4/20/2010

Hamlet sec. XXI

Contrariar a minha natureza. Dar por mim a pensar todos os meus gestos. A medir todas as minhas palavras. A calcular o impacto de toda e qualquer acção. Hesitar antes de tomar uma atitude. Pesar os prós e os contras e mesmo assim acabar por fazer exactamente o contrário. Arrepender-me do que fiz e do que deixei de fazer. Não ser eu. Não dizer o que penso. Pensar longamente antes de falar e acabar por meter os pés pelas mãos. Não dizer o que sinto. Dizer o que sinto mas da forma errada. Achar a cada passo que devia estar a ir para o outro lado. Voltar atrás e parar. Pensar: o melhor é estar quieta. Pensar: o que tem de ser tem muita força. Pensar: se não lutares pelo que queres ninguém to vai dar de bandeja. Pensar: se eu fizer isto então aquilo. Pensar: se eu não fizer aquilo então isto. Achar-me absurda. Achar-me. Perder-me. Perder-me de mim. Querer voltar a mim. Querer mudar. Querer ser outra. Querer-me de volta. A mim. Querer voltar a mim. Querer voltar a ser eu.

4/19/2010

Não digo que tivesse de ser linear


mas será que a minha vida não podia ser só um bocadinho mais normal???



imagem daqui

4/12/2010

O pó e as cinzas

Fomos fogo e chamas, brasa e dor, dor, dor sem fim.
Fomos luz e sombra, sol e noite, noite, noite sem fim.
Foste tudo e partiste, tinhas pressa de chegar sem saber para onde ias
Foste ouro e prata mas em pó te fizeste para em cinzas te sumires
Porque eras fogo e a ti próprio queimavas
Porque ardias em ti e a ti mesmo consumias
Mais forte que o amor, mais forte que a infância, mais forte que a inocência que a idade clamava
Foi o pó que em cinzas te levou mas até hoje te quedas nas brumas

(será que quiseste que, 15 anos depois voltasse a sentir toda a dor da perda? não sabes que a dor nunca morre? apenas flutua e muda de cara de quando em vez...)