2/03/2009

A Minha Própria CCI

Começo por desde já repor a legitimidade: quis roubar a rubrica à Carlota e para a coisa não ficar logo escarrapachada no título encontrei esta 'solução': arranjar uma sigla que disfarçasse um pouco o meu acto de usurpação. Para os ínúmeros e incontáveis que eventualmente tenham resolvido prosseguir na leitura desta já de nascença enjeitada posta aqui fica o título por extenso: A Minha Própria Colecção de Coisas Irritantes.

E vou já avisando que são aos montes. Herdei do meu querido pai o feitio sagitariano cruzado de neurótico o que deu como resultado que sou de facto uma mecinha muito irritadiça. Tudo me irrita. Irrita-me tanta coisa que às vezes até me irrita este meu irritar tão rápido. Tão lesto, tão pronto a manifestar-se ao mínimo factor irritógeno. O que, diga-se, é algo que abunda neste nosso sonso e pacato paraíso à beira-mar plantado. O que é dificil é passar mais que uns instantes sem nos irritarmos, a não ser que estejamos a dormir. E mesmo assim, é sabido que existem dúzias de coisas que podem irritar o nosso sono: moscas, melgas e mosquitos, vizinhos barulhentos, digestões difíceis e filhos em crise. Mas acordados dificilmente deixamos de nos irritar. É que coisas irritantes não faltam à nossa volta. Eu até defendo a teoria que Portugal se devia virar para esta indústria e esquecer o turismo. Deixem lá isso para os países onde faz mesmo bom tempo. O clima tuga é apenas um mito. Dediquem-se antes a aperfeiçoar essa grande especialidade nacional que consiste em ser particularmente irritantes, irritadiços e profissionais do irritanço. Trabalhem em prol do desenvolvimento dos ícones irritógenos que irei apresentar em seguida. Descubram ou inventem outros. É um sector inesgotável. Verão que há poucos locais como o nosso querido país capazes de reunir num espaço tão diminuto como, por exemplo, a cidade de Lisboa, tanto objecto, hábito, comportamento, mobiliário urbanístico ou outros itens da mais variada natureza tão profundamente irritante ou susceptível de provocar irritação directa ou indirectamente.
Ontem durante a tarde tive a ocasião de me deparar com vários, já que fui a um local onde eles existem em grande número: um centro comercial. Começando pelas escadas rolantes. Há poucos fenómenos tão bizarros como o comportamento de um português diante de uma escada rolante. E, no entanto, há mais de duas décadas que elas foram implantadas em Portugal. Duas gerações, pelo menos, já nasceram com elas. Outras duas, ou até três, aprenderam - ou deviam ter aprendido - a conviver com este apetrecho típico das cidades contemporâneas. Como nos filmes de Hollywood, qualquer semelhança entre elas e um elevador é mera coincidência. Ou pelo menos, deveria ser. Elas até trazem uns sinais quanto a mim facilmente descodificáveis que nos informam do seguinte: Estacione à direita; circule pela esquerda. Onde se lê 'circule' deverá ler-se 'suba' ou 'desça', já que estas escadas costumam ser a direito, sendo que circular se torna algo complicado; mas esta realidade já existe no código de estrada e não parece causar tanta interpretação errónea. À falta de rotundas, há um certo número de pessoas que consegue perceber o que esta mensagem significa. E não estacionar sistematicamente em segunda fila, que, por sinal, no caso em questão, é a única pela qual se poderia circular. Pois até ao dia de hoje não encontrei uma alminha neste país que se comportasse em condições numa escada rolante. E não é só num centro comercial, o qual, poderiam os inúmeros e incontáveis argumentar, sendo um templo do consumo não é compatível com a situação de pressa. Quando o cidadão tuga se depara com uma escada rolante, seja lá onde for, mesmo que seja no metropolitano a trinta segundos da partida do último comboio, chega, estaca e ali fica. E se uma pessoa quer subir ou descer, que é para isso que elas servem, isto é, para nos ajudar a fazê-lo com mais celeridade e não para o fazerem por nós, já que para isso existem os elevadores, que muitas vezes se encontram no mesmíssimo espaço, se uma pessoa quiser, digo, subir ou descer, tem de zigzaguear nos poucos espaços deixados vagos, pedir mil vez com licença, e ainda ser fustigado com mil olhares de rávia, ódio, escárnio e maldizer como quem diz, olha esta malcriadona a querer passar à frente de toda a gente!!!
Mas prossigamos nesta incursão à montra de coisas irritantes que se podem encontrar num local aparentemente tão inócuo como um centro comercial. Nas casas-de-banho em geral, temos direito a mais duas: a primeira, assim que chegamos à torneira e a abrimos. Chamam-lhe inteligente. Inteligente como? Por que carga de água?!! Só se for daquela que iremos gastar quer queiramos quer não! Pois se aquela trampa deixa de correr quando estamos prestes a desaparecer sob a intensa espuma produzida pelo sabonete líquido que cheira a pastilha elástica obrigando-nos a carregar de novo com toda a força e com as mãos terrivelmente escorregadias, mas depois de eliminado o dito sabonete, aquilo parece comporta de barragem em dia de cheia e continua a deitar água suficiente para encher várias garrafas de litro e meio!

Depois, secar as mãos. Mas onde terão ido parar aqueles maravilhosos rolos de toalha de pano imaculadamento brancas que desapareciam à medida que os usávamos e que asseguravam o carácter ecológico dos nossos lavabos públicos? Eu até compreendo que já não se usem toalhetes de papel - o que, em última instância, seria preferível, já que o papel higiénico acaba por ser utilizado no seu lugar, mas como se desfaz facilmente gasta-se provavelmente muito mais sendo que depois vai para a sanita e não para o cesto - agora existirá alguma criatura com mais de catorze anos que realmente goste daqueles secadores automáticos? Que além de barulhentos, gastam energia e não secam coisa nenhuma a não ser que estejamos dispostos a passar ali o resto da tarde?

Saído para a rua em busca de um pouco de paz encontramos logo outro item desta colecção virtualmente infinita: os passeios. Mas quem raio se terá lembrado de não os fazer suficientemente largos para aqueles grupos de pessoas que decidem ocupá-los por completo? Por que razão obscura não terão eles todos pelo menos quatro metros de largura e corredor de escoamento para chatas como eu?

Um objecto que definitivamente, para ser autorizado, deveria ser sujeito a uma vistoria por uma entidade independente ou então, como os seus congéneres, à obtenção de uma licença de uso e porte de arma, são os guarda-chuvas, vulgo chapéus-de-chuva. Para já, onde terão ido buscar este nome? Toda a gente sabe que um chapéu é um objecto que se usa em cima da cabeça. E mesmo a palavra guarda, está bem, pois da forma como muitas pessoas o usam, está-se mesmo a ver o motivo: "En garde", grita o objecto que trazem ameaçadoramente espetado na nossa direcção como quem dissesse "E se não te pões a pau, eu chego-te" (Like american say: if you don't put you a stick, I'll arrive you"). Embora 'chegar' seja pouco mais que um eufemismo. Trespassar seria um termo mais adequado. Quanto à terminação 'chuva', enfim, releva da mais óbvia falta de observação. Guarda-distâncias, sim faz todo o sentido. Agora guarda-chuva? Para guardar a chuva, os dito-cujos deveriam apresentar-se ao contrário, de outro modo, como fazer? Pois se ela lhes escorrega por cima?!!

(continua)
(assim como a série das Sopeiras, para gáudio de um(a) certo(a) anónimo(a) que me brindou com uns mimos e que faço questão de presentear com mais uma das minhas incontornáveis postas, assim como um lugar especial no pódio da Minha Própria CCI)

22 comentários:

Rita Camões disse...

Muito bom :) (aliás como sempre)

sabes uma coisa que sempre me tirou do sério, era aquela piadita que faziam com o meu nome quando eu era cachopa: - olá ir(rita) lol

bjkas

M disse...

lol

eu sou das q pedem licença nas escadas com o olhar [para pastar é À direita!!!].

cá continuarei à espera de novos lençóis, vulgo postas ;)

bj meu

Sinapse disse...

Fantástica!! adorei!
Cá estarei pespegada para te ouvir (ler) discorrer sobre as coisas que te irritam. E, já agora, confesso-me tal e qualzinha: sou de facto uma mecinha muito irritadiça. Tudo me irrita. Irrita-me tanta coisa que às vezes até me irrita o meu irritar tão rápido. Tão lesto, tão pronto a manifestar-se ao mínimo factor irritógeno.
;D

Anónimo disse...

A mim irrita-me chegar aqui e nao haver nada de novo para ler...
beijos

Anónimo disse...

Caramba,amigo! Escrevi esta há menos de 24 horas! Se me pagarem o ordenado, até q ñ faço mais nada ;-)))

Anónimo disse...

Obrigada, Rita, Tânia (aparece mais vezes ;-), Monikyta, Sinapse. Gosto de vocês, miúdas. Mesmo se não deixo sempre sinal. Bjs

Pitucha disse...

Sou eu, sem tirar nem pôr. Só que eu já deixei de ir a centros comerciais... mas esses seres irritantes pululam por todo o lado!
Beijos

Madalena disse...

irritante irritante para mim são as infindáveis reuniões de Conselho pedagógico.... Mas não contes a ninguém. Não vale a pena. Já todos sabem. Lol. Hoje tenho uma. Apetece-me fugir, mas não, não vou cometer uma loucura por causa de uns tantos decretos-lei, sem sensibilidade, sem imaginação, sem nada. Jinhos

M disse...

e a SORTE q é ir a um centro comercial, um especifico ali na 2ª circular, qd ao lado há jogo de futebol??? é do melhor q há maxi-calamitosa!! ou n, ou n... :P

Flores disse...

Eu, sagitariana cruzada de neurótica :D, tb tenho um belo rol de coisas q me irritam. O trânsito (não-pedonal) é um manancial de IPI (irritações profundamente irritantes.)

Loira disse...

Ai, gaja... só tu. É q ainda não consegui parar de rir (o q seria normal não tivesse eu lido a posta há uma hora :D).
Eu perco anos de vida com as escadas rolantes. Não percebo. São regras básicas.
beijo

escarlate.due disse...

1º chama os nomes que quiseres porque ditos com aquele sentimento são bem vindos

2º eu que até já aqui tinha vindo espreitar (ok ok era cuscar mesmo! mas parecia mal escrever isso aqui) olhei para este post e pensei "caramba esta gaja escreve ao km???"
mas como sou muito curiosa (a palavra certa é mesmo cusca) acabei por começar a ler e depois... continuar a ler e... ler até ao fim
e sabes uma coisa? descobri que tenho uma data de CCI análogos aos teus

Mae Frenética disse...

LOLOL
A mim irritam-me os tupperwares. Mal pego num, caem-me sempre os otros em cima (isto resolvia-se ao passa-los para uma gaveta de baixo, mas eu sou teimosa.)

Luz de Estrelas disse...

eheheheheheheheheheh

Mais, mais, mais! Olha lá, o anónimo parece-me pouco anónimo. Parece-me mais um qualquer conhecido teu a afogar-se em baba e fel.

Papoila disse...

MUITO bom!
e partilho das tuas irritações e mais: irritam-me as pessoas que se lembram de começar a atravessar a rua quando já está vermelho porque o nosso (do carro) ainda está também vermelho e quando muda para verde ainda vão as alminhas a meio da passadeira; irritam-me as pessoas que vão PASSEAR para o supermercado e ainda andam a ziguezaguear pelos corredores, parece que têm um olho atrás (ai isto ainda vai correr mal...) porque sabem exactamente quando vamos a tentar passar pelo seu lado direito; irritam-me os funcionários da CGD em geral; irrita-me que as laranjas ensacadas custem €0,75 o quilo e as avulso €1,50......
and soion and soion...

Anónimo disse...

nao falava deste, mas foi o que me ocorreu, confesso que sou tao pouco assiduo como tu, mas... irrita-me chegar a um blog que gosto e nao ter nada de novo para ler!
Mais beijos

anne disse...

partilho as irritações que mencionaste, mas digo-te que essa dos secadores é coisa que me deixa sempre mais que fula. Acabo sempre a esfregar as mãos nas calças (linda imagem...)

Luz de Estrelas disse...

Ptc, e eu seco-as no cabelo. Ainda é mais ridículo, a bem dizer. Faço de conta que estou a "molhar" os caracóis e pronto. LOLLLLLLLLLLLL

calamity jane disse...

Malta!!! Vamos lançar uma petição nacional contra os secadores de mãos??? Pel q vejo ñ há quem goste (eu já desconfiava...)

Tita Dom disse...

Só me ocorre!
Porra adoro a tua escrita!

M disse...

venho por este meio deitar mais lenha na fogueira e dizer q: os secadores de mãos são um antro de ácaros!!!!!!

luz maior, tb dou um jeitinho nos meus caracoles! :P

Carlota disse...

Já vi que vai haver muito material para a troca. A questão é, quem é que quer trocar coisas irritantes?
;)