4/28/2006

Chamem-me o que quiserem

Retrógrada. Reaccionária. Conservadora. No mínimo, mãe galinha. No mínimo, lírica. Eh pá, chamem-me lá o que quiserem. E digam também, que eu assino por baixo:
1) Os automobilistas portugueses em geral, a maior parte dos taxistas e dos condutores lisboetas em particular são inconscientes, desvairados e alguns até são uns assassinos. Muitos são/andam bêbedos mas até parece que não era este o caso.
2) O governo, a câmara e, em geral, as entidades que deviam 'ter mão nisto' tudo não têm, lavam as mãos, não protegem os cidadãos, não antecipam as tragédias, não asseguram as condições de segurança mínima para a vida das pessoas: como se pode compreender que num local como a Av. de Ceuta, a escola das crianças fique de um lado e o bairro onde moram as pessoas do outro sem que tenha sido prevista uma estrutura aérea ou subterrânea entre um lado e outro e IMPOSSIBILITADO que o atravessamento fosse feito de outra forma???

Concordo com isto tudo e provavelmente com outras coisas mais. O que não posso compreender é como é que os responsáveis por uma criança de oito anos sabendo isto a deixam entregue a si própria. Desculpem, e chamem-me o que quiserem mas NINGUÉM está preparado para atravessar uma estrada - e é disso que se trata - daquela perigosidade (estamos a falar de seis faixas de rodagem - seis). Nem mesmo um adulto. Como podem então deixar que aquela - e outras, oh meu deus, nem quero pensar - criança vá e venha sozinha da escola atravessando aquela estrada assassina??! Como puderam deixar??!!! Desculpem e chamem-me o que quiserem. Mas desta vez eu tenho pena daquele taxista. Que provavelmente nunca mais vai dormir descansado.

O meu filho tem oito anos e desde pequenino que aprendeu a atravessar as ruas. No entanto, ainda não vai sozinho para a escola que é bem perto e não sei quando irá. É que (eu não sei em que país vivem os habitantes da Quinta da Cabrinha na Av. de Ceuta mas) eu vivo num país em que crianças morrem por caírem em bocas de esgoto deixadas destapadas por negligência e por apanharem choques de alta tensão nos semáforos. Por enquanto vou continuar a acompanhar o puto para todo o lado. Chamem-me o que quiserem.

Descansa em paz, miúda Rafaela. Vieste sem dúvida parar ao sítio errado.

4/26/2006

Vinte anos depois, e porque a memória é curta, é preciso reafirmar com força



... e vai assim em francês porque não consegui arranjar nenhum com um tamanho digno em português, nem mesmo em inglês. Se soubesse como se diz em russo...

25 de Abril sempre



... fascismo nunca mais!


Estou tão contente! Publiquei o primeiríssimo post com foto! Yes!

4/23/2006

Banda Sonora de uma manhã de domingo

Ou
De como gerir a irritação saudavelmente quando eles – os gaijos, claro! - nos tiram do sério *
Ou ainda
Quem canta, dança, salta e rebola seus males espanta – e os vizinhos também!
(a colocar em altos berros e com direito a espectáculo total enquanto ela, sentada na sua cadeirinha, me olha com um ar vagamente irónico e francamente divertido - há quem já nasça a saber de tudo, não é gaijinha pecanina?!)

Beck – Looser
Vaya con Dios – Girls don’t cry for Louie
Ella Fitzgerald & Louie Armstrong – Dream a Little Dream of me
Humanos – Vou Viver (aqui admito que houve uma certa quebra; pelo menos DJiingamente falando, a transição não foi das melhores…)
Janis Joplin – Me and My Bobby Mc Gee
Chico Buarque – Amanhã vai ser outro dia (preparar o leite com chocolate do gaijinho pequenino)
Sérgio Godinho – Etelvina
Skunk – Jackie Tequilla (mudar a fralda cheia de merda da gaijinha pequenina - “…vaca cadela macaca gazela/linda toda toda linda ela/toda a beleza se reconhece nela…”)
Gilberto Gil – Vamos Fugir (eu e ela, claro!)
The The – Uncertain Smile
James Brown – Sex Machine ("... I'm feeling like a sex machine..." - é mentira, mas não faz mal – ninguém precisa de saber)
David Byrne & Marisa Monte – Waters of March = Águas de Março – versão Red Hot + Rio
(“... é a lama é a lama…”)
Maria Bethânia - Tigreza
Terence Trent d’Arby – Supermodel Sandwich
Lou Reed – Sweet Jane – versão Rock’n’Roll Animal (à falta da versão Cowboy Junkies)
Aretha Franklin – Think (à falta de R.E.S.P.E.C.T)
Caetano Veloso – Samba e Amor ("... não tenho que prestar satisfação")

Quando for grande quero ter um programa de rádio!

* dedicado aos meus inúmeros e incontáveis leitores do sexo masculino e ao santinhos que vivem com as minhas amigas bloguistas – sem pinga de malícia, mas, admito, com alguma ironia. E, uns e outras, desculpem qualquer coisinha, sim???!!!

4/22/2006

O Estado da Nação (ou o resto do mundo burning)

Não é o programa da RTP com o mesmo nome nem a discussão com o mesmo nome que ocupa aqueles senhores lá prás bandas de S. Bento. É o título em português de um filme, ou melhor um documentário austríaco que vai passar um destes dias no festival Indie e que eu já vi. Apesar de já ter uns anitos, é inédito aqui no burgo e é de pôr os cabelos em pé. Nele somos confrontados com o discurso na primeira pessoa de algumas dezenas de austríacos falando sobre si próprios e o que pensam das coisas. Eu pensava que o povo português era retrógrado, racista e sexista. Mas aqueles gajos são simplesmente nazis. Xenófobos, chauvinistas, anti-semitas, homofóbicos, machistas - até elas! Numa palavra: um vómito. Um esterco.
Fui ao Google à procura e encontrei o que procurava: as palavras que me têm estado na cabeça o dia todo, mas como já passaram doze anos (sim, 12! é verdade!), não conseguia lembrar-me com exactidão. Em certas circunstâncias, acho que eu também sou partidária da lavagem cerebral! (nº 5)

Portugal Burning - Capítulo 3

Lisboa, Convento de S. Domingos, 19 de Abril de 1506 - Domingo, 15h00

Naquele Domingo de Páscoa, a igreja estava repleta de gente, uns esperando um sinal divino que fizesse renascer a esperança - numa capital assolada pela peste - e outros, porque convinha, convertidos à força que eram por via do "Édito de Expulsão" datado de uma década mais cedo e que tratava de excluir os judeus de uma sociedade onde eles se tinham tornado demasiado importantes para o reino. Antes mesmo da instuição do "Santo Ofício", milhares tinham então sido obrigados a baptizar-se e a agir como "bons cristãos", fosse lá isso o que fosse.
Estavam pois todos na Igreja, uns esperando um milagre, outros para serem vistos pelos primeiros.
Foi então que ele se deu, o milagre. Pelo menos houve quem assim o visse. Conta quem assistiu, que eu na altura ainda por cá não andava - excepto encarnação anterior de que francamente não duvido mas também não me lembro - conta quem assistiu, dizia eu, que a determinada altura, um crucifixo iluminou-se inexplicavelmente. Vá então de clamar por milagre. E eis senão quando o herege, o blasfemo, o cristão-novo ousou colocar outra hipótese. Não teria sido antes o sol, que, entrando por uma fresta, iluminara o símbolo religioso? Bom, ok, provavelmente, o imprudente terá sido um pouco mais afirmativo. Talvez até tenha dito algo como: "Eh pá, meus senhores, desculpem lá, mas aqui não há milagre nenhum. Então não se está mesmo a ver que é um raio de sol??!! Ora olhem lá ali para aquele buraco! Estão a ver??"
Vamos lá então admitir que foi assim que as coisas se passaram. Pois bem. Tenha lá sido a forma como o desgraçado falou, o certo é que foram as suas últimas palavras. "Mal proferiu a contraproducente 'blasfémia', o povo caiu sobre ele e agrediu-o barbaramente até cair inanimado. Prostrado no Largo de São Domingos, foi identificado pelo irmão, que se debruçou sobre o seu cadáver e gritou lancinantemente: 'Quem matou o meu irmão?!'. Acto contínuo, foi igualmente executado"* pelo povo em fúria com a cumplicidade de dois frades dominicanos. Todos juntos, acenderam uma fogueira na qual queimaram os dois irmãos e, proferindo apelos inflamados e raivosos, espalharam-se pela cidade em busca de mais vítimas do seu ódio destruidor. Gritavam: "Heresia, Heresia! Destruam o povo abominável!"
Ao longo de 3 dias de pilhagem e carnificina, apanharam e mataram quatro mil cristãos-novos, entre homens, mulheres e crianças que queimaram nas várias fogueiras entretando acesas por toda a cidade.

Lisboa, 19 de Abril de 2006, 20h00

Respondendo ao apelo pacífico lançado via blogosférica e não só, meia-dúzia de pessoas ainda se encontravam no Largo de S. Domingos, depois de uma cerimónia discreta, de homenagem aos mortos de 1506. Trata-se tão-somente de acender umas velas para que estas simbolicamente "iluminassem a memória". Cerimónia essa que, diga-se, já tinha, antes mesmo de acontecer, levantado uma inacreditável polémica na blogosfera e não só - vá-se lá compreender porquê, há quem se sinta incomodado com quem teima em perpetuar a memória dos seus ancestrais, mesmo que o faça em silêncio, sem incomodar ninguém, como há quem se sinta incompreensivelmente incomodado com quaisquer manifestações culturais que não sejam as suas, pobres coitados!
Já quase toda a gente se tinha ido embora. E a imprensa também. Os rapazes queriam ter visibilidade mas saiu-lhes o tiro pela culatra. Mesmo assim não se coíbiram de fazer as suas tristes figuras. Vestidos a rigor com os seus trajes de ódio e intolerância ignorante e imbecil, lá foram para o Largo de S. Domingos gritar palavras de ordem em alemão, aquelas mesmas que há sessenta e tal anos ajudaram ao tal holocausto que agora há quem se atreva a afirmar que nunca existiu. Em alemão, os excrementos. Que no seu suposto "orgulho" nacional, nem se lembraram de palavras na nossa língua que lhes preenchesse a ânsia maléfica.

(continua)

4/20/2006

Hoje é o último dia

da minha "licença de maternidade". Assim mesmo, com aspas. Com muitas aspas. 120 dias em que devia ter estado a 100% com a minha filha e em que tive de trabalhar para podermos todos sobreviver. Porque há oito anos que não consigo exercer a minha profissão normalmente e tenho de aceitar tudo o que aparece não vá amanhã faltar. Será que tenho mesmo? Ou meti na cabeça que tenho? Será que vale a pena chegar ao último dia da minha licença de maternidade e sentir-me tão exausta que só precisava de entrar de férias já... ou de baixa? Será que faz sentido ir amanhã assinar um contrato para um trabalho mais estável mas que no entanto não corresponde ao que eu realmente quero só porque é "uma oportunidade" e porque "os tempos estão difíceis"? Será que vale a pena estar a esgotar os meus recursos físicos e psicológicos fazendo 10 coisas ao mesmo tempo quando na verdade deveria ter um único emprego e algum tempo para estar com os meus filhos e para mim, nem que fosse simplesmente para ir ao cabeleireiro ou comprar uma peça de roupa? Será querer assim tanto querer que as coisas sejam normais, apenas normais?

4/11/2006

Desafio 2

Pronto, aqui vai então a resposta ao desafio colocado pela Carla da Repolha

A - O que estava a fazer há 10 anos atrás?
- Tinha na altura o emprego mais longo e seguro que alguma vez tive. Não era o melhor sítio para trabalhar nem conseguia dar o melhor de mim, mas se soubesse o que sei hoje… talvez tivesse bazado na mesma ;-)
- Andava obsecada com um tipo que não me ligava nenhuma e a tentar esquecer um grande amor

- Andava a curtir a minha casa nova – a primeira que alguma vez tive e onde fui muito feliz (embora na altura não me tenha apercebido até que ponto)
… e muitas outras coisas, nem todas susceptíveis de vir a lume… mesmo sob a “protecção” desta identidade fictícia. A propósito: data desta altura a identidade Calamity

B - O que estava a fazer o ano passado?
- A tentar descobrir formas de diagnosticar precocemente uma gravidez – antes mesmo de me faltar o período
- A descobrir a blogosfera
- A tentar vender o meu trabalho no difícil mercado português
- A tentar ganhar o suficiente para “justificar” a loucura na qual estava a embarcar (ter mais um filho)

C- 5 Snacks de que gosto:
- Salmão fumado com sumo de limão
- Pão com manteiga de amendoim (desde que a minha filha nasceu que estou agarrada a este)
- Camarão ao alhinho
- Ameijoas e cadelinhas
- Queijo, queijo e mais queijo

D- 5 Músicas cujas letras conheço de cor – deviam ser 5000! - :
(à maneira da minha desafiadora ;-)
- Olhos nos Olhos (qs todas as do Chico)
- Desde que o Samba é Samba (qs todas as do Caetano)
- Água de Beber (qs todas as do Tom Jobim)
- Balada da Rita (qs todas as do Sérgio; e isto para não escolher a mesma que a da dita-cuja desafiadora)
- Wish you were here (qs todas as dos Pink Floyd)
E tantas, tantas outras que ficam (injustamente) de fora!

E- 5 coisas que faria se fosse milionária:
- Ajudava a fazer algumas pessoas – para além, claro, da minha família (o que inclui alguns amigos) mais felizes (não traz felicidade, mas que ajuda…)
- Dedicava-me a só trabalhar no que realmente me interessasse
- Ajudava o meu gajo a montar a empresa dele
- Ia viver para uma casa grande e velha no campo e com vista para o mar e arranjava-a devagarinho e ao nosso gosto
- Fazia uma viagem à volta do mundo
(posso dizer mais uma? Adoptava umas quantas criaturas: crianças e animais, que gosto de famílias grandes)

F- 5 coisas que gosto de fazer:
(desculpa, Carla mas as 3,5 primeiras foram copiadas tal qual)
- Viajar
- Dormir/Vegetar
- Comer/Beber
- Sentir o calor do Sol e a frescura (e não o gelo!) do mar
- Ler e escrever em quantidades industriais

G- Cinco coisas que nunca voltaria a vestir/calçar:
Ou antes, cinco coisas que não visto nem calço, nem que a vaca tussa! Até porque nisso sou muito igual a mim própria: o que não vestia antes, continuo a não vestir, o que vestia, é mais ou menos o que visto, a não ser que esteja em farrapos e nesse caso o gajo chateia-me tanto a cabeça que eu deixo de usar…
- Tops ou vestidos cai-cai
- Soutiens com alças “transparentes”
- Saltos agulha
- Calças com cintura descaída (leia-se, calças que terminam/começam a meio da púbis, por assim dizer J
- Roupa que fique em contacto com a pele que seja de fibras sintécticas (Ai, o sulfato de sovaco! Ai, as comichões em sítios impróprios!)
- Roupa desconfortável em geral

H-5 Brinquedos favoritos:
- Computador (embora deteste jogos de)
- Matraquilhos
- Máquinas Revox (para quem não sabe, trata-se de antigos gravadores de fita magnética usados em rádio para fazer edição de som; provavelmente estão em vias de extinção e de certeza que já ninguém os usa, pelo menos por cá… mesmo assim, fui muito feliz a brincar com uma, longe vai o tempo…)
- Barcos a remos (embora não tenha nenhum)
- Baloiços (sim, adoro! E admito que já fui expulsa de muito parque infantil. E isto quando pesava 50 kgs – menos que muitas crianças obesas!)

Cinco desafiados
Esta é problemática, mas lá vai
Horas Vagas (eu sei que já foste desafiada, mas, vá lá, voooooolta, isto sem ti não tem graça nenhuma!
Gaijo (vá lá! Não sejas preguiçoso! Afinal e pensando bem, foste tu que me meteste nisto!)

Loira ( vi que fizeste o outro, mas este ainda não...)

vou ali e já venho

(porque é que isto salta linhas sem eu querer, também gostava de saber...)

Desafio 1

Este ninguém me pediu mas resolvi fazê-lo

Se eu fosse um mês, seria julho
Se eu fosse um dia da semana, seria sexta-feira
Se eu fosse uma hora do dia, seria o lusco-fusco, antes ou depois do sol
Se eu fosse um planeta ou astro, seria o Sol
Se eu fosse uma direcção, seria Sudoeste
Se eu fosse um móvel, seria uma estante com milhares de prateleiras
Se eu fosse um líquido, seria Água de beber... água de beber, “camará”
Se eu fosse um pecado, seria a gula, sem dúvida
Se eu fosse uma pedra, seria uma hematite, olho de tigre, ametista e muitas outras
Se eu fosse uma árvore, seria um plátano
Se eu fosse uma fruta, seria um pêssego
Se eu fosse uma flor, seria uma papoila
Se eu fosse um clima, seria quente e húmido
Se eu fosse um instrumento musical, seria voz
Se eu fosse um elemento, seria fogo
Se eu fosse uma cor, seria branco (a junção de todas as cores)
Se eu fosse um bicho, seria um unicórnio ou um centauro
Se eu fosse um som, seria o cantar das cigarras e o murmúrio das ondas debaixo do calor escaldante
Se eu fosse uma música, seria Águas de Março, Pedra Filosofal, Tigreza, Sonho Meu, Shine on you Crazy Diamond, Nothing but Flowers (para dizer outras diferentes das que referi no outro desafio)
Se eu fosse um estilo musical, seria bossa-nova
Se eu fosse um sentimento, seria Amor
Se eu fosse um livro, seria O Principezinho
Se eu fosse uma comida, seria uma sardinhada com uma tonelada de salada de tomate e pimentos
Se eu fosse um lugar, seria uma baía
Se eu fosse um gosto, seria ácido
Se eu fosse um cheiro, seria a terra molhada
Se eu fosse uma palavra, seria Amor
Se eu fosse um verbo, seria amar (passe a repetição)
Se eu fosse um objecto, seria um espanta-espíritos
Se eu fosse uma parte do corpo, seria o olhar
Se eu fosse uma expressão facial, seria sonhadora
Se eu fosse um personagem de desenho animado, seria o génio do Aladino
Se eu fosse um filme, seria As Faces de Harry do Woody Allen, Asas do Desejo do Wim Venders ou O Mistério de Oberwald do Antonioni ou....
Se eu fosse uma forma, seria um círculo
Se eu fosse um número, seria o 3
Se eu fosse uma estação, seria Verão, se fosse do ano. Se não, seria de comboios, certamente
Se eu fosse uma frase, seria “Bute lá então”, mas também... “Nada como realmente!”... a bem dizer!

4/05/2006

Tenho um nó na garganta

Quando criei este blog tinha como principal intenção fazer deste um lugar de desabafo. Há tanta coisa a que a gente assiste calada, ou se manda vir é por que é refilona, ou porque nunca está satisfeita ou porque isto ou porque aquilo. A ideia era ter um espaço que fosse meu, mas onde outros também seriam bem vindos, mas um espaço para dizer de minha justiça. Um jornal onde o editor fosse eu. Onde ninguém me dissesse "isso não interessa nada, filha", ou "ninguém quer ler isso", ou ainda, "o que os leitores querem é"... Aqui quem não gosta não vem e pronto. Claro que não tenho muitas visitas, nem muitos leitores, mas, enfim, isso também agora não vem ao caso.
Dizia eu então que criei este blog pra falar do que me apetece e normalmente é sempre para cascar nalguma coisa, e neste país à beira-mar plantado há sempre tanta coisa para cascar que o difícil mesmo é escolher. Por dia penso em dezenas de coisas que gostaria de comentar aqui, mas infelizmente (ou felizmente talvez), o tempo não dá pra tudo, aliás, o tempo não dá mesmo é para nada e muito fica por dizer.
Depois de criar o blog (ou até mesmo quase "enquanto" o criava) fiquei grávida e outros valores se levantaram. Passei então a estar muito menos disponível mentalmente para cascar e muito mais concentrada noutras coisas; primeiro, nos enjôos e sonos e cansaços, depois no verão, na barriga, nas roupas para mim e nas "festinhas" internas e mais tarde nos pontapés internos, na barriga, nas roupas para ela, nas minhas mãos dormentes, na falta de sono reparador, nos trabalhos por terminar, no outro filho a reclamar atenção, na hora que não havia meio de chegar e no meio de tudo também nos blogues dos outros e sobretudo das outras. A gravidez direcciona as nossas atenções para tudo o que a ela está ligado: primeiro, os sinais/sintomas de gravidez, depois, as eventuais complicações, as ecografias, as consultas, mais tarde ainda, as contracções, a PPP, os sinais de parto, etc, e, neste percurso, fiz-me acompanhar por alguns dos inúmeros blogues de futuras mamãs e recém-mamãs que povoam a blogosfera, para além, claro, de outros tantos sites, livros e revistas, isto porque, além de grávida encontrava-me por volta das vinte e tal, trinta semanas a fazer um trabalho sobre gravidez que necessitava muita pesquisa e como tal, ia juntando o útil ao agradável.

Quando recomecei a escrever no blog, por influência das minhas leituras e, sobretudo, por incentivo de uma bloguista da nossa praça que muito aprecio e recomendo, tive a tentação de "seguir a maré" e também começar a escrever sobre a minha menina recém-nascida e sobre o meu menino já crescido, mas depressa conclui que não era essa a vocação do blog. Há tantos blogs que preenchem (e tão bem!) esse espaço na blogosfera que, francamente, não queria ser mais um(a). Achei, e acho que posso fazer outra coisa. No entanto, hoje quero e vou abrir uma excepção porque tenho um nó na garganta. Sei que não vou conseguir desfazê-lo mas preciso de escrever isto.
Já perdi pessoas que amava na minha vida. Já chorei por pessoas que nunca mais verei a não ser em foto. Que nunca mais tocarei. Cuja voz nunca mais ouvirei. Todos os dias penso nelas, embora algumas já tenham partido há tanto tempo que me custa reconstituir cá dentro o seu sorriso, o seu andar, o seu cheiro.
A cada vez que te visito, penso nelas e choro por elas. E também por ti e pelo teu anjo. E, desculpa-me se leres isto e se te vou magoar, mas tudo o que me apetece fazer é pegar no meu menino e na minha menina e apertá-los com toda a força do mundo junto a mim para que fiquem sempre comigo. Para sempre. Para sempre.
Desculpa-me, mãe que ainda não o foste mas para sempre o serás. Mas ao ler-te não consegui fazer mais nada. Peguei só nele, porque ela dormia. Levei-o ao café. Paguei-lhe o lanche que ele queria. Amei-o silenciosamente. Contemplei-o uma e outra vez. Deslumbrei-me vezes sem conta. Disse-lhe que o amava. Abracei-o. Retive as lágrimas. Agradeci a "deus" ou seja lá o que for. Continuo com um nó na garganta.

4/03/2006

Promoquê???!!!

Cada vez ando mais convencida de que anda meio mundo a tomar o outro meio por parvo. E não é mania da perseguição nem teoria da conspiração. Ou melhor, é como diz o outro, mas ao contrário, qualquer coisa do género "E olhe que isto não é verdade, é apenas publicidade"!
Eu já tinha reparado, porque há jámuitos anos que vou às compras, aos mais variados sítios, e porque este é irmão deste, que, quando numa grande superfície ou vulgar supermercado fazem uma promoção, aí é que a gente tem de abrir bem os olhos, ler as letras miúdas, verificar os preços, os pesos, as relações entre um e outro, virar o produto ao contrário, ler de trás prá frente e vice-versa, enfim, espetar bem as atenas e multiplicar as defesas do desconfiómetro porque normalmente os golpes de marketing determinam as seguintes equações:
hipótese a) dois pelo preço de um (ou pacote grande pelo preço de um mais pequeno). Tradução: os dois são mais pequenos que o normal ou o preço de um é tão elevado que mais valia comprar os dois em separado. Se mesmo assim compensa, é porque a data de validade termina amanhã e mais vale despachar ao desbarato que ficar com o produto em stock. Resultado: a malta fica pendurada com um produto estragado e que só resta deitar pró caixote.
hipótese b) feira disto ou daquilo. Tradução: "Bora lá apanhar estes otários desprevenidos. A gente pespega-lhes com uma série de produtos mascarados de grandes oportunidades mas que, na verdade, estão à disposição durante o ano inteiro arrumados nas respectivas prateleiras". Resultado: a malta vê os produtos todos juntos e julga que fartura é sinónimo de preços baixos. Na verdade, 95% das vezes o preço é precisamente o mesmo quando não é mais elevado. Foi o caso nas grandiosas banhadas chamadas "Feira do bebé" que todas as grandes superfícies fizeram recentemente e onde aproveitaram para nos impingir quantidades astronómicas de fraldas e toalhitas mais caras do que no dia-a-dia ( pelo menos a quem não foi munido de calculadora e perdeu horas preciosas a fazer contas de dividir e regras de três simples).
Mas o exemplo mais inacreditável aconteceu-me ontem e ainda estou de boca aberta, não só com o descaramento, como sobretudo com o espírito de rebanho do nosso povo. Dir-se-ia que anda tudo a dormir.
Pão de Açúcar das Amoreiras, corredor das batatas fritas de pacote e afins: múltiplos catrapázios anunciam a "grandiosa promoção". Trata-se das batatas fritas lays mediterrâneas, as tais que são fritas em azeite. Ora bem, se ainda não perdi totalmente a memória, nem o pouco juízo que me resta, as ditas-cujas custavam 1,15€ antes da dita promoção. Pois é, a preço de promoção custam... 1,25€! Não estou a brincar. E não vi mal. Juro. Mas, bem vistas as coisas, é uma mina: pega-se num produto já de si bem-sucedido. Acrescenta-se 10 cêntimos ao preço (vinte paus, ou seja, quase 10% de aumento). Dá-se-lhe o nome de promoção. E todos caem alegremente, achando ainda que estão a sair beneficiados. A prova é que quem passava, aproveitava para levar dois-pacotes-dois! Agora digam lá. Afinal, o crime compensa ou não?