida, de livros, de escovas de dentes, de guarda-chuvas, de escárnio ou maldizer. Mas sabia que escrever era a minha vida, uma necessidade quase visceral, e que um blog era um espaço só meu, no qual podia ser a minha própria editora, escolher o assunto, a linguagem e a dimensão dos textos, parvejar, praguejar e divagar ou depressa, ir onde bem entendesse e até corria o risco de... ser lida.

(Sim, inúmeros e incontáveis, não me venham com tangas. Se a malta escreve, não é para si própria - eu, pelo menos, não acredito nisso. O mais solitário dos escritores, o que guarda os poemas e romances na gaveta e não diz a ninguém que os tem, se esconde para sacar da pena e do caderninho e dá ares de não saber alinhar duas palavras seguidas sonha secretamente com o Nobel da literatura. Ainda que afirme aos quatro ventos que o faz para se entreter, de si para consigo, como hobbie, como disciplina, em jeito de registo, pela necessidade de uma companhia e trinta por uma linha, tenho para mim - quem é que no outro dia confessava ter um fraquinho por esta expressão e andar há tempos à procura de uma ocasião para a utilizar? Se calhar era eu própria, perdoem-me os inúmeros e incontáveis, mas esta cabecinha já trabalhou melhor, ai já já... -que o faz na esperança secreta que os escritos sejam desencantados por alguém, publicados e revelados ao mundo ainda em tempo útil, que é como diz, de preferência antes ter retornado ao estado de pó e condenado à imaterialidade eterna. Pois criticai-me e - quiçá? - condenai-me até, à vontadinha que eu cá não vou nesses grupos do escritor autista que escreve apenas para si próprio. Todos escrevemos para alguém.)

E portantos, dizia eu de que, quando criei o tasco, o fiz com o duplo intuito de alcançar a liberdade editorial e de ter quem me lesse - que na altura não tinha emprego nem trabalho na minha área e, mesmo que o tivesse, debatia-me com uma dúvida existencial de peso, pelo menos para mim: se acaso eu tinha quem me lesse, o que pensariam esses 4 leitores? Além dos meus pais e um ou outro amigo mais entusiasta, desde os tempos da escola era assolada pelo deserto angustiante constituído pela total ausência de feedback em relação aos meus escritos. Há que confessar porém que esta necessidade sempre foi paradoxal, pois nos ditos tempos da escola não havia nada que me constrangesse mais do que ser lida em voz alta frente à turma inteira, ou, pior ainda, solicitada para ser eu a ler uma redacção perante toda a gente. Nó na garganta, lágrima embargada, embaraço total - nem quero lembrar-me...

Mais tarde, como raramente mostrava a quem quer que fosse o que quer que escrevesse - sim, porque eu desejava ter leitores, mas era limitada por um imenso pudor, um pudor tão desmesurado que me levava a guardar tudo na gaveta e a nada mostrar, a não ser aquilo que fosse publicado (nos tempos em que tinha trabalho como jornalista ou nas raras vezes em que me decidi a enviar escritos para aquelas secções dos jornais dedicadas aos jovens com aspirações a escribas) - e que eu desejava secretamente que ninguém das minhas proximidades lesse, não fosse gostar, ou não gostar, não fosse eu ser confrontada com qualquer manifestação em relação a uma linha que fosse por mim produzida - mantinha baixas, baixíssimas as probabilidades de obter retorno. Claro que, no meu íntimo, eu sabia que, quanto menos pessoal fosse o texto, menos embaraço me causava mostrá-lo. Mas aí, também, o interesse no feedback que este pudesse provocar diminuía proporcionalmente. No limite, se eu escrevesse um poema, só teria coragem de o publicar sob pseudónimo, não fosse alguém descobrir que era meu antes, pelo menos, da total consagração. Paradoxal, eu sei, mas ainda assim autêntico.

Bom, mas, como de costume, deixei a coisa fugir para a estratosfera.
Falava então de quando resolvi criar o Nada Como Realmente, ainda na versão antiga, sem layout webdisaster, e também sem um único dos inúmeros e incontáveis. Postei duas ou três vezes, não tive qualquer comentário e durante um ano - que correspondeu com a minha gravidez da miniCalamity - nunca mais regressei. Foi durante esse tempo que descobri como funcionava a coisa, e simultaneamente que, pela primeira vez, me apercebi de que existiam várias blogosferas, uma das quais recheadas de recém-mamãs e mamãs to be, as quais escreviam sobre as suas experiências e trocavam galhardetes, conselhos e miminhos. Curiosamente, talvez porque tivesse tropeçado nos babyblogs por motivos de trabalho, não me atrevi durante muito tempo a pronunciar-me, embora tudo aquilo me dissesse imenso respeito, já que era mãe de um filho, me preparava para sê-lo de uma menina, e que tenho a mania de meter o nariz em tudo. Mas, mesmo assim, mantive-me em quase-silêncio embora visitasse diariamente vários babyblogs nos quais comentei talvez três ou quatro vezes, apesar de nunca o ter feito como blogger.

Um dia, porém, não me contive. Estávamos em Março do ano passado. A miniCalamity tinha uns dois ou três meses. O blog que eu mais frequentava era o da Mãe Trintinha, provavelmente alguns dos inúmeros e incontáveis se lembram. Um comentário de uma tal Horas Vagas chamou-me a atenção. Fui ver. Li o blog do princípio ao fim.

(continua)

10/12/2007

Buacos e buaquinhos, fuínhos e crateras

Ia hoje no autocarro quando tive uma visão do inferno. Felizmente existem os blogs qu'é prà malta exorcizar estas coisas, qu'ó senão ficam aqui dentro a modos qu'a torturar a malta por dentro e ós pois a malta nã consegue concentrar-se noutras coisas que não seja no rachataparta da imagem que ficou a trabalhar-nos a mioleira, ó cum catano...
Mas ia eu no autocarro, que, como vós, inúmeros e incontáveis bem sabeis, é local propício à observação científica do bicho-homem nas suas diversas manifestações, especificidades e bizarrias. O espécimen ia mesmo à minha frente, o que me permitia contemplá-lo nos seus vários ângulos, à medida que ele fixava o horizonte ou espreitava alternadamente à esquerda e à direita.
E, inúmeros e incontáveis, que deuxnoxenhor me perdoie, mas às vezes, acho que debia d'haber assim a modos qu'uma autoridade que pusesse alguma ordem nisto, qu'a malta precisa, pra poder trabalhar no dia-a-dia, de alguma tranquilidade e até diria serenidade de espírito e assim, inúmeros e incontáveis, desculpai-me lá o desabafo, mas definitivamente assim não há condições e sobretudo, num habia nexedidadejejeje.
Eu cá devia ter uns 15 anitos quando furei a orelha direita, e foi um furinho maneirinho e óspois passadas umas duas semanas apercebi-me de que a malta quando olhava pra mim, via-me de forma diferente daquilo que eu me via no espelho, ou seja, o meu lado direito passava pró lado esquerdo e versa-vice, isto é, a bem dizer tinha-me enganado e o que eu queria furar era a orelha esquerda e vai daí, pimba, fui à ourivesaria, que era onde naquele tempo a malta furava as orelhas, que naquele tempo a bem dizer, ainda não havia destas modernices de furar narizes e umbigos e outras partes qu'o pudor não me deixa designar aqui neste espaço de total recato e fui então à ourivesaria e vai daí, pimba, furei a outra orelha. Vai daí uns meses ou, vá lá, um anito depois, como eu gostava muito de usar brincos e tinha muitos e andava naquela onda de ser diferente e apreciava uma certa assimetria que associava à criação de uma imagem de rebeldia e originalidade e vai daí, pimba, fiz mais um furito, se não me engano outra vez na orelha direita, mas isso agora não interessa nada. Isto era só pra dizer que me fiquei por aí em matéria de autoperfuração, mas desenganai-vos, inúmeros e incontáveis, se julgais que tenho algum preconceito em relação aos piercings. O meu sentir em relação a tão fascinante e mui nobre assunto de divagação é tão-somente que, aqui como noutros lugares, há - ou deveria haver - um certo sentido estético na arte de bem furar e que há visões que, por assim dizer, ofendem a minha noção de belo e, ouso até dizê-lo, me deixam a pensar que, por vezes, deveria haver mais cuidado com a vista das pessoas que nos rodeiam. Quer dizer, há criancinhas, há velhotes, há pessoas que sofrem do coração e eu não desejaria ser responsável por nenhum enfarte do miocárdio. Nunca esquecerei o susto que preguei à minha velhinha tia-avó, no dia em que a senhora avistou o piqueno espermatozóide que eu usava na orelha esquerda e julgou que eu trazia ali um bicho. Nem a gargalhada singela, franca e aliviada que largou, ao compreender que se tratava afinal de um inofensivo e prateado brinco...
Pois eu gosto de ver um nariz bonito ornamentado de um discreto brilhante ou até uma sobrancelha arvorando uma argola de prata. Admito, embora não lhe entenda o atractivo, que certas pessoas se excitem com o uso de jóias nos mamilos, clitoris e até testículos e pénises (sim, sim, inúmeros e incontáveis, lestes bem, pénises). Agora desculpai-me, mas quem irá suavizar aquela visão do inferno que consiste em avistar de ambos os lados de uma cabeça humana, e no lugar onde deveriam estar dois lóbulos de orelha, pedacitos de carne que, em caso normal não mais medem do que escassa dezena de milímetros de diâmetro, um buraco, perdão, uma cratera na qual se conseguiria fazer passar deixando larga margem uma moeda de dez escudos das antigas??? Digai-me, inúmeros e incontáveis, haveria lá nexexidadejejejeje??? E agora? Que vou eu fazer? hein? Como irei eu esquecer??? Poderia jurar que, espreitando por tal orifício, consegui a determinada altura um grande plano de excelente legibilidade da totalidade da manchete, vulgo parangona desse grande monumento à discrição e à letrinha miudinha que dá pelo nome de 24 horas. E quem o lia seguia dois lugares à frente...

PS - qu'é como quem diz Posta Escrita, qu'é como quem diz Lasta mas não Lista: Dedico esta posta à linda Azulinha. Ela sabe porquê...

9/26/2007

E mais retrocessos

(aviso à navegação: esta posta contém expressões eventualmente chocantes)

Há muitos, muitos anos, andava eu no liceu e tinha um professor de uma disciplina chamada "Ciências Económicas e Sociais" que me ensinou muito do que eu sei hoje. Entre outras coisas, que aquilo a que chamamos actualmente "Economia" não é uma ciência exacta, mas antes faz parte das chamadas ciências sociais e humanas. Mas isso, para não variar do meu hábito de estar sempre a desviar do assunto, não é o que me traz aqui agora, embora desse certamente um muito bom tema para uma posta.
O meu prof, que me iniciou, assim como a muitos dos meus colegas da altura, às bases do pensamento contemporâneo, às raízes do sistema capitalista e, por assim dizer, ao hábito que ainda hoje tenho de tudo relacionar, que me permite, acho eu, ter uma visão mais ou menos lúcida e global do mundo, falava com frequência nos filósofos John Locke e Thomas Hobbes, contrapondo o pensamento deste último com o de Rousseau - o Jean-Jacques - , que era de opinião que o Homem é naturalmente bom. À época, com a ingenuidade própria dos meus 14 ou 15 anos, eu alinhava pelo pensamento deste último e achava que o Hobbes devia ser um tipo muito pessimista e até algo cínico ao afirmar com tanta frieza que "Homo homini lupus", ou seja, que o homem é um lobo para si próprio. Isto, no sentido da maldade do ser humano, do facto de este se constituir em predador da sua própria espécie - e não para responder a necessidades imediatas e vitais como a alimentação.
Pois hoje vejo-me forçada a aceitar que Hobbes não se enganou, o que é deveras preocupante, uma vez que passaram cerca de quinhentos anos sobre os escritos de tal personagem, o qual desenvolvia a teoria de vivermos num estado de "guerra de todos contra todos".

Foda-se. Eu sei, inúmeros e incontáveis. Estou cada vez pior. Só digo ordinarices e com frequência crescente, mas nem sequer me apetece controlar esta minha ânsia de escrever palavrões por extenso, saboreando cada sílaba, cada letrinha, e só tenho pena que a nossa língua, noutra áreas tão rica, seja tão parca nestas palavritas - pois, além do mais, elas são pequenitas: deviam ter todas pelo menos quatro ou cinco sílabas, que era para permitirem alguma satisfação, que é, afinal do contas, o objectivo da sua existência. Foda-se, portanto. Fo-da-se. F-O-D-A-S-EEEEEEEE. - Foda-se, dizia eu. Que merda de país este. Que merda de mundo este. É melhor ficar com raiva. Com ódio. Com nojo. Berrar. Mijar. Vomitar. Porque a alternativa é chorar. A dor. A dor a dor a dor a dor a dor a dor. A dor a dor a dor a dor a dor a dor. A dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor. Um dia quis começar a escrever um livro. O livro que ia revelar uma grande escritora ao mundo. A grande obra. Aquela que trago há tanto tempo guardada dentro de mim. E então comecei (Pois não é isto que custa sempre tanto: começar?..). E foi isto que escrevi:
A dor. A dor a dor a dor a dor a dor a dor. A dor a dor a dor a dor a dor a dor. A dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor. Parecia o lunático representado por Jack Nicholson naquele filme, "The Shining".
Não, inúmeros e incontáveis. A vossa Calamity ainda não se passou. Por completo, digo. Foi só de ver o noticiário à hora do almoço. A Esmeralda. A Sara. A Maddie. Foda-se, que não dá. Não dá, não dá pra aguentar mais esta merda do caralho da porra de asco nojento de bosta de cagalhão de esgoto podre javardo e obnóxio (esta última porque, de tão feia, parece um palavrão). Vêem? Não há palavrões que nos aliviem. Não há. Uma pessoa vê-se obrigada a usar vocábulos esquisitos e mesmo assim não funciona.
A Esmeralda. A Sara. A Maddie. E a Joana. E o Daniel. E a Vanessa. O que é esta merda?????!!!!! O que é isto????!!!! Eu sou mãe, porra!!!! Devo deixar de ligar a televisão? Devo emigrar? Mudar de profissão? Será que alguma destas soluções o seria? Será que iria deixar de doer? Doer um pouco menos? Aligeirar o medo que sinto por mim, pelos meus filhos, pelos filhos que eles terão um dia? E será que eles vão querer tê-los? Ou irão eles renunciar ao desígnio da paternidade por terror, por pavor deste mundo que herdámos e lhes deixamos de herança. Do qual não temos culpa, talvez, mas pelo qual somos todos responsáveis. O que havemos de fazer??? O que hei de fazer???

Há quase um século, um poeta português (Augusto Gil, acho eu) exprimia assim o desalento: (Praticamente cem anos volvidos continua tudo na mesma. Na mesma?)

(...)
Mas as crianças, Senhor
Porque lhes dais tanta dor?
Porque padecem assim?

E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação,
Entra em mim, fica em mim presa...

9/25/2007

Retrocessos

Olha que giro! Esta é a posta nº 100! Que títalo mais sugestivo... nada como realmente, não é, ó Inúmeros e Incontáveis?!...

Porque será que, cada vez mais, tenho a sensação de que o país está a andar para trás e não para a frente?
Os exemplos são inúmeros e variados. Cobrem as mais diversas áreas de actividade e, mesmo em termos culturais, é muito discutível que o nível geral esteja mais elevado. Sim, o analfabetismo baixou desde 1974. É um facto. Mas será que não foi à custa de um iletrismo crescente? É que, pelo que vejo, ouço e leio...
Mas dizia eu que vejo esta coisa a que chamamos Portugal a retroceder dia após dia, e isto, perante a complacência impávida e serena das várias gerações que deveriam berrar e estrabuchar, cada vez mais alto, e impedir o caminhar lento mas inexorável desta tanga pró cadafalso. Alguns dados soltos para ilustrar este meu pensamento:

- Simplex? Sim quê? Onde? Como? Excuso de desenvolver, não excuso?

- O novo Estatuto do Jornalista. Uma lei bacoca e fascizante, que o próprio Cavaco vetou. Será preciso explicar mais? Já só falta mesmo vir a comissão do lápis lazuli tratar-nos da saúde aos textos, conteúdos e - horror dos horrores! - opiniões que possam estar manifestas ou implícitas, já que - toda a gente sabe - , se há coisa absolutamente proíbida a um jornalista, seja ele assalariado ou, sobretudo, "independente" (este também um conceito deveras sui generis nos dias que correm e no país que temos), é ter e manifestar uma opinião, sobretudo se esta for contra a corrente - leia-se, contra quem manda nela, ou seja os grandes grupos económicos donos das empresas "jornalísticas", que é como quem diz o governo, que é como quem diz esta merda vai toda dar ao mesmo e como diziam uns gaijos que em tempos tiveram alguma piada mas depois foram para o parlamento, "só mudam as moscas", isto é quando o senhor Marques Mendes ou o seu concorrente Menezes se tornarem primeiros-ministros a malta vai continuar a rir-se a bom rir, mas adiante, ou onde é que eu ia, que já tou com as ideias trocadas, ai, balha-me deuj noxenhore...

- E já que falamos em "novo", falemos então no tal "Novo Código de Processo Penal" - é assim que se diz, não é?
Quer-se dizer. Esta gente, em vez de trabalhar comàs pessoas, e fazer com que os processos decorram um bocadichinho mais depressa, que é pró bacanos que enchem as nossas cadeias serem julgados em tempo útil e para que não passem anos esquecidos a apodrecer em prisão preventiva, não!, vá de alterar a lei e sacar cá pra fora figuras de filme de terror como o padrasto do Daniel, que, francamente, e apesar de eu ser rigorosamente CONTRA os julgamentos populares - e linchamentos e outros que tais terminados em mentos, à excepção talvez dos jumentos, uns gajos porreiros nos dias que correm -, só merecia que lhe tivessem enfiado UMA VASSOURA DE PREGOS pelo ânus acima até que lhe saísse pela boca.
Isto, enfim, para não mencionar outros que deviam lá estar mas, não só não estão, como ocupam lugares de relevo na nossa sociedade e passeiam-se nos seus carros de luxo, deitam-se nas camas dos hotéis de luxo que licenciaram a troco de sabe-se lá que favores em paisagens que outrora foram protegidas e agora estão fodidas, desculpem lá os inúmeros e incontáveis a frieza do verbo mas a bem dizer esta cena já viu melhores dias ou então é da minha vista que me entrou um cisco pró olho, a bem dizer...

- E só porque esta posta já vai longa e não me pagam pra publicar mensagens subversivas na internet, aliás, não me pagam pra muitas outras coisas e o que pagam mal dá pró gasto, mas isso são outros assuntos e a posta já vai longa e eu já me estou a repetir (não liguem, ó inúmeros e incontáveis, está a dar-me um daqueles meus ataques ou achaques ou lá o que é), só porque não dá agora pra continuar, que eu, a bem dizer, era capaz de continuar a achar exemplos de como esta merda vai de mal a pior até pelo menos ao próximo dia 17 de outubro, isto se continuasse a escrever non-stop, e só porque depois ia precisar de comer qualquer coisinha, tomar um duche e mudar de roupa, dizia eu então que só pra terminar esta posta ia agora falar de um assunto assim a modos que mai levezinho mas não menos ilustrativo do quão para trás isto anda e não prà frente como seria normal, expectável e, quiçá?, desejável.

Quiseram o destino e os meandros desta insondável existência que eu mandasse umas larachas a troco de uns miserentos trocos numa universidade privada cujo nome não mencionarei mas que se gaba de ter um corpo docente valioso embora não seja capaz de o pagar a tempo e horas, aliás, capaz será, mas encaixam-se muitos milhares de euros por mês retendo os salários de várias centenas de professores durante cerca de doze dias por mês (e os respectivos subsídios de férias e Natal ao longo de seis meses - seis!) e lá estou eu outra vez com o meu mau feitio e sempre a desviar-me do assunto, ora desculpem lá os inúmeros e incontáveis mas isto é a minha incorrigível língua de trapos...
Dizia eu pois que a dita-cuja universidade me faz o favor de pagar tardiamente uns tustos a troco de eu partilhar algum do meu parco saber com umas criaturas por quem os respectivos pais desembolsam fortunas consideráveis a fim de lhes garantir um futuro deveras incerto enquanto elas - as criaturas - se passeiam em jeeps de luxo que nem nos meus sonhos mais atrevidos eu conduzirei um dia e emborcam cervejas e fumam cigarros no bar da faculdade e depois não sabem que "dever" é um verbo transitivo e também não percebem que um trabalho universitário se redige em Português e não se assemelha a nenhuma sms nem a um conjunto das ditas. As referidas criaturas também têm uma certa dificuldade em distinguir um trabalho de pesquisa de um mero plágio e algumas delas nem deveriam ter alguma vez passado da quarta classe, mas isto sou eu novamente a deixar-me levar pela maldade, pois o país carece de licenciados a fim de engrossar a lista dos disponíveis da função pública, e também para poderem ser eles os que, por sua vez, ensinarão aos nossos filhos (salvo seja!!!) aquilo que aprenderam nos quatro anos passados a beber cerveja e a fumar cigarros num bar repleto de avisos reaccionários e circulares com cigarros atravessados obliquamente por um traço vermelho. Adiante.
Pois se há coisa que me irrita, para além dos "eu devo de" e dos testes e trabalhos recheados de pérolas da nossa literatura - e da nossa argúcia! - como "Câmara subjectiva é aquela k está lá mas não se vê", se há coisa, pois, que me enerve e até, ouso dizer, que me entedie, é ver as referidas criaturas fardadas - perdão, trajadas - com aquelas fatiotas pretas a que dão o pomposo nome de "capa e batina". É aquilo, não é? Aqueles fatos pretos, 'bleizer' e saia pelo joelho prà menina e 'bleizer' e calça clássica pró menino, ambos com gravata preta presa com colher (com colher???!!!! No meu tempo passear-se com uma colher significava andar a dar na fruta... e não era na salada de), camisa branca de poliester e meia preta (collant) no caso ainda das meninas, que envergam tão brilhante vestimenta combinando-a com um calçado a preceito digno de ter sido usado pelas senhoras suas avós no tempo em que não havia duas marcas distintas em Portugal e os sapatos eram todos fabricados em Santa Maria da Feira. Eh pá, desculpem lá, mas há que dizê-lo com frontalidade: há lá coisa mai feia do que um estudante com aquela roupa esquisita que mais parece estarem todos de luto no ano da graça de 1947? E o pior é que cada vez são mais a andar com aquilo vestido! São às resmas, aos magotes. Eh pá, até no tempo da outra senhora, os estudantes se vestiam melhor. E foram capazes de mexer um bocado com as coisas. Agora com uma geração de universitários que usa aquilo, e ainda por cima com orgulho, embora não façam a mais pequena ideia do que significa 'paradigma' e julguem que Levi-Strauss é um famoso designer de calças de ganga, digam lá, ó inúmeros e incontáveis: Como é que esta merda há de andar prà frente??? Hein??!!!

9/14/2007

742 da Carris ou Contos de uma Outra Vida

A cara era-me familiar. O autocarro, agora pomposamente reno(u)me(r)ado pela Carris de 742 - vulgo, para os conhecedores, 42 - é dos mais propícios a encontros com personagens que trazem reminiscências de outra encarnação.
(Sim, porque a vossa Calamity transitou para a blogosfera - com incursões a milhentos outros locais entretanto, claro está - de vidas anteriores. No meu passado lastimoso, conheci realidades que fariam corar de vergonha, embaraço e mal-estar qualquer pedra da nossa orgulhosamente única no mundo calçada portuguesa. Mundos que outros apenas vislumbram em filmes mais ou menos realistas como o premiado "Quarto da Vanda" ou dos quais ouvem ecos aparentemente surreais nalgumas das mais cruas canções dos Da Weasel. Desses anos de contacto íntimo com o mais sórdido e assustador bas-fond, trouxe para a existência actual memórias dolorosas, perdas e um recorrente nó na garganta. Pelos que vi partir, pelos que nem vi partir, mas partiram, em casas-de-banho públicas de um café do bairro, irremediavelmente irreconhecíveis em camas de hospital, em recantos obscuros e nauseabundos da encosta sobrepovoada que dava para a Avenida de Ceuta. Pelos que iniciaram então as estadias prolongadas aos diversos estabelecimentos prisionais. Pelos que ainda vagueiam por aí, tantos deles sem saberem que há muito, muito tempo se foram e nem se lembram de quando a vida era uma promessa ensolarada e sorridente. Pelos que nunca saberei se foram ou não e hoje recordo com a incómoda sensação de que não tenho bem a certeza se alguma vez existiram ou se serão apenas personagens de um qualquer sonho bizarro).
A personagem, dizia, fazia-me recuar muitos, muitos anos. Teria mais ou menos a minha idade e, para dizer a verdade verdadinha, nunca fora do meu círculo mais próximo. Nem o nome recordava. Talvez o amigo de um amigo de um amigo. Talvez sim, amigo em terceiro ou quarto grau. Estava a pouco mais de três metros, eu ainda ao pé do obliterador, ele ao pé do vidro grande, em frente à porta do meio. Parecia olhar na minha direcção. Nunca fingi não reconhecer alguém, por mais andrajoso, por mais decadente. Posso não falar com quem me tenha feito mal, mas mesmo neste caso tenho uma tendência autoirritante para deixar que o tempo retire o peso a acções que por vezes mereceriam um virar de cara para todo o resto da eternidade. Mas isso é outra história e nada tem a ver com o caso.Talvez um dia destes escreva sobre o assunto que já ocupou, aliás, outras companheiras de escrita por paragens próximas. Anyway. Olhei de volta e murmurei um "Olá, estás bem?". Não caloroso, nem sequer simpático, mas educado. A personagem continuou a fixar-me mas não reagiu. Estranhei. Não sou mais do que ninguém, mas também não sou menos e sei, de experiência própria, que estes figurantes da tal vida anterior costumam ficar gratos quando são reconhecidos por pessoas que há muito deixaram de ter qualquer contacto com o Twilight Zone. Estranhei e continuei a fitá-lo por instantes. Depois, sem lhe vislumbrar sinais de mudança na atitude, virei costas e sentei-me naquele lugar de corpo e meio atrás do condutor. Talvez estivesse envergonhado, pensei. Talvez fosse efectivamente um fantasma. De repente senti uma presença ao meu lado: "Desculpa, tu não és a Calamity?", perguntava. Sorri. "Pensei que não me querias falar", respondi. "É que estou cego".
Apenas conseguia vislumbrar algo por um curto ângulo algures no canto de um dos olhos e tinha-me reconhecido com alguma dificuldade após ter sentido que eu olhava fixamente para ele. Trocámos umas palavras, educadamente. Deve ter a minha idade mas foi "reformado há quase vinte anos", disse. Provavelmente antes mesmo de ele próprio completar as duas décadas de existência.
Minutos antes, apenas, reflectia eu sobre o facto de a minha geração ser, de facto e apesar de o epíteto ter sido atribuído àquela que veio imediatamente a seguir, a verdadeira "Geração à Rasca". Não pelo trabalho precário, de que já tenho falado profusamente, não pela vida delirante que levamos entre o excesso de actividades e o tempo que insiste em escoar-se à velocidade da luz. Mas pelo estado psicológico em que muitos de nós se (nos) encontram(os). Deprimidos, esquizofrénicos, bipolares, borderlines. Ansiosos, angustiados, preocupados, desesperados. Ao ponto de umas e outros matarem os próprios filhos e suidarem-se em seguida como lemos e ouvimos dia sim, dia não.
A personagem da outra encarnação despediu-se e saíu. Ia para uma consulta no Curry Cabral. Resumiu a sua situação sem ponta de autopiedade, com dignidade, até. Segui-o com os olhos enquanto descia a rua frente ao Corte Inglês sem que nada no seu andar deixasse adivinhar a visão quase inexistente. Não pude evitar que um afluxo de líquido me turvasse a vista. Desci na paragem seguinte.

9/12/2007

Hoje não é 11 de Setembro

É 12. Mesmo assim não consigo deixar de me espantar com a forma como os media funcionam e condicionam a nossa agenda, as conversas e, pelos vistos até a blogosfera. Bem sei que 5 é um nº mais redondo que 6 (será?). Pelo menos para a comunicação social, que gosta de assinalar os aniversários, sobretudo quando terminam em 0 e 5. Mas espantou-me o facto de ter passado quase em branco o 11 de Setembro quando no ano passado a semana inteira foi preenchida em todos os canais de televisão com filmes e documentários, debates e especiais. Quando a blogosfera, pelo menos os tascos amigos e vizinhos, tinha em peso um post reservado sobre o assunto, directa ou indirectamente ligado. Até a vossa Calamity, apesar da sua proverbial intermitência, não deixou de dar o seu lamiré. E este ano, nada. Ou quase nada. A memória é curta? Esperaremos agora por 2011, quando se soprarem dez velas sobre as torres desmoronadas? Será que os McCann (Mc Caine, como diria "aquele jornalista sem pescoço", citado pela minha querida Estrelinha), e já que da menina, quase toda a gente se esqueceu, conseguiram fazer desvanecer do nosso espírito as imagens que no ano passado ainda nos viciavam/atormentavam? Será que daqui a 5 anos, por alturas do início de Maio teremos "especiais" informativos sobre a Praia da Luz, com directos à igreja da dita, entrevistas aos cães pisteiros e ao boneco de peluche cor-de-rosa? Será que Gerry conseguirá ser eleito o primeiro Presidente - e Kate a primeira Primeira Dama - do velhinho reino de Inglaterra?

9/06/2007

126 dias depois

Os jornalistas da SIC (sim, eu sei que há excepções, mas são raras...) ainda não aprenderam a pronunciar o nome do pai da Madeleine. Ó meus grandes cretinos: Gerry não é Gary! Será que não andaram na escola primária? Um 'G' e um 'e' lê-se 'je', mesmo em inglês. Haja paciência!

9/05/2007

Bora lá

Bora lá fazer a puta da revolução
Dar a volta a esta merda de uma vez por todas
Eu não consigo pactuar com este estado de coisas
Tá na hora de pegarmos no assunto com as nossas mãos

in Da Weasel - 'Amor, Escárnio e Maldizer'

Tentei pôr aqui o video, mas estava a bloquear constantemente; além disso, parece que os meus inúmeros e incontáveis não apreciam lá muito a postagem de vídeos , pela reacção à posta anterior. Aproveito para explicar que a mesma consistia numa espécie de alegoria. Sempre me identifiquei brutalmente - na verdadeira acepção do termo brutalmente - com a personagem do Nova York Fora de Horas. Na vida real também é assim: quando elas se dão, são umas atrás das outras. A diferença é que no filme, a malta ri-se...
Mas ainda assim, quero continuar a acreditar que podemos pegar "no assunto com as nossas mão". Bora lá

8/10/2007

Adeus

Símbolo familiar da resistência, orgulho desmedido do meu pai. Tu, o homem que viveu a revolta de Beja. Tu, que aguentaste, sem trair os teus camaradas, a tortura pidesca que te levou um dos pulmões antes mesmo de os meus se abrirem para o mundo. Tu, cuja imagem me acompanha desde que me lembro de mim, naquela memorável foto comigo aos ombros. Eras tu que mal te continhas de felicidade por conhecer a filha do teu irmão? Ou eu, que não cabia em mim por desfilar aos ombros do meu glamoroso tio?
Sabes que era por ti, para disputar a tua aprovação que eles - os dois putos! - se digladiavam nas intermináveis consoadas, em que o H bebia demais e fazia questão de se mostrar reaccionário só para ser do contra, ele que nunca soube arcar com o vosso brilhantismo. Todos discutiam, o meu pai passava-se, o H passava das marcas e tu batias com os punhos em cima da mesa, dizendo que não estavas disposto a aturar aquilo na tua casa. Talvez por isso não tenhas recebido a malta prá consoada no ano passado. Porque não estavas para levar com os números infantis dos teus dois irmãos mais novos que, ironicamente, o faziam para merecer a tua atenção - por que outro motivo o fariam? - mesmo que isso acabasse por estragar a noite de todos.
Mas era nessas noites que a família - pouco dada a grandes reuniões - estava junta, se ria das desgraças passadas e "recuperava" um ano inteiro sem se pôr a vista em cima. Minto: também havia o aniversário da F, a fechar o verão, num restaurante de Sesimbra ou do Meco, toda a malta a alambazar-se a tarde inteira de camarões e outras iguarias oceânicas. Sempre gostaste de te tratar bem - e a nós. Nos natais, nunca faltou o belo ananás dos Açores, o queijo da Serra a esvair-se, o tinto de reserva, tudo do bom e do melhor. Tudo tuga, que sempre foste adepto de que "o que é nacional é bom". À excepção do bacalhau, claro, de primeiríssima, cada posta com meio palmo de altura.
Todos os que passaram por ti de ti gostaram, porque sempre foste gentil e generoso, convicto das tuas convicções. Deve ter sido por isso - por que outra razão seria? - que sempre tiveste a casa cheínha de presentes. Nos tais natais, os da família eram apenas uma pálida amostra no meio dos outros todos, que submergiam por completo a carpete, no espaço exíguo que ia do pinheirito à mesa de vidro, cujo tampo mal se via debaixo das caixas e caixinhas. Devia ser, só podia ser por seres um bom homem, que nunca ouvi quem quer que fosse apontar-te o mínimo defeito. Nunca tiveste papas na língua e sempre te ouvi dizer o que pensavas - doesse a quem doesse. Sem violência, mas também sem rodeios. És também, para mim, um exemplo de amor conjugal: quantas décadas durou o teu casamento? Quantas viagens fizeram vocês juntos, sempre juntos? Sempre queridos um com o outro, sempre com presentes e mimos um para o outro, sempre moreníssimos dos verões passados na praia. Que vai ela fazer agora sem ti, ela que desde sempre viveu por ti? Sempre tão bonita, tão arranjada. Como devias amá-la... Como ela te ama... Como tentou despertar-te desse teu sono profundo, agora eterno. Por mais que feche os olhos, dentro das pálpebras fechadas continuo a ver-te, trinta e tal anos atrás, naquela fotografia a preto e branco, com a tua pequena sobrinha aos ombros. O teu bigode de esquerda. A tua pele morena. O teu sorriso.
Até sempre meu querido, querido tio

8/06/2007

Farta de mim

é o que é. Estou mesmo fartinha de me aturar e às minhas merdas. De ser assim como sou. De não haver meio de mudar naquilo que tenho de pior. De perder tempo com tangas que não interessam nem ao menino jesus. De não fazer o que tenho de fazer e fazer o que não tenho. De estar há horas a olhar para o mesmo texto e não o terminar por "bloqueios" que na verdade não passam de preguiça. De não ter feito os trabalhos para fechar a parte curricular do mestrado e estar em risco de ter deitado o dito-cujo fora, assim como ao dinheiro investido. De não tomar as decisões que se impõem por falta de frontalidade, cansaço ou lá o que é. De não ter vontade suficiente de mudar e de andar para a frente. De me preocupar constantemente com aquilo que escapa ao meu controlo mas de inventar desculpas para não mudar aquilo que posso. De atirar areia para os meus próprios olhos enquanto a vida vai passando
Foda-se, que hoje estou farta de mim

e nem a merda do post consigo publicar

nota: ontem escrevi esta posta; hoje já não me sinto taaaanto assim, mas só agora consegui publicar. E como é verdade e ainda não passou por completo, aqui fica. Se deixar por completo de me sentir assim, despublico - depois pode ser que não consiga. É bem feita!!!

8/02/2007

... e eu não penso senão nele - no poema

Pronto, eu confesso: vejo a Vingança. Diariamente. E quando não posso ver gravo. Há anos que não via uma novela e nunca tinha estado agarrada a uma portuguesa. Antes da Vingança segui a Senhora do Destino, e antes da Senhora do Destino, o Clone. Como podem constatar os inúmeros e incontáveis que sabem do assunto, é uma média de uma de 3 em 3 anos. Mas quando me dá, dá-me a sério e a Vingança conquistou-me. Foi um dia por acaso, calhou ser um momento crucial, a cena era empolgante, estava muitíssimo bem filmada e editada, o som poderosos e até os actores eram convincentes. O episódio era dos primeiros, e prontos: fiquei a modos que viciada na coisa. Isto para dizer que há uns dias fui surpreendida por uma cena que me comoveu. Envolvia a leitura, por uma personagem feminina, deste poema, ao personagem masculino que está apaixonado por ela. E eu, que não me lembrava dele - do poema (até porque sempre fui muito mais Álvaro de Campos que Alberto Caeiro...) - dei por mim a pensar nele. Aliás, a não pensar senão nele - no poema. Tive de o procurar e hoje venho partilhá-lo convosco.

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar. E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

(Meu príncipe: aos 9 anos, ainda é muito cedo para sofrer por amor...)

7/18/2007

Freudices

Na redacção. A I e eu conversamos sobre o facto de adorarmos ambas espremer borbulhas e pontos negros.
I: - Porque é que será? Freud deve explicar isso, não é?
A M. intervém: - Deve explicar, mas acho que não ias gostar da explicação...
I: - Bah, deve ter a ver ou com merda ou com sexo ou com os pais!

7/09/2007

Só mesmo tu, minha Estrelinha

... para me pôres a fazer estas figuras, mesmo que virtuais. Aqui está a quinta frase da página 161 do livro que se encontrava mais próximo de mim quando li o teu post: "Os pés de Marigold são só ligeiramente maiores que os pés da boneca Tiny Tears, pelo que ela usou os sapatos de palhaço de tamanho único para ir até ao parque de estacionamento". O livro é "Adrian Mole e as Armas de Destruição Maciça", de Sue Townsend. Alguém se lembra do "Diário de Adrian Mole ao 13 anos e três quartos"? Além da minha contemporânea Cool Mum? Pois bem, este é o 3º da trilogia. "Adrian Mole tem agora 34 anos e 3/4, está quase oficialmente na meia-idade(...)". se quiserem saber mais, o livro foi editado pela Difel. Os anteriores, julgo tê-los algures, datam da minha anterior encarnação.

A alternativa, não resisto, encontrava-se no livro colocado logo ao lado, na prateleira atrás de mim. A obra chama-se "Memórias de um Espermatozóide Esquecido". A página 161 - pasmem os inúmeros e incontáveis! - , abri-a à primeira. A 5ª frase completa reza assim: "Quisera meter-me na tua cabeça e descobrir que queres tu de ti próprio?". Convém esclarecer - desculpem os inúmeros e incontáveis a quebra do romantismo da coisa - que a autora, Maria Guinot, não se dirige a qualquer espermatozóide esquecido. Pelo menos directamente. Portugal é o interlocutor, o destinatário da pergunta. Interessante, o desafio.

Quanto ao outro - e partindo do princípio que eu era uma "das meninas lá de cima" (quando lemos o blog é "lá de baixo", sua grávida desmiolada! ;-)) - faço mais tarde, minha linda. Fiquei psicologicamente exausta.

Adenda: o rachtaparta do blogger hoje está a embirrar. Não consigo pôr título nesta posta. Bardatrampa

Adenda 2: já consigo pôr título. Pronto. Por isso, já sabem, a adenda anterior não é para ligar

7/03/2007

Ao senhor do Volvo azul claro metalizado

o meu mais sincero e humilde pedido de desculpas por ter saído de casa ensonada e ter demorado mais de dez segundos a atravessar a rua. Fi-lo perder cerca de oito segundos do seu precioso tempo, já que, em situação normal, e, não fosse ter-me distraído a olhar para o ontem - ou para o amanhã, confesso que não sei bem - , teria atravessado em dois segundos e ter-lhe ia poupado o imenso dissabor de se deter na passadeira por tão longo e insubstituível instante. Saiba que me penalizarei pelo seu imenso prejuízo todos os dias da minha existência ou pelo menos enquanto me lembrar do seu esgar de profundo enfado.

6/15/2007

Même (ou seja, palavras à mesma...)

Há uns tempos fiquei de publicar aqui uns mêmes. De modos que aqui vai o primeiro. Assim que puder outros seguirão. Aproveito para explicar que "um 'même' é um 'gen ou gene cultural' que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os mêmes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo 'mêmes' foi criado por Richard Dawkins dada a sua semelhança fonética com o termo 'genes'". E como não sou de furtar texto alheio sem dizer água vai, especifico que retirei esta explicação, palavra por palavra, do post da Amélia sobre o assunto, no qual a própria me encomendou o mesmo (même, está claro). Dito isto, convém também referir que a minha Estrelinha também me endereçou a mesma encomenda - ou, como diriam os franceses, même commande. Ah, pois é! E por falar em franceses, acrescento ainda que acrescentei (haha, um pleonasmo calha sempre bem, sobretudo quando é propositado, não acham, inúmeros e incontáveis?) um acentozito circunflexo à palavra même, que me tinha sido servida sem o mesmo (acento, pois), mas cuja nudez me causou desconforto. De modos que tive de meter pitada. É que eu sou da geração pré-sms e aprendi francês, além de piano. A vossa Calamity é uma mecita prendada, a bem dizer...

E pronto, sem mais demoras, aqui vai, pois, o primeiro dos meus mêmes


As Crianças

(...) Os vossos filhos não são vossos filhos...
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma
Vêm através de vós, mas não de vós
E embora vivam convosco, não vos pertencem
Podeis dar-lhes o vosso amor, mas não as vossas ideias
Pois eles possuem as suas próprias ideias
Podeis abrigar os seus corpos, mas não as suas almas
Pois as suas almas habitam nas moradas do amanhã
que nem nos vossos sonhos podeis visitar
Podeis esforçar-vos para vos tornardes como eles
mas não procureis torná-los como vós
Pois a vida não anda para trás nem no ontem se detém.
Vós sois os arcos dos quais, como flechas vivas, os vossos filhos serão lançados
O Arqueiro vê a presa no percurso do infinito e empresta-vos o seu poder para que as vossas flechas partam ligeiras e cheguem longe
Que a vossa inflexão pela mão do arqueiro se destine à alegria
Pois assim como ele ama a flecha que voa
Ama também o arco que se mantém estável.


Claro que este même não é meu. Usurpei-o. Foi escrito pelo fabulástico poeta Khalil Gibran, que no século XIX viveu no Líbano, se não estou em erro, e deu à luz, entre outros, um livro pleno de senso comum transformado em hino à vida chamado O Profeta, de onde este "As Crianças" foi retirado. Tomei a liberdade de alterar ligeiramente as traduções que encontrei na net que não correspondiam totalmente ao texto que conheço originalmente noutras línguas

Mais palavras

Palavra que gostava de escrever mais palavras.
Palavras que me aliviassem do peso com que as palavras armazenadas me esmagam.
Palavras que desatassem o nó com que as palavras engasgadas me sufocam.
Palavras que fluíssem como o rio de palavras no qual ora me banho, ora me afogo.
Palavras que suavizassem a aspereza das palavras que por vezes me assaltam.
Palavras que jorrassem como a torrente de palavras que nunca alcanço, que desmoronassem da cordilheira de palavras que se amontoaram, uma a uma, na interminável torre de babel que fui construindo em mim, palavras que lutam corpo a corpo, se enroscam, se estrangulam, se matam e se criam numa dança infinita que me consome os neurónios.
Como podem tantas palavras caber num espaço tão diminuto? Como posso eu vertê-las diariamente e elas teimarem em brotar a cada minuto que passa? Como posso eu dar-lhes uso, forma e sentido se elas têm vida própria? Se fizeram da minha mente um labirinto no qual procuro uma saída desde a origem dos tempos até ao fim da eternidade? Se me invadem o cérebro e se recusam a seguir o caminho que lhes aponto? Se surgem por geração espontânea como uma praga incontrolável? Se teimam em comportar-se como ervas daninhas e ainda por cima vestem pétalas e cores das mais sedutoras e mortíferas plantas carnívoras disfarçadas de flores?
Palavra que gostava de escrever mais palavras. Palavra...

6/05/2007

Palavras

Todos os dias escrevo. Todos os dias escrevo para viver, para sobreviver.
Escrevo por prazer, por dever, por necessidade.
Escrevo porque escrever é a minha profissão, o meu ofício, o meu vício, a minha perdição.
Escrevo depressa ou devagar, com gosto ou para despachar.
Escrevo porque é preciso e porque tem de ser.
Gosto das palavras e elas retribuem-me o gosto. E, no entanto, odeiam-me, matam-me, maltratam-me.
Torturam-me.
Chegam-me em catadupa e desertam-me subitamente. Amantes inconstantes.
Escrevo-as e elas escrevem-me. Descrevem-me.
Eu cubro-as e descubro-as.
Distribuo-as, espalho-as e espalho-me. E elas tapam-me e destapam-me.
Escondo-me por detrás delas e elas... elas despem-me e expõem-me. Escancaram-me.
Gosto de brincar com as palavras e elas conhecem os jogos todos. E deixam-me pensar que sou eu que jogo com elas, quando na verdade são elas que me têm na mão. Cativa.
Claro, elas é que brincam comigo. Às escondidas, à cabra-cega. E eu pingue pongue, matraquilhos: vai para ali, foge para aqui. Ah, estás aí?! Então não podes estar acolá. Anda, mexe-te. Salta, dá uma cambalhota, transforma-te, transfigura-te.
Advérbios, adjectivos. Verbos transitivos, intransitivos. Intransigentes. Proximidade proibitiva, rima inconveniente. Sinonimiza, pá, relativiza-te. Encontra alternativa. Descobre, procura, reflecte, dá a volta, muda o tom.
Descritivo? Interrogativo.
Discurso. Diz?
Directo, indirecto. Livre. Livre? Liberdade de expressão, ilusão. A palavra é uma prisão. Uma paixão.
Escrevo por gosto, por obrigação. Todos os dias, cada vez mais, por tudo por nada. Gasto as palavras e elas sobram-me. Paradoxo? Sacerdócio.
Por isso, arranjei este blog, para despejar mais palavras. As que não uso, que desperdiço. As que não sei onde pôr. Quando resolvi criá-lo, ao blog, foi porque me dei conta que precisava de arrumar as palavras espalhadas aos molhos na minha mente, no meu íntimo. As que repito, incessantemente para mim própria, à exaustão. As que me atravessam o espírito. As que surgem, fugidias. Esquivas. Ariscas.
Fazem de mim gato-sapato e eu a pensar que as ponho na ordem. Qual ordem?
E dou por mim a precisar de andar com o blog no bolso. Os melhores posts, escrevo-os dentro da cabeça. Na paragem de autocarro, na casa-de-banho. Ao pequeno-almoço, dentro da caneca de café com leite. Brainstorming inconsequente.
Passo os dias a escrever e o que quero escrever não escrevo. Todos os dias posto, mas vocês não lêem. São posts perdidos, desperdiçados, lost in space. Palavras que nunca escreverei. Será que não?
Para que me servem os caderninhos?
Sou preguiçosa, demasiado preguiçosa. Tempus fugit. Os romanos eram loucos, mas eles é que sabiam. Em latim, língua morta, exprimiram uma das grandes verdades da vida.
O que andas tu a fazer da tua, Calamity?

6/01/2007

O grande salto epistemológico provocado pela leitora de nome Ana Paula (Olá, Ana Paula!)

Que estranho é pensar que há pessoas que nos lêem e que a gente não conhece! Pronto! - pensam os meus inúmeros e incontáveis - passou-se! E não é da própria essência da blogosfera sermos lidos(as) por pessoas que não conhecemos? Que não nos conhecem? Aliás, coisa bizarra para se pensar quando se faz profissão da palavra escrita e se é inevitavelmente lida por numerosos (aqui sim, inúmeros e incontáveis) leitores- passe a redundância.
Mas o ser pensante é por vezes assaltado por ideias esquisitas e aqui a vossa Calamity não prima pela normalidade. E foi precisamente o que me aconteceu quando me apercebi que era lida por uma blogueira de tasco privativo, de seu nome Ana Paula, que para mais foi brindada por alvíssaras dado ter sido a leitora nº 5 mil deste estabelecimento. Dei por mim a pensar: "Olha, uma blogogaija que não conheço! E que não está aqui pela primeira vez, já que confessa gostar de me ler. Xa-me cá ver o estaminé dela...". Pois. "A ligação html que acaba de digitar pertence a um tasco cibernético de carácter privativo, pelo que só com internáutico convite poderá aceder aos seus mui particulares interstícios e meandros"...
E eis senão quando a vossa Calamity dá por si tendo este brilhante pensamento: "Olha, olha, a gaija lê-me, e eu não a conheço!"
Claro que logo a seguir um dos meus alteregos, um dos grilinhos que com frequência irregular me chama à razão vira-se para mim e diz-me: "Oublá oh minha grandecíssimima desmiolada! Atão tu não bês que a maior parte das pessoas que te lêem são de ti totalmente desconhecidas?! Para que queres tu os neuroniozitos? Não sabes tu que os respectivos têm por função estabelecer sinapses? Que parte das ligações cerebrais te terá, porventura, escapado?"
E de imediato a vossa Calamity contrapõe ao censurante mecanismo do seu superego argumentando: "Pois". Assim só: pois. Mas logo de seguida, e não contente com a pobreza intelectual de tal argumento, a brilhante pensadora que por vezes toma o lugar da vossa Calamity ultrapassou o momento de bloqueio epistemológico e rebateu: "Pois. Mas julgava eu que todos os meus inúmeros e incontáveis leitores desse lugar de troca que é a blogosfera deixavam, num momento ou noutro, o seu rasto sob a forma de um comentário, a não ser que não passassem de meros viantantes cibernéticos, daqueles que cá vêm parar por aleatória ligação e, não encontrando neste tasco qualquer motivo de permanência, se eclipsam para não mais voltar". Ou seja, ao deixarem inevitavelmente assinatura blogosférica, permitiriam sempre, mais tarde ou mais cedo, que eu os CONHECESSE (Sim, inúmeros e incontáveis, admito que este conceito de CONHECIMENTO seja discutível estou pronta para argumentá-lo convosco se assim o entenderem...) "Julgava eu que assim era", pensou a vossa humilde Calamity, num daqueles raros momentos de discernimento. E afinal, eles existem. Os inúmeros e incontáveis silenciosos, digo. Que por cá passaram mais de uma vez. Que até gostaram do que leram. Mas, por algum motivo, não se pronunciaram. Até que uma posta de delirante apelo à participação popular, tal referendo blogosférico os (a, neste caso) levou a deixar pegada.
Espanto. Afinal, eles existem. Haverá outros? Pensava que os leitores silenciosos se limitavam às páginas físicas dos jornais, revistas e livros. Que se moviam tão sómente pelos registos escritos próprios da antiquíssima galáxia de Guttenberg. E confesso que esta descoberta me deixou introspectiva. Reflexiva. Pronta para um salto paradigmático. E agora? Que revelações ainda me reservará este mundo fascinante da blogosfera? Hein????

5/28/2007

A correr

Não, inúmeros e incontáveis, não adormeci sobre os louros. Estou à rasca de trabalho e há vários dias que não páro. Ana Paula, não pude ir dar-te um olá ao teu blog, já que é privado. As alvíssaras são tuas! Na próxima posta falarei sobre um assunto que me suscitaste. A todos, uma abraço e até jaaaaaazzzzzzz

5/24/2007

É desta, é desta!

Agora é que é. Estamos a chegar ao marco histórico das 5 mil visitas. Sim, (i)números e (in)contáveis, eu sei. O que é isso para vocêses, que afixam nos vossos egrégios contadores estatísticas que atingem as dezenas, quiçá, as centenas de milhar de visitas?! Ah, pois é!
Mas acontece, (i)números e (in)contáveis, que, para mim, se trata de um momento a assinalar, uma efeméride inenarrável, uma placa giratória que marca a entrada da vossa Calamity no elevador da glória, a chegada à longa escadaria que leva à fama e ao estrelato, o dealbar da imortalidade, enfim... O passo seguinte é a estrelita no passeio da fama. Mas estejam descansados, (i)números e (in)contáveis: a vossa Calamity é magnânima e leal. Ou seja, quando estiver à beira da minha piscina olímpica de água salgada em Beverly Hills, dignarei receber-vos desde que me sirvam caipirinhas com duas palhinhas e gelo picado - não esquecer este último pormenor. Ah, e o açúcar mascavado, claro. Prometo deixar-vos dar um mergulhinho para aferirem da temperatura da água...
Bom, delírios à parte, arroto esta humilde posta só para dizer que é desta: estamos a chegar ao marco histórico das 5000 visitas - cinco mil! - daí que, agora sim, dão-se alvíssaras ao portador do bilhetinho com o número certo. Portanto, (i)números e (in)contáveis, já sabem. É fazer filinha, ordeiramente, à porta deste estabelecimento, respeitando mulheres grávidas, idosos e acompanhantes de crianças de colo. Nada de empurrar quem chegou primeiro, que isto aqui é uma casa de boas tradições. E o último a entrar que feche a porta, sim?...

PS DO TAMANHO DAQUI ATÉ AO CÉU - E desculpa lá, Estrelinha do meu coração, não te dedicar uma posta, mas também ficas aqui bem, nesta posta que até já falava em ti sem saber da boa nova - Como dizia o meu adorado Chico na Grand Finale da maravilhosa Ópera do Malandro:
"Ai, meu deus do céu, me sinto tão fe-liz!!!!"

5/21/2007

Diz que é uma espécie de babyblog

Quase quase a fazer 17 meses, a Calamityzinha pecanininha está uma xuxu (ou será chuchu?). Louca pelo pai e pelos homens da família, passa dias inteiros a perguntar: "Mamã? A papá?".
Só quer comer sozinha e faz fitas se a tentam ajudar com a sopa (imaginam os meus inúmeros e incontáveis a javardice que faz às refeições...). Não me deixa vesti-la, despi-la ou mudar-lhe a fralda. Adora o Noddy (dadi), a Rua do Zoo e o Ruca. Trata dos seus bebés (babá), ralha com eles e fala sem parar. Quando a contrariam fica meia-hora a mandar vir no seu dialecto incompreensível. Mas diz distinctamente "sai daí", "dá aí" e sobretudo "não", monossílabo do qual é capaz de pronunciar todas as letras e o respectivo til com tal pormenor que se diria que já sabe ler e escrever!
Anteontem a gaijinha tirou-me completamente do sério. O mano levantou-a da cama de manhãzinha e levou-a para a sala. Ouvi-a palrar e fui lá oferecer-lhe uma bolacha para ela se entreter. Toda ufana e sem mesmo tirar a chucha da boca, vira-se para mim e exclama silabicamente: "Huuuummmm! Bo-la-chi-nha!!!

5/13/2007

A dor maior

Aquela que nenhuma mãe quer imaginar. Não me sai da cabeça. Não me sai da cabeça. Há quem diga que esta dor é pior que a morte. Não sei.
Mas 3 de Maio foi o dia em que desapareceu a Maddie. E esta menina não me sai da cabeça. Porque 3 de Maio foi também o dia em desapareceu a Laura. E ela também nunca me saiu da cabeça. Para a mãe da Laura, foi para sempre. Para a da Maddie é o desconhecido. Poderá ser amanhã, para o mês que vem, daqui a oito anos. Poderá ser nunca mais ou para sempre. Qual é a dor maior? Não sei. Mas não me sai da cabeça.

5/07/2007

Em resposta ao senhor anónimo (ou terá sido uma senhora?)

Caro(a) anónimo(a)

Ainda bem para ti que tens emprego certo, que, além de emprego tens trabalho e sobretudo que te pagam o ordenado certinho ao fim do mês. Ainda bem para ti que sentes que pertences a alguma coisa que funciona e que, para ti, este país parece menos apimbalhado, menos bimbo, menos arcaico graças a empresas como a PT, o BPI ou a TV Cabo. Ainda bem para ti que não precisas de (sobre)viver a recibos verdes. Fico sinceramente feliz por ti, mas devo dizer-te que não me identifico em nada com a tua opinião e acho que isso ficou manifesto no meu comentário.
Aliás, se as defendes com tanto afinco, deves conhecê-las bem e saber tão bem como eu que elas praticam o subemprego e o vínculo precário, para já não referir que só não nos vão ao bolso quando não podem/conseguem. Antes numa das que enumerei que “debaixo da pata de algum deles”. Pois nisso estamos totalmente de acordo, caro(a) anónimo(a). Se não os podes vencer junta-te a eles. Aceitam-se cunhas. E tachos. Nesta altura do campeonato e da maneira como estão as coisas, não teria vergonha nem qualquer pejo em aceitar. Mas daí a defendê-las iria sempre um grande passo. Talvez se elas me tornassem, não digo milionária, mas uma pessoa de posses, digamos, confortáveis, pensasse duas vezes. Talvez virasse a casaca. Mesmo assim não sei. Desconfio que continuaria a criticá-las naquilo que têm de pior. Que é muito.
Há mais na Caixa? Ainda bem! Algo para mim? Para os meus? Para os dos outros? Aqueles que nada têm daquelas todas que citei (nem de outras, diga-se de passagem)? Aqueles que estão a recibos verdes e têm de dar todos os meses 150 à Segurança Social – ganhem zero ou dez mil - mas não podem ficar doentes nem sem trabalho e estão quase certos de que nada restará quando chegarem à dita-cuja idade da reforma? Aqueles que gostariam de trabalhar de outra maneira mas que não têm outra hipótese?
Porque para eles não há “ordenado garantido ao fim do mês”, não há “investimento”, não há “formação”, não há “emprego”, quanto muito, há “trabalho” e é quando há, e, quanto a “responsabilidade social”, para eles é uma expressão cujo significado ignoram, porque a maior parte do tempo estão demasiado ocupados em conseguir segurar as pontas até ao fim do mês. E já agora, fica a saber também que fim do mês para eles (em que eu me incluo) é algo que nada significa, pois o dinheiro não tem dia nem hora para aparecer. É pago quando é pago, se é pago. E muitas vezes são as tais empresas que dizes terem "responsabiliadade social" que não têm dia nem hora para pagar o que devem aos seus fornecedores. Sim, "fornecedores" é como eles chamam a quem para eles trabalha mas sem direito a nada.
Desculpa lá, caro(a) anónimo(a), folgo muito em saber que trabalhas para uma delas mas não me caem bem os teus argumentos.
E aproveito para acrescentar à lista a nossa querida CML (Câmara Municipal de Lisboa). E a Carris. E a EMEL. E, já agora, abaixo o grande capital, que eu sou do precariado.
Caro(a) anónimo(a), não tenho 50, mas lá chegarei, se deus nosso senhor quiser, só que, pelo andar da carruagem, a recibos verdes será. Projecto de vida? Só se fosse a ganhar o triplo ou o quádruplo do que ganho (e estou a ser modesta). Que a vida te continue a correr bem, é o que te desejo. Sinceramente.

PS: Não deixa de ser curioso que este comentário tenha sido anónimo...

4/30/2007

... E não se pode exterminá-las???

Top das 10 empresas que mais dão comigo em doida (por ordem de "preferência")

1 - PORTUGAL TELECOM - a vencedora incontestável. Grande prémio da incompetência, incapacidade, e recordista nacional do número de ataques de nervos por habitante/mês.
2 - BPI - neste momento, o grande alvo de toda a raiva, ódio e ressentimento que consegui acumular em 37 anos de vida.
3 - TVcabo - sim, sim, eu sei que eles e a PT fazem só um, mas merecem uma menção especial, porque ser tão incompetente é obra, mesmo em Portugal.
4 - Sapo - idem idem, aspas aspas, e ainda mais uma menção honrosa por conseguirem ter a conta de email mais imbecil, cretina e inimiga do utilizador desde o advento da internet em meados dos anos sessenta do século passado (ah, pois é!..)
5 - Banco Santander - por uma década de sucessivos roubos, desvios e furtos diversos nas minhas parcas economias, pelo prazo já decorrido de seis meses para darem resposta ao meu pedido de revisão de spread no meu crédito-habitação, pela amável gentileza de me oferecerem um magnífico crédito pessoal no valor de 15 mil euros, em relação ao qual se precipitaram a ligar para o meu telemóvel, continuando a ignorar o pedido atrás referido e ainda!!! (a ler em tom de Carlos Cruz nos saudosos tempos do 1,2,3 e sua histórica mascote, a não menos famosa Bota Botilde - coisas de cotas...) pelo generoso aumento de 80 euros (só cerca de 25% - o que é isso para a gente?!) na prestação do referido crédito, e sobretudo por se terem "esquecido" de me informar sobre o dito aumento, precisamente dois meses depois do meu pedido de revisão de spread. Eh lecas, esta foi comprida!
6 - Caixa Geral de Depósitos - por pretender que os potenciais clientes transfiram para si os seus créditos-habitação sem ser capaz de lhes fornecer uma simulação concreta, já que, pobrezinhos!, não dispõem de um "simulador para bonificados"!
7 - Allianz Seguros - já nem me lembro porquê, mas merecem de certeza o prémio...
8 - Pingo Doce - Por praticarem, no ramo das frutas e legumes, preços superiores a qualquer mercearia, oferecendo o décimo da qualidade e ainda pretenderem que os compremos em quantidades industriais(por que carga de água é que eu vou querer quatro tomates - quatro, a 2€98 o kg, quando a mercearia ao lado de casa os vende a menos de metade do preço? E três kgs de batatas - três, quando idem idem aspas aspas?!)
9 - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - por razões que, infelizmente, não poderei aqui divulgar.
10 - Segurança Social, repartições de finanças, CTT, conservatórias de registo predial, centros de saúde, hospitais públicos e alguns privados e todos os serviços públicos ou ao público deste país pelas horas e horas de trabalho, lazer e descanso que nos fazem perder, pelos ataques de nervos que nos proporcionam, pelo guito que nos comem, chupam, sorvem e extorquem e por todos os restantes motivos que os meus inúmeros e incontáveis estão fartos de conhecer de cor e salteado.

Contribuam, inúmeros e incontáveis, para este estudo científico da maior utilidade. Divulguem, vocês também, os nomes das vossas empresas-ódios de estimação. Todos juntos conseguiremos acabar com esta horda de inúteis que nos inferniza a vida dia após dia

Adenda: Olha, olha! estou quase a chegar a uma bela de uma capicua! Que se acuse o(a) responsável...

4/24/2007

Pensamento do dia

... ou melhor, do ano:

Cuidado com o que desejas, pois poderá ser-te concedido

ou ainda

Quando os deuses nos querem castigar, realizam os nossos desejos

4/17/2007

O sol lá fora brilha mas eu sinto-me assim

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais

Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz

Chico Buarque

4/03/2007

OK, não estou boa da cabeça

Ia jurar que o contador marcava 4998 quando fiz aquela posta. Pronto, vá, internem-me. Até me dava jeito ficar uns tempos de molho.

4/02/2007

3/28/2007

Olá minha querida Mãe

Cá estou eu nos Pirinéus. A viagem foi "uma treta": estava pouco confortável no autocarro*. Está a nevar "a potes"! Ontem fomos andar de raquetes, 12 kms, ou seja 3 horas. O gelo é gigante. Apanhei um bocado praí com um metro! Fiz um boneco de neve.

Tenho IMENSSAS (sic) saudades tuas.

muitos beijinhos


(a coisa era mais ou menos assim - foi o melhor que se pôde arranjar. E no sítio onde diz Clipartbláblá dizia: I LOVE YOU).

PS: BEIJOS PARA TODA A FAMÍLIA

* a viagem foi de comboio, mas o último troço - cerca de 3 horas - foi feito de autocarro... (n. da e.)


Desculpa, Príncipe, o abuso de publicar sem autorização tua e também se não está igualzinho ao que escreveste: estou a citar de memória. Não tenho aqui a(s) carta(s) que li trezentas vezes e que o carteiro deixou por cima das caixas do correio porque não me conhece e tu esqueceste-te de pôr o andar... mas acertaste na morada e, mesmo sem código postal, chegaram bem. Agora só faltas tu! Até amanhã. Tou morrendo di saudadi!

3/22/2007

O meu menino ou A grande aventura

O meu menino é o mais lindo e também o melhor filho do mundo.
O meu menino diz que sou a melhor mãe do mundo e faz-me sentir como a melhor mãe do mundo.
O meu menino é o homem da minha vida e costumo dizer que, se não fosse meu filho, casava com ele - isto se ele aceitasse casar com uma velha como eu, claro!
O meu menino é meigo e calmo e inteligente. E bonito, claro.
O meu menino tem mais juízo e discernimento que eu, o pai, ou a maior parte dos adultos que conheço.
O meu menino é generoso e justo.
O meu menino trata bem os outros meninos e também os adultos. Às vezes até melhor do que uns e outros mereceriam.
O meu menino é d'oiro, é d'oiro fino. E também de prata, diamante, esmeraldas e rubis.
O meu menino é o meu tesouro, a maior preciosidade que eu tenho na minha vida, tirando a minha menina, é claro.
O meu menino tem nove anos e acorda às oito da manhã, mesmo aos fins-de-semana; e quando a mana, de 15 meses, acorda, ele vai buscá-la ao quarto para que eu possa dormir mais um bocadinho. E chega a dar-lhe o bibas, para que eu possa dormir mais um bocadinho. Só não lhe muda a fralda, mas estamos a falar de um menino, não de um semideus!
O meu menino por vezes faz disparates, como qualquer menino e eu, como qualquer mãe, ralho com ele. Mas por vezes exagero e ele fica sentido, e com razão. Porque eu sou apenas humana e ele compreende - aliás, o meu menino compreende tudo - mas eu exijo demasiado dele. Afinal, ele é um menino. Mesmo assim, o meu menino continua a dizer que sou a melhor mãe do mundo e a fazer-me sentir como a melhor mãe do mundo.
O meu menino é óptimo aluno e muito exigente consigo próprio. Mas também gosta de brincar, , ler os livros do Harry Potter e jogar playstation e futebol; aliás, o meu menino é fanático por futebol e está constantemente aos chutos nas milhentas bolas que insiste em coleccionar. Este é um dos pontos de fricção entre o meu menino e eu e uma das razões pelas quais eu às vezes passo das marcas na minha irritação, mesmo que ele passe das marcas na sua excitação de menino.
Mas o meu menino é o melhor do mundo.
O meu menino foi ontem para a grande aventura dos seus nove anos ( e eu fiquei na grande aventura dos meus nove anos de mãe: sozinha com a Calamityzinha pecanina na casa nova). Foi com outras três turmas para os Pirinéus. E eu fui levá-lo à estação, com um gigantesco saco cheio de roupa para que ele possa enfrentar os 10 graus negativos que o esperam. E, na estação de Santa Apolónia, chorei. Sei que não fui a única e também que chorarei muitas mais vezes. Já estive noutras ocasiões longe do meu menino durante uns dias. Na primeira vez que passei uma semana longe do meu menino chorei todos os dias. Ele tinha apenas 2 anos, ou melhor, ainda não os tinha feito. Mas nessa ocasião fui eu que viajei e o meu menino ficou com o pai e avós. Desta vez o meu menino foi com a escola e nós, pais, não falaremos com eles até ao seu regresso. Apenas vamos ter notícias através do email (espero que) diário que receberemos da professora. E o meu coração de mãe não consegue deixar de estar apertadinho. Será que ele está bem? Será que não tem frio? Será que não lhe vão fazer falta as pantufas que ficaram esquecidas no chão da sala? Será que vai conseguir fazer caber tudo no gigantesco saco na hora do regresso? O que irá ele fazer se acordar de noite com um pesadelo? Quem lhe irá lembrar que tem de assoar o nariz e lavar as mãos e puxar o autoclismo quando suja a sanita? Quem lhe irá dar mil beijos de boa-noite e mil abraços de bom dia? QUEM VAI CUIDAR DO MEU MENINO?
Eu sei que os meninos crescem e que um dia a pele deliciosamente macia do meu menino irá transformar-se numa epiderme coberta de acne juvenil e depois pelinhos irão crescer e transfigurar o meu menino num homem de barba rija. Eu sei que estas experiências são maravilhosas e importantes e fundamentais para a vida e para o crescimento. Eu sei que devemos deixar voar os nossos meninos. Mas o meu menino é o meu menino. Já o era antes de nascer. Antes sequer de ser concebido. O meu menino. E assim será todos os dias da minha vida. Desde a origem dos tempos e até ao fim da eternidade. E para lá.
Amo-te desmesuradamente, meu menino. Amo-te daqui até ao infinito. E para lá. Meu menino.

PS: Este texto foi escrito ontem mas só hoje o consegui publicar