10/29/2007

Saudades da Blogosfera (parte 2 e ainda não última - sorry!!!)

Aquilo dizia-me tanto, era-me tudo tão familiar. Impossível não comentar, não dizer allô, eu estou aqui, sou tua amiga, tua irmã. Disse-lhe. Ela respondeu-me. Foi ela, a responsável por eu ter voltado ao Nada. Por ter feito um novo início. Por ter assumido a personalidade da Calamity.
Depois, vieram a Carla, a Estrelinha, a Loira. Todas como bizarras, divertidas e sedutoras extensões de mim própria. Devagarinho, primeiro. Como que a medo. O desflorar tímido de novos territórios. O descobrir cauteloso do outro - da outra, neste caso. O feedback despontava, empático, hilariante, bombástico, avassalador. A Zuza, a Frenética, a Sandra J, a Rute. A CK. A Azulinha. Gaijas, gaijas. Desculpem se me esqueço de alguma. A ideia nem é ser exaustiva. Foram momentos excitantes, delirantes. Todos os dias, horas na PC da minha mãe, eu sempre sem net em casa. Bebé no berço. Bebé nos braços. Bebé a mamar e eu a blogar. A emoção de postar e esperar pelos comentários. De sair de blog em blog à descoberta do que tinham elas inventado para hoje. de comentar e comentar os comentários. O que iam elas responder? Iriam elas gostar? Os primeiros encontros. O perceber que não era engano aquela sensação de conhecer mesmo as pessoas. O prazer de conseguir ainda surpreender-me com elas. E outra vez o receio de postar, pois agora já as conhecia. Já tinham rosto. Já sabiam o meu verdadeiro nome, o meu nº de telefone. Mas era irreversível. O Nada tinha ganho vida própria. A Calamity tornou-se quase maior que eu. Mais corajosa, pelo menos. Porque se expõe de uma forma que eu nunca teria ousado. Nunca ousei. Alguma vez ousarei?
Com quatro meninas que tinham ainda mais pontos em comum comigo do que as outras todas - por afinidades do coração, da cabeça e de ganha-pão, o que acaba por unir mais as pessoas do que se possa julgar - formou-se uma Estrela de 5 pontas, uma Estrela de Estrelas que brilhou e aqueceu os nossos corações para lá da blogosfera, para lá dos pequenos-almoços em tom de 'O Sexo e a Cidade' versão lisboeta com menos sexo, menos cidade, mas mais projectos, efervescência barulhenta e louca, que acabava sempre muito antes de ter começado a render coisa que se pudesse aproveitar realmente. Brainstormings frutuosos mas a pedir mais, a exigir sempre mais e nós a ter que ir, chamadas pelos filhos, pelos gaijos, pelo trabalho, o trabalho, o trabalho, o trabalho. Uma das pontinhas fazia-se sentir à distância, mas a presença dela era tão, mas tão forte que sinto desde então que ela sempre esteve lá. Até hoje, não lhe senti a consistência do abraço, mas conheço-lhe a composição da matéria. Verdadeira poeira de estrela. Luz capaz de trespassar a distância e a escuridão.

Mais à frente apareceram os primeiros gaijos. Um embate - aguardado mas temido . Enquanto as coisas se mantêm no âmbito estritamente feminino, tudo é permitido. Entre mulheres vai-se à casa de banho e, se não fomos à depilação, tudo bem. Elas entendem. Agora tirar as calças sem ter tratado do contorno do bikini é coisa que não se faz em qualquer praia. Estranhamente, a entrada dos homens no Nada não me bloqueou. Nem mesmo depois de, pelo menos um deles passar a ter rosto, nome, cheiro (como ele próprio referiu) e nº de telemóvel.

(continua)
P.S. Desculpem-me os inúmeros e incontáveis, mas o dever chama-me. Não se trata absolutamente de uma estratégia de marketing - se bem que até é capaz de funcionar... heheheh! Volto assim que puder, ok?

10/26/2007

Saudades da blogosfera

Como todas as paixões, esta foi nascendo sem que me apercebesse bem do que estava a acontecer. Foi-se insinuando, crescendo, ganhando espaço e, quando dei por mim, estava apanhada. Literalmente enredada. Começou por ser um mundo fascinante, mas que eu visitava como outsider, uma curiosa que não ousava imiscuir-se num meio a que não pertencia. Tipo penetra numa festa para a qual não tinha sido convidada.

Um dia, ganhei coragem, e, com a ajuda do gaijo que vive lá em casa - como dizia uma saudosa blogueira dissidente da nossa praça - , criei o meu tasco. Na altura não conhecia ainda os babyblogs nem os fotoblogs ou os musicblogs, nem os blogs de gaijas, de gaijos, de sexo, de comida, de livros, de escovas de dentes, de guarda-chuvas, de escárnio ou maldizer. Mas sabia que escrever era a minha vida, uma necessidade quase visceral, e que um blog era um espaço só meu, no qual podia ser a minha própria editora, escolher o assunto, a linguagem e a dimensão dos textos, parvejar, praguejar e divagar ou depressa, ir onde bem entendesse e até corria o risco de... ser lida.

(Sim, inúmeros e incontáveis, não me venham com tangas. Se a malta escreve, não é para si própria - eu, pelo menos, não acredito nisso. O mais solitário dos escritores, o que guarda os poemas e romances na gaveta e não diz a ninguém que os tem, se esconde para sacar da pena e do caderninho e dá ares de não saber alinhar duas palavras seguidas sonha secretamente com o Nobel da literatura. Ainda que afirme aos quatro ventos que o faz para se entreter, de si para consigo, como hobbie, como disciplina, em jeito de registo, pela necessidade de uma companhia e trinta por uma linha, tenho para mim - quem é que no outro dia confessava ter um fraquinho por esta expressão e andar há tempos à procura de uma ocasião para a utilizar? Se calhar era eu própria, perdoem-me os inúmeros e incontáveis, mas esta cabecinha já trabalhou melhor, ai já já... -que o faz na esperança secreta que os escritos sejam desencantados por alguém, publicados e revelados ao mundo ainda em tempo útil, que é como diz, de preferência antes ter retornado ao estado de pó e condenado à imaterialidade eterna. Pois criticai-me e - quiçá? - condenai-me até, à vontadinha que eu cá não vou nesses grupos do escritor autista que escreve apenas para si próprio. Todos escrevemos para alguém.)

E portantos, dizia eu de que, quando criei o tasco, o fiz com o duplo intuito de alcançar a liberdade editorial e de ter quem me lesse - que na altura não tinha emprego nem trabalho na minha área e, mesmo que o tivesse, debatia-me com uma dúvida existencial de peso, pelo menos para mim: se acaso eu tinha quem me lesse, o que pensariam esses 4 leitores? Além dos meus pais e um ou outro amigo mais entusiasta, desde os tempos da escola era assolada pelo deserto angustiante constituído pela total ausência de feedback em relação aos meus escritos. Há que confessar porém que esta necessidade sempre foi paradoxal, pois nos ditos tempos da escola não havia nada que me constrangesse mais do que ser lida em voz alta frente à turma inteira, ou, pior ainda, solicitada para ser eu a ler uma redacção perante toda a gente. Nó na garganta, lágrima embargada, embaraço total - nem quero lembrar-me...

Mais tarde, como raramente mostrava a quem quer que fosse o que quer que escrevesse - sim, porque eu desejava ter leitores, mas era limitada por um imenso pudor, um pudor tão desmesurado que me levava a guardar tudo na gaveta e a nada mostrar, a não ser aquilo que fosse publicado (nos tempos em que tinha trabalho como jornalista ou nas raras vezes em que me decidi a enviar escritos para aquelas secções dos jornais dedicadas aos jovens com aspirações a escribas) - e que eu desejava secretamente que ninguém das minhas proximidades lesse, não fosse gostar, ou não gostar, não fosse eu ser confrontada com qualquer manifestação em relação a uma linha que fosse por mim produzida - mantinha baixas, baixíssimas as probabilidades de obter retorno. Claro que, no meu íntimo, eu sabia que, quanto menos pessoal fosse o texto, menos embaraço me causava mostrá-lo. Mas aí, também, o interesse no feedback que este pudesse provocar diminuía proporcionalmente. No limite, se eu escrevesse um poema, só teria coragem de o publicar sob pseudónimo, não fosse alguém descobrir que era meu antes, pelo menos, da total consagração. Paradoxal, eu sei, mas ainda assim autêntico.

Bom, mas, como de costume, deixei a coisa fugir para a estratosfera.
Falava então de quando resolvi criar o Nada Como Realmente, ainda na versão antiga, sem layout webdisaster, e também sem um único dos inúmeros e incontáveis. Postei duas ou três vezes, não tive qualquer comentário e durante um ano - que correspondeu com a minha gravidez da miniCalamity - nunca mais regressei. Foi durante esse tempo que descobri como funcionava a coisa, e simultaneamente que, pela primeira vez, me apercebi de que existiam várias blogosferas, uma das quais recheadas de recém-mamãs e mamãs to be, as quais escreviam sobre as suas experiências e trocavam galhardetes, conselhos e miminhos. Curiosamente, talvez porque tivesse tropeçado nos babyblogs por motivos de trabalho, não me atrevi durante muito tempo a pronunciar-me, embora tudo aquilo me dissesse imenso respeito, já que era mãe de um filho, me preparava para sê-lo de uma menina, e que tenho a mania de meter o nariz em tudo. Mas, mesmo assim, mantive-me em quase-silêncio embora visitasse diariamente vários babyblogs nos quais comentei talvez três ou quatro vezes, apesar de nunca o ter feito como blogger.

Um dia, porém, não me contive. Estávamos em Março do ano passado. A miniCalamity tinha uns dois ou três meses. O blog que eu mais frequentava era o da Mãe Trintinha, provavelmente alguns dos inúmeros e incontáveis se lembram. Um comentário de uma tal Horas Vagas chamou-me a atenção. Fui ver. Li o blog do princípio ao fim.

(continua)

10/12/2007

Buacos e buaquinhos, fuínhos e crateras

Ia hoje no autocarro quando tive uma visão do inferno. Felizmente existem os blogs qu'é prà malta exorcizar estas coisas, qu'ó senão ficam aqui dentro a modos qu'a torturar a malta por dentro e ós pois a malta nã consegue concentrar-se noutras coisas que não seja no rachataparta da imagem que ficou a trabalhar-nos a mioleira, ó cum catano...
Mas ia eu no autocarro, que, como vós, inúmeros e incontáveis bem sabeis, é local propício à observação científica do bicho-homem nas suas diversas manifestações, especificidades e bizarrias. O espécimen ia mesmo à minha frente, o que me permitia contemplá-lo nos seus vários ângulos, à medida que ele fixava o horizonte ou espreitava alternadamente à esquerda e à direita.
E, inúmeros e incontáveis, que deuxnoxenhor me perdoie, mas às vezes, acho que debia d'haber assim a modos qu'uma autoridade que pusesse alguma ordem nisto, qu'a malta precisa, pra poder trabalhar no dia-a-dia, de alguma tranquilidade e até diria serenidade de espírito e assim, inúmeros e incontáveis, desculpai-me lá o desabafo, mas definitivamente assim não há condições e sobretudo, num habia nexedidadejejeje.
Eu cá devia ter uns 15 anitos quando furei a orelha direita, e foi um furinho maneirinho e óspois passadas umas duas semanas apercebi-me de que a malta quando olhava pra mim, via-me de forma diferente daquilo que eu me via no espelho, ou seja, o meu lado direito passava pró lado esquerdo e versa-vice, isto é, a bem dizer tinha-me enganado e o que eu queria furar era a orelha esquerda e vai daí, pimba, fui à ourivesaria, que era onde naquele tempo a malta furava as orelhas, que naquele tempo a bem dizer, ainda não havia destas modernices de furar narizes e umbigos e outras partes qu'o pudor não me deixa designar aqui neste espaço de total recato e fui então à ourivesaria e vai daí, pimba, furei a outra orelha. Vai daí uns meses ou, vá lá, um anito depois, como eu gostava muito de usar brincos e tinha muitos e andava naquela onda de ser diferente e apreciava uma certa assimetria que associava à criação de uma imagem de rebeldia e originalidade e vai daí, pimba, fiz mais um furito, se não me engano outra vez na orelha direita, mas isso agora não interessa nada. Isto era só pra dizer que me fiquei por aí em matéria de autoperfuração, mas desenganai-vos, inúmeros e incontáveis, se julgais que tenho algum preconceito em relação aos piercings. O meu sentir em relação a tão fascinante e mui nobre assunto de divagação é tão-somente que, aqui como noutros lugares, há - ou deveria haver - um certo sentido estético na arte de bem furar e que há visões que, por assim dizer, ofendem a minha noção de belo e, ouso até dizê-lo, me deixam a pensar que, por vezes, deveria haver mais cuidado com a vista das pessoas que nos rodeiam. Quer dizer, há criancinhas, há velhotes, há pessoas que sofrem do coração e eu não desejaria ser responsável por nenhum enfarte do miocárdio. Nunca esquecerei o susto que preguei à minha velhinha tia-avó, no dia em que a senhora avistou o piqueno espermatozóide que eu usava na orelha esquerda e julgou que eu trazia ali um bicho. Nem a gargalhada singela, franca e aliviada que largou, ao compreender que se tratava afinal de um inofensivo e prateado brinco...
Pois eu gosto de ver um nariz bonito ornamentado de um discreto brilhante ou até uma sobrancelha arvorando uma argola de prata. Admito, embora não lhe entenda o atractivo, que certas pessoas se excitem com o uso de jóias nos mamilos, clitoris e até testículos e pénises (sim, sim, inúmeros e incontáveis, lestes bem, pénises). Agora desculpai-me, mas quem irá suavizar aquela visão do inferno que consiste em avistar de ambos os lados de uma cabeça humana, e no lugar onde deveriam estar dois lóbulos de orelha, pedacitos de carne que, em caso normal não mais medem do que escassa dezena de milímetros de diâmetro, um buraco, perdão, uma cratera na qual se conseguiria fazer passar deixando larga margem uma moeda de dez escudos das antigas??? Digai-me, inúmeros e incontáveis, haveria lá nexexidadejejejeje??? E agora? Que vou eu fazer? hein? Como irei eu esquecer??? Poderia jurar que, espreitando por tal orifício, consegui a determinada altura um grande plano de excelente legibilidade da totalidade da manchete, vulgo parangona desse grande monumento à discrição e à letrinha miudinha que dá pelo nome de 24 horas. E quem o lia seguia dois lugares à frente...

PS - qu'é como quem diz Posta Escrita, qu'é como quem diz Lasta mas não Lista: Dedico esta posta à linda Azulinha. Ela sabe porquê...