5/07/2007

Em resposta ao senhor anónimo (ou terá sido uma senhora?)

Caro(a) anónimo(a)

Ainda bem para ti que tens emprego certo, que, além de emprego tens trabalho e sobretudo que te pagam o ordenado certinho ao fim do mês. Ainda bem para ti que sentes que pertences a alguma coisa que funciona e que, para ti, este país parece menos apimbalhado, menos bimbo, menos arcaico graças a empresas como a PT, o BPI ou a TV Cabo. Ainda bem para ti que não precisas de (sobre)viver a recibos verdes. Fico sinceramente feliz por ti, mas devo dizer-te que não me identifico em nada com a tua opinião e acho que isso ficou manifesto no meu comentário.
Aliás, se as defendes com tanto afinco, deves conhecê-las bem e saber tão bem como eu que elas praticam o subemprego e o vínculo precário, para já não referir que só não nos vão ao bolso quando não podem/conseguem. Antes numa das que enumerei que “debaixo da pata de algum deles”. Pois nisso estamos totalmente de acordo, caro(a) anónimo(a). Se não os podes vencer junta-te a eles. Aceitam-se cunhas. E tachos. Nesta altura do campeonato e da maneira como estão as coisas, não teria vergonha nem qualquer pejo em aceitar. Mas daí a defendê-las iria sempre um grande passo. Talvez se elas me tornassem, não digo milionária, mas uma pessoa de posses, digamos, confortáveis, pensasse duas vezes. Talvez virasse a casaca. Mesmo assim não sei. Desconfio que continuaria a criticá-las naquilo que têm de pior. Que é muito.
Há mais na Caixa? Ainda bem! Algo para mim? Para os meus? Para os dos outros? Aqueles que nada têm daquelas todas que citei (nem de outras, diga-se de passagem)? Aqueles que estão a recibos verdes e têm de dar todos os meses 150 à Segurança Social – ganhem zero ou dez mil - mas não podem ficar doentes nem sem trabalho e estão quase certos de que nada restará quando chegarem à dita-cuja idade da reforma? Aqueles que gostariam de trabalhar de outra maneira mas que não têm outra hipótese?
Porque para eles não há “ordenado garantido ao fim do mês”, não há “investimento”, não há “formação”, não há “emprego”, quanto muito, há “trabalho” e é quando há, e, quanto a “responsabilidade social”, para eles é uma expressão cujo significado ignoram, porque a maior parte do tempo estão demasiado ocupados em conseguir segurar as pontas até ao fim do mês. E já agora, fica a saber também que fim do mês para eles (em que eu me incluo) é algo que nada significa, pois o dinheiro não tem dia nem hora para aparecer. É pago quando é pago, se é pago. E muitas vezes são as tais empresas que dizes terem "responsabiliadade social" que não têm dia nem hora para pagar o que devem aos seus fornecedores. Sim, "fornecedores" é como eles chamam a quem para eles trabalha mas sem direito a nada.
Desculpa lá, caro(a) anónimo(a), folgo muito em saber que trabalhas para uma delas mas não me caem bem os teus argumentos.
E aproveito para acrescentar à lista a nossa querida CML (Câmara Municipal de Lisboa). E a Carris. E a EMEL. E, já agora, abaixo o grande capital, que eu sou do precariado.
Caro(a) anónimo(a), não tenho 50, mas lá chegarei, se deus nosso senhor quiser, só que, pelo andar da carruagem, a recibos verdes será. Projecto de vida? Só se fosse a ganhar o triplo ou o quádruplo do que ganho (e estou a ser modesta). Que a vida te continue a correr bem, é o que te desejo. Sinceramente.

PS: Não deixa de ser curioso que este comentário tenha sido anónimo...

16 comentários:

Anónimo disse...

Para um blog que admite comentários "anonymous", onde é que está a curiosidade? Afinal admite ou não?

E pensa um pouco, quem tem 50 e trabalha numa dessas famigeradas talvez tenha entrado por concurso público, a nível nacional, c/ prestação de provas escritas, psicotécnicos, entrevista e tudo. Era uma praxe. Nada que te seja familiar, não por tua culpa, é que agora já não é assim. Agora há que ter "contactos".

Quem tem 50 talvez esteja a sustentar (c/ o ordenado que lhe paga a famigerada empresa) 2 ou 3 filhos que, como tu, andam, ou vão andar a recibos verdes e esperam também um dia vir a ganhar o triplo daquilo que (não) ganham hoje, enquanto vão tentando a todo o custo, adivinha só, encontrar um trabalho que os satisfaça e c/ um mínimo de estabilidade (que, no fundo, é o que todos querem). Acho que até estão a encontrar mas é fora do país.

Lá chegarás, também o desejo, e que chegues melhor que a minha geração chegou.
E que possas dar aos teus filhos o que a minha está a dar.
Entretanto serás mais explorada do que a minha geração nunca foi e continuarás a suar penosamente c/ a cenoura á frente do nariz porque te meteram na cabeça que vão ser todos ricos, lindos, mto in e fashion à brava.

Se os vejo a trabalhar a contrato? claro que vejo, trabalham comigo e estão tão sofregos como tu de ganhar "o triplo" que até se atrapalham uns aos outros, lixam-se o máximo que podem. Há de tudo mas, em geral são rapinas frenéticas na ânsia de subir, não na ânsia de participar, de aprender nem de perceber o que se passa à sua volta.


Aguentas isso agora c/ 30, mas vais aguentar qto tempo?
Não abram os olhos não.
Falei por bem, os meus filhos estão como tu. Não me entendas mal.

calamity jane disse...

Pois admite, mas, em geral, os "comentadores" "acusam-se". Assim como quem assume a opinião que manifesta. Mesmo que no meio anónimo que é a blogosfera. Onde, no fundo, todos se conhecem. A maior parte destes "comentadores" que assinam com "nick" têm blogs onde posso ler o que pensam, como pensam, e "adivinhar" quem são pelas entrelinhas.
Tb já fiz psicotécnicos e praxes dessas mas fiquei a meio do caminho, não porque me tivessem largado, mas porque pus em causa se queria mesmo ingressar numa instituição onde ia ganhar (bem) a vida a fazer coisas em relação às quais coloco sérias dúvidas. Talvez hoje tivesse sido diferente. e daí talvez não. Curiosidade? Tenho sempre, e ainda bem.
O triplo, é porque seria o mínimo que garantiria a tal da estabilidade que dizes que todos queremos. E queremos. Quanto mais não seja para eles. Que para mim é mais tipo que se lixe. A mim não me meteram na cabeça que vou ser rica (já te disse que me basta algum conforto, e, sim, dar aos meus filhos o que eles precisam - muito mais não, que tb têm de aprender a lutar por alguma coisa),linda (com a minha idade já me passaram essas ilusões), e muito menos in e fashion - tudo aquilo que eu mais abomino e vomito.

Sôfrega? Eu? Sim, mas apenas de trabalhar naquilo que sei fazer e faço bem e de ser justamente paga por isso. Nem mais. Nem menos.
Aguento com 30 (e muitos) e aguentarei porque não me resta outra hipótese. A não ser juntar-me a eles. Mas isso não me apetece. Antes pobrezinha mas honrada. Fodida e mal paga. Mas consciente. E continuo sem lamber o cu a ninguém. Por enquanto e enquanto puder. Quando já não puder, olha, logo se vê. Pode ser que vá lavar escadas. A recibos verdes

rita disse...

Essa parte dos concursos públicos faz-me rir.
Trabelhei numa instituição pública onde os concursos eram um proforma. Sabíamos (mesmo antes deles abrirem oficialmente) quem é q iria ocupar o lugar. Até se faziam apostas.
Nessa instituição pública, não se privilegiava quem tinha habilitações; os privilegiados eram quem tinha cunhas; o pai na secretaria, a tia na administração... E muitas vezes (aliás a forma mais fácil de se subir), quando se era amante de um(a) chefia.
Enfim, nada de novo...

Anónimo disse...

Não fiques nesse estado. Estamos todos no mesmo barco, ou pensas que é fácil ter este "emprego certo"? Tive 3 ou 4 e não há volta a dar.
Pensas que não damos conta dos erros e do que está mal? Com as responsabilidades que temos (e que irás ter c/ o tempo) não podes simplesmente virar as costas.

Nós, os mais velhos somos os contribuintes do sitema e, qdo chegar a nossa vez de sair já nem reforma vamos ter, cada um que trate da sua. Contribuímos pª nada. Podemos andar bem? Não podemos.
Qdo menos esperamos temos a tensão arterial a subir e os diabetes à porta. É a ordem natural das coisas.

Entretanto aguenta-te e mantém essa consciência mas não desprezes tudo o que te rodeia, um dia serás também desprezada.

E não era necessário desbocar porque no final toda a gente se vende, uns a isto, outros a outra coisa. É só uma questão de preço, e, infelizmente, de tempo.

Tenho alguns confrontos destes lá em casa e estávamos bem arranjados se fossemos ficar ofendidos. Gostei de escrever contigo mas estás a ficar um bocado irritada pelo que não vou continuar.

Toma (ou não) um conselho: não vás lavar escadas, cria antes uma empresa de limpezas.

Anónimo, mais uma vez.

calamity jane disse...

Só podes estar a brincar.
Nesse estado? Qual estado?
E quem diz que desprezo tudo o que me rodeia? A prova que não desprezo é que NUNCA criaria uma empresa de limpezas!!! Da-se!!! Cobrar 17 euros à hora para explorar umas desgraçadas a pagar-lhes o salário mínimo!!! Estive quase pra incluir essas molly maids no meu top. Assim como os mediadores imobiliários.
Agora, digo-te já que não estou em estado nenhum. Felizmente ainda ninguém me pôs a pata em cima, como dizes. E tb fico por aqui, que gosto de estar na blogosfera com um interlocutor identificado. Mesmo que apenas com nick. Mesmo que não pense como eu. Sou democrata. DEsculpa, mas não concordo com o que dizes. "No final, toda a gente se vende". Se calhar ainda não estou suficientemente velha. Não digo desta água não beberei. Mas vai ser preciso mudar muito. Até já (trabalhas na tmn? arranjam-se umas borlas?)

Loira disse...

HAHAHAHAHA! Curiosamente, críticas são smp anónimas...
A EMEL está no pódio das mais odiadas, sem dúvida! :P!
bj*

. disse...

Em suma, antes era só rosas; agora é uma filha da putice pegada, com rapinas frenéticas. Rapinas frenéticas??? Eu tb gostaria de ganhar o triplo, não para lixar ninguém, mas porque o mereço. Com o máximo respeito pela sua geração "justa", isso não faz com que as empresas citadas não sejam agora autênticos ninhos de precários. Afinal, a mão de obra barata até já está a tornar-se uma bandeira de Portugal. Não é simplesmente lindo? Tb tenho familiares a trabalhar para a lista criticada e não é por isso que as deixo de criticar. Pelo bem dos filhos de tanta gente, em vez de vir falar no passado (em que tudo era maravilhoso para os funcionários de A, B e C) devia agora vir denunciar os podres do capitalismo.

anne disse...

viva os anônimos, sem eles a nossa vida seria uma chatisse...
:(

. disse...

Calamity, já te disse que tim- tim por tim- tim penso como tu? Quantas e quantas vezes tb disse essa das escadas.

125_azul disse...

EMEL, decididamente, empatada com Tv Cabo! E quanto ao resto, ainda bem, realmente, que a vida sorri a uns poucos (cada vez menos) neste país: sempre dá uma esperançazita ao resto da malta que é sistematicamente lixada e nem sabe de onde é que "elas" lhe caem.
Também desejo que a vida continue a sorrir ao/a caro/a anónimo/a, pelos vistos também já houve um tempo em que não foi bem assim. Que ele/a não se esqueça que nem todos têm a mesma sorte.
Beijinho e muito trabalho justamente remunerado para ti.
PS: o empadão ficou bom?

RB disse...

Minha linda, este comentário, não é para ti:
Quem nasce na geração rasca, morre na mesma...
Como abomino ler, quem vê na idade um posto, como se só a idade tivesse capacidade para ensinar...
Os diabetes, a pressão arterial a não reforma, chega a todos...
Custa, estudar como o caraças, lutar todos os dias e ter no final o presente dos recibos verdes... E ver tanta gente que nunca fez nada na vida arranjar um tacho, que dura há 20, 30 anos ( por muitas provas, testes, psicotécnicos)!!! Quantos testes fiz eu???? Quantos testes fizemos nós, na vida, para nos terem sido atribuidos recibos verdes????
Estudo há exactamente 25 anos, sim, 25 anos!!!
Não ganho nem perto do que tanta dessa gente que nada fez na vida recebe...
Ora faça-me um favor!!!

LUA DE LOBOS disse...

ehehehe isto é a chamada discussão sobre o sexo dos Anjos... todos têm razão e nenhum a tem.
Mas que grande Sherlock que eu saí... olá menina da tosta gigante ::))
xi
maria

C_mim disse...

Sr. anónimo

O problema não são as empresas que defende. Mas as pessoas que nelas trabalham e principalmente os seus dirigentes...

É impossivel viver neste país, ser minimamente inteligente e não reconhecer que neste sistema está tudo podre...

E não existem empresas interessadas nos outros... Nem nos cliene
... Nem nos funcionários... ambos são entendidos como nºs.

Mocho Falante disse...

é por estes posts que eu cada vez mais adoro o teu blog! Onde é que eu assino?

Abraços

Mocho Falante disse...

Só mais uma coisinha...é tão fácil falar quando estamos na posição confortável e temos um nine to five e muitas vezes sem a pressão de sermos avaliados...ai como eu gostava...ou não

AEnima disse...

So para avisar o caro anonimo que eu tambem tenho lugar a anonimos no meu blog porque:

- meus familiares nao tem blog, e tambem gosto de ler os seus comentarios.

- meus amigos que tem blogues que nao do Blogger nao conseguem logar-se com a sua entidade.

No entante, so recebo anonimos que nao escrevem o seu nome quando me atacam as ideias cobardemente.