Há dias fiz um teste (The Political Compass - desculpem lá mas não consegui gravar como deve ser para reproduzir aqui e repetir o teste ia demorar mais do que o que posso hoje) que encontrei no tasco da Tuxa. Destinava-se a situar-nos do ponto de vista político (esquerda/direita), económico e social. O resultado obtido indica que me situo à esquerda de Nelson Mandela e de Gandhi, num ponto para lá de qualquer juízo ou noção do mundo real. Aliás, o mais provável a seguir a esta posta é que metam numa camisa de forças e me internem compulsivamente numa unidade psiquiátrica de alta segurança.
Uma das perguntas colocadas no referido teste era qualquer coisa como "Concorda que a terra seja algo que se possa comprar e vender?". Pois bem, inúmeros e incontáveis, a verdade é que, embora sonhe com o meu quinhãozinho, onde possa um dia cultivar umas batatas e uns tomates e passar uma velhice mais tranquila, ouvindo a brisa agitar as folhas do arvoredo e observando as mudanças subtis dos tons de verde e castanho ao ritmo das estações, a resposta é "Não, não concordo". Como os índios, acredito que a terra não nos pertence. Se o sol, quando nasce é para todos, também a terra, a água, o ar e o fogo. Porque, para ser algo que se compra e vende, é porque pertence a alguém. E se pertence a alguém é porque esse alguém a comprou ou a herdou ou a roubou a outrem. E antes disso, o mesmo. E por aí afora. Mas um dia, teve de ter havido um tipo que chegou ali e disse: "Isto aqui é meu". E com que direito, pergunto eu?
Tenho andado com uma série de questões a incomodar-me o neurónio. Eu sei que a todas estas angústias não serão alheios o Inverno, os dias curtos, o frio. Mas regularmente assola-me um pensamento: a geração anterior à minha fez alguma coisa para mudar o mundo. Mesmo se deu na merda que todos sabemos. Mas ao menos, eles mexeram-se por algo em que acreditavam. Tá bem que hoje, estão quase todos sentados, acomodados. Mas, e nós??? Os que hoje têm 30, 40? O que fizémos nós? O que estamos a fazer? Que mundo é este que estamos a deixar aos nossos filhos? Não podemos fazer nada? TANGA! TANGA! TANGA!!!
O senhor Óscar Niemeyer faz 100 anos amanhã. No fim-de-semana passado deu uma entrevista ao Diário de Notícias. No final da mesma, dizia algo como:
“Acredito na revolução (...) O socialismo está dentro do coração das pessoas e não acaba de um dia para o outro. A revolução na União Soviética talvez tenha sido um acidente de percurso. O que é justo é um Estado correcto amando o povo, procurando criar um clima normal, de felicidade geral (...)”
O mesmo senhor diz também que a vida é um sopro. E eu, que acredito que temos uma missão na vida, caso contrário não sei bem o que estaríamos aqui a fazer, digo-vos, inúmeros e incontáveis: se há quem chegue aos 100 anos a acreditar na revolução, no amor e na felicidade, então temos de acordar rapidamente para fazer a nossa parte. A vida é um sopro, sim. Um sopro divino que tem de nos levar onde nós temos de ir. Fazer o que temos de fazer.
É possível mudar o mundo porque eu quero.
12/14/2007
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12 comentários:
Oi, Jane
Ele é um fofo não é mesmo? Se todos pensassem assim...
Uma passadinha rápida para dizer que citei seu post no Global Voices online. Veja os textos em inglês ou em português.. Tudo de bom,
Paula
Eu gosto tanto de ti que, às vezes, olho lá para cima a ler o cabeçalho, a ver se este, por acaso, não é o meu blog. Não estou, com isto, a chamar-te vulgar, óbiste? Tu és única nas tuas características; eu é que sou um bocadinho parecida contigo em algumas coisas. E onde somos todos parecidas desta vez? Costumo andar aos gritos a dizer que não devíamos paga IMIS e impostos de circulação porque a TERRA não é das Câmaras nem do Estado. A luz vá que não vá que é preciso muita geringonbça para sustentar o sistema. Mas a água, por exemplo, não devia ser por consumo, mas pela média de gestão de equipamentos que as levam as nossas casas, nada mais do que isso. Agora, claro, se algum burro decidir que devemos pagar o ar que respiramos, quero ver...
Gostei desse senhor. Calamity, assim com pequenas brisas, não faremos um bocadinho a diferença? Se todos soprassem um bocadinho, não era fabuloso? O pior é que a grande maioria dos que podem fazer a diferença preferem o "blow jobs" políticos e económicos. E essas sopradela não contam...
Assino ou já me conheces?
Li a entrevista que falas e fiquei a pensar nas palavras dele. Ontem vi uma reportagem a propósito do seu centenário e quando vi o senhor, que não parece nada ter 100 anos, pensei que aquele rosto quase sem marcas do tempo, deve ter a ver com o facto de ele acreditar na revolução, no amor e na felicidade.
Beijinhos
O pa, eu tambem fiz o teste mas nao sai tao a esquerda como tu, mas em termos de liveralismo, nem te digo nem te conto!!!
De qualquer forma ca esta a visita tao reclamada por ti.
Beijocas
Também quero fazer esse teste...agora fiquei com curiosidade
beijocas
Brilhante...
tu, o Neimeyer... ele por construir cidades e tu por me fazeres acreditar.
Obrigada miuda, as vezes pareco que esqueco... mas tambem eu, acredito na revolucao.
(como diz um querido amigo meu, mudei-me para a america para fazer a revolucao dentro do proprio sistema :))
p.s.
ja ha hora e sitio do jantar? nao sei como vai ser ver email em Portugal e nao quero faltar a grande festa!!!
Bora lá mudar tudo, então! Nós merecemos. E os nossos filhos, ainda mais...
Novidades para a janta? Diz coisas.
Beijinhos
Ora aqui está um post redondo!
Tu já ouviste falar daquela máxima que a ontogenia recapitula a filogenia, não ouviste? Pois cada vez mais me parece real, límpinho como a água.
Repara bem, no início dos tempos, quando a Terra e o Homem eram uma criança, havia terra para toda a gente. A minha criança, a lá de casa, ainda usa a máxima: - isto é meu! (que serve também, aqui pelos deuses do Olimpo, para o ajudar a gostar de coisas que diz que não gosta, quando a gente lhe diz primeiro que é nosso. Vem logo ele dizer - sempre - que é mas é dele! - É meu! (isto só não funciona com iscas, mas enfim lol).
Pois bem. Houve de certeza um macaco a dizer: esta terra é minha, compadres, bute daqui!
E assim começou a revolução! Deve ter sido logo a primeira, que achas? A matrix, pela terra, a nossa boa e fértil terra.
Depois vieram os impostos. Dizem que a gente não se livra de morrer nem de impostos, pois dizem, e eu digo que a gente anda cá há tanto tempo e não nos conseguimos entender. É só um sopro, pá, não há mais nada. qué lá saber, diz o outro, isto é meu, ou de meu governo (que ainda é pior).
Pronto é assim um comentário redondo. Tão redondo como pode ser o meu cantinho, depois de conhecer o mundo, e esperar que ninguém me mova dalí e me deixe descansar.
(aqui para nós CJ que ninguém nos ouve, acredito mesmo, nesta minha meia idade, que o maior tesouro que nos é dado nesta vida é o tempo. O tempo é o maior tesouro, não o espaço).
Um beijo grandinho.
Nesta minha meia idade, digo eu, com a autoridade das rugas e dos cabelos brancos, que posso tranquilizar-me, esta geração não é rasca, mas vive á rasca e tem consciência disso.
Pros jovens, já trintinhos e seus filhinhos, um beijinho do Pai Natal
Eu gostei deste Pai Natal que aqui escorregou pela chaminé! A sério que sim.
Luz de Estrelas
Trinhas eu sou o Pai Natal
Adoro-vos e estou também nas vossas portas 65 que o governo fecha e em tudo mais!
Um bom Natal para trintinhos e trintinzinhos
Prendas!
2008 muito bom!
Eu sei vocês abrem as portas arrombam se for preciso
xi-coração
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