11/29/2007

FMI (Foi Muito Intenso) ou mais uma Crónica da Outra Vida

Foi em 1981. Eu tinha 11 anos. Tento em vão que o meu cérebro digira esta realidade assustadora. Passaram 26 anos. Não diria que parece que foi ontem. Mas anteontem, certamente. Quando me lembro ainda me arrepio. Claro que a possibilidade de ouvir a gravação (daquilo de que estou a falar, claro) permite refrescar a memória das células. Embora conste que já não são as mesmas. Mas isso é outro assunto. Portanto, adiante.
Foi, pois, em 81. Aqui mesmo ao lado, no Teatro Aberto, na Praça de Espanha. O dito teatro não ficava, como hoje, na Avenida Gulbenkian, como quem vai para a Av. de Berna, mas antes do outro lado da praça, como quem seguisse em direcção ao Hospital de Santa Maria. Isso agora também não interessa nada, como diria a Teresa Guilherme, mas os inúmeros e incontáveis já sabem como sou e o quanto gosto de me perder em pormenores, tipo janela barroca e o que vale é que depois a janela abre e fecha e veda na mesma, e dá para uma qualquer paisagem e, a bem dizer, podia dar-me para pior, que era esquecer-me ao que ia, ou neste caso vinha.
Os meus pais sempre me levaram para estas coisas, e diga-se de passagem que era mais por influência do meu pai que da minha mãe.Tratava-me como se eu fosse mais crescida do que na realidade era e agradeço-lhe o ter-me assim proporcionado momentos que trago comigo, agarrados à pele e aos ossos e que fazem parte de mim, indissociáveis do que sou, ou pelo menos julgo ser... Naquela noite, o programa era o espectáculo do José Mário Branco. 'SerSolid(t)ário'. Não era imensa, a audiência, que o teatro não levava uma multidão. Mas era suficiente para encher a sala e formar um todo,do qual se desprendia sopro, consistência, vibração. E sei que, apesar dos meus 11 anos, aquilo que senti a determinada altura não foi exclusivo meu, da minha ingenuidade, da inocência que trazia, muito inferior, diga-se, à de muitos 11 anos que por aí vejo. Não sei se feliz, se infelizmente, mas também isso são outros assuntos, e tantos haveria para trazer ao 'Nada...'...
E 'às páginas tantas', diz assim o Zé Mário: "Vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não seja muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam já não ser muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto. Chama-se FMI.Quer dizer: Fundo Monetário Internacional. Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos... É o internacionalismo monetário..."
E foi assim que assisti à primeira (e única??) apresentação (demorei um pouco a achar esta palavra e, embora não me pareça a ideal para definir o que foi 'aquilo', talvez seja a única que eu consiga achar neste momento, por isso aqui ficará a não ser que entretanto me surja outra mais adequada...) ao vivo desse texto e até hoje, a cada vez que me lembro, sinto-me grata. E muitas outras coisas, mas não sou menina para repetir adjectivos, apesar do meu já bem conhecido pendor para o alongamento verbal. E sei que, naqueles longos minutos, as confusas e variadas emoções que emergiram no meu ser foram de uma intensidade brutal e inesquecível. Sei também que algumas delas foram partilhadas com a restante plateia. O às tantas não saber se o homem 'se tinha passado' (nessa altura não se usava tal expressão), e se aquilo faria mesmo parte do que estava previsto. O sentir que estava ali a mais, frente a um homem com idade para ser meu pai que se estava a 'desmanchar' diante de 300 pessoas, para lá de todo o pudor, de toda a contenção. O riso e o espanto. A desmesura.

Ando há dias com este poema fabuloso no ouvido. Passaram 26 anos(!!!). 28 desde que foi escrito. Mas mudássemos-lhe nomes e pormenores e poderia ter sido escrito ontem. Anteontem. Amanhã.

Inúmeros e incontáveis. Se não conheceis, lede. E ouvide. Se não conheceis, idem. (Espero que esteja em óptimas condições. Não tive ocasião de ouvir tudo, que ainda me punham na rua por acto subversivo no local de trabalho. E já se se sabe, o precariado tem de manter low profile. Very, very low...)

Acrescento: Ando a cozinhar esta posta há uma semana. E o FMI às voltas na minha cabeça. Sempre e sempre. Mas da posta perdeu-se muita coisa pelo caminho. Vou-me lembrando, à medida que leio e releio o texto, que tem algumas imprecisões em relação à gravação. Pedaços que tomam um significado cada vez maior. Como: "(...) Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!"(...). Passaram 26 anos que o ouvi despejar isto. 28 que ele o escreveu. E hoje, quem tem 37 anos sou eu. E nunca como hoje senti este texto tão meu.

11/23/2007

Será um sinal?

Abri o tasco. Marcava 8888 visitas. Merece uma posta, pensei eu. Abro o blogger. Posta nº 111.
É do caraças, não acham, inúmeros e incontáveis?

Volto o mais breve possível, com assuntos menos comezinhos. Penso eu de que.

Ah! Gosto muito de vocês. Eu sei que estas coisas não se agradecem, mas o vosso carinho enche-me de calor e de luz :-)

11/15/2007

Nada

Sinto-me vazia. Sem assunto para escrever e de palavras gastas. Acabei de terminar mais uma correria de vários dias a cortar, colar, trocar, esticar e encolher vocábulos sobre questões alheias. À minha vontade e ao meu interesse. Não conseguir alinhar dois parágrafos dos quais sinta orgulho. Esperar por gente que se atrasa e não poder ir embora. Não poder fazer o mesmo sob pena de não esperarem por mim. Estar com os miúdos meia-hora por dia. Procurar em vão um par de meias no armário. Uma camisola que combine com a t-shirt e que aqueça na rua. Uma t-shirt que não destoe das calças e suficientemente fresca para os 30 graus da redacção. Umas calças que não pareçam ter sido adquiridas em 1983. Conseguir chegar a casa antes das dez da noite e sentir que não estou a fazer ali nada. Estar só no meio da multidão. Não pertencer a lugar algum. Ter saudades do futuro. Ansiar pelo que nunca tive e lamentar o que deixei para trás. Desejar outra coisa. Desejar desejar. Querer querer. Querer mais. Querer menos. Querer sair. Viajar. Conhecer. Querer entrar. Dormir. Acordar. Dormir. O inverno está a chegar e sinto-me vazia.

11/07/2007

Continuando em maré de intervalo

... e como continuo sem tempo para me alongar em assuntos mais sérios, os quais, porém (gostaram do porém? digam lá os inúmeros e incontáveis se não ficou aqui simplesmente uindo, sim, leram bem, eu escrevi uindo!!!) tenciono esmiuçar numa posta futura e espero que breve, aqui fica uma deliciosa posta de outrem que descobri quando fazia uma pesquisa com intuitos laborais (já viram o quão eloquente estou hoje? hein??? é pena não aproveitar a maré, mas já estou aqui a esticar-me, imaginem então se me largo aqui a falar de coisas realmente graves - e podem crer que os temas que pretendo tratar a curto trecho [mais uma expressão de fino recorte - já repararam que estou aqui num parêntesis entre travessões que já se encontravam entre parêntesis?!!! rachpartam a rapariga que não há meio de evitar dispersar-se a propósito de tudo e de nada - portanto agora vou fechar esta catrefada de àpartes interessantíssimos] este já está e agora mais este - e por fim...) Ufa. Prontos. O melhor é observar aqui um piqueno parágrafo.
Já está.
Dizia eu que descobri esta posta enquanto pesquisava e vou parar por aqui esta verborreia que, como toda a gente sabe - e os meus inúmeros e incontáveis ainda melhor, já que são pessoas de uma cultura tremenda (sim, tremenda, bláblábláblábláblá) - , é uma diarreia verbal, e deixar aqui o link para que os inúmeros e incontáveis possam ler com os próprios olhos e, quiçá, esboçar um sorriso como eu esbocei...

Posta engraçada descoberta em blog até agora desconhecido mas que desconfio valer a pena ir dando um olho... Meus amigos, que é como quem diz, inúmeros e incontáveis, é caso para dizer:

fisga-se! ou o que mais vos aprouver

Já agora lanço o desafio: bora lá arranjar (e enumerar aqui) mais expressões idiotas que as pessoas usam para substituir os palavrões, vulgo asneiras, vocábulos tão saborosos que não compreendo por que motivo a malta não os há de pronunciar com todas as letras.
E mais digo (heheheh!): bute inventar novos palavrões, que os que existem, como referi em posta relativamente recente, pura e simplesmente não chegam!

11/06/2007

Não era nada disto

Havia vários assuntos para várias postas, mas acontece que, para variar NÃO TENHO TEMPO, portanto, para já, vou partilhar convosco este GUIA PRÁTICO DA CIÊNCIA MODERNA que recebi por e-mílio. Além disso, os assuntos não eram propriamente divertidos e às vezes convém, como dizem os nossos irmãos brasileiros - que, por sinal, assinam as linhas que se seguem - , aligérar a coisa...

Aqui vai, pois, o Guia Prático da Ciência Moderna, de autor desconhecido, mas definitivamente brasileiro

1. Se mexer, pertence à biologia.
2. Se feder, pertence à química.
3. Se não funciona, pertence à física.
4. Se ninguém entende, é matemática.
5. Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

LEI DA PROCURA INDIRETA
1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

LEI DA TELEFONIA.
1. Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.

Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA.
Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você. >

LEI DA GRAVIDADE.
Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS.
80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu.

LEI DA QUEDA LIVRE.
1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS.
A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.

LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA.
Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

LEI DO ESPARADRAPO.
Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

LEI DA VIDA.
1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.

LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS.
Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

11/01/2007

Saudades da blogosfera (Parte 3 e não sei se acabou ou não)

Cada vez estava mais agarrada, mas, paradoxalmente, cada vez tinha menos tempo para alimentar o blog. O Nada começou a tornar-se um bicho, sedento de posts e eu a ressacar literalmente. Preciso de vir aqui, escrever como quem vomita, despejar as litradas que não bebo. Mas ao mesmo tempo dói-me. Precisamente porque perdi o pudor. Porque o blog é o único veículo da escrita que, estranhamente, me despe de bloqueios, de receios. Nem os inúmeros e incontáveis com rosto e cheiro, mulheres e homens me travaram. Cheguei ao ponto de revelar a existência do Nada a pessoas a quem nunca mostrei uma linha de poesia. Ou de prosa. Minha, digo. Coisas que tivesse escrito para além das encomendas do trabalho. Sem medo, sem vergonha. Como se isto tivesse deixado de me pertencer. Porque a verdade é que me exponho aqui como raramente o fiz. Um escarrapachanço completo. De modos que este tasco me provoca sentimentos ambivalentes, tipo: quero cá vir, quero postar mais e ao mesmo tempo fujo disto, fujo de mim mesma. Porque isto cada vez exige mais de mim. Não são vocês, inúmeros e incontáveis. (A propósito, ó Melongue, a questão não é quantas palavras vocês conseguem ler. A questão é quantos minutos consigo roubar ao rachtaparta do trabalho que cada vez me absorve mais, que me está literalmente a engolir e eu sem saber como escapar...). Não, não são vocês. Sou eu, é ela, a Calamity. É o Nada. Criei um monstro.
E tenho saudades. Saudades daqueles primeiros tempos, tempos de inocência, a infância da blogosfera, se é que posso designá-la desta forma. Eu sei que, para muitos, aquilo que para mim foi o início já era um período bem avançado. Havia blogs com nome. Com história. Com passado. Com memória. Com milhares de visitas e comentários.
Mas o que recordo com nostalgia foram aqueles 2, 3 meses, que pareciam o período de lua de mel dos adictos. Em que não descansava enquanto não viesse aqui, a este espaço de encontro, e ao mesmo tempo de solidão. E agora parece que isto nunca me satisfaz. Uma droga, tal e qual uma droga. Passo a semana inteira a tentar arranjar um bocadinho para isto mas tudo o que penso pôr aqui não ponho. Ou ponho, mas não chega. Tivesse eu o dia inteiro, não seria o suficiente. Tivesse eu os dias inteiros. Já não sei se gosto disto ou não. Mas que tenho saudades, tenho

A escrita é bela mas dói. A vida é bela mas dói. Será que arde porque cura, a escrita? Ou irá doer sempre tanto, cada vez mais e eu sem nada poder fazer que não seja continuar???