4/28/2006

Chamem-me o que quiserem

Retrógrada. Reaccionária. Conservadora. No mínimo, mãe galinha. No mínimo, lírica. Eh pá, chamem-me lá o que quiserem. E digam também, que eu assino por baixo:
1) Os automobilistas portugueses em geral, a maior parte dos taxistas e dos condutores lisboetas em particular são inconscientes, desvairados e alguns até são uns assassinos. Muitos são/andam bêbedos mas até parece que não era este o caso.
2) O governo, a câmara e, em geral, as entidades que deviam 'ter mão nisto' tudo não têm, lavam as mãos, não protegem os cidadãos, não antecipam as tragédias, não asseguram as condições de segurança mínima para a vida das pessoas: como se pode compreender que num local como a Av. de Ceuta, a escola das crianças fique de um lado e o bairro onde moram as pessoas do outro sem que tenha sido prevista uma estrutura aérea ou subterrânea entre um lado e outro e IMPOSSIBILITADO que o atravessamento fosse feito de outra forma???

Concordo com isto tudo e provavelmente com outras coisas mais. O que não posso compreender é como é que os responsáveis por uma criança de oito anos sabendo isto a deixam entregue a si própria. Desculpem, e chamem-me o que quiserem mas NINGUÉM está preparado para atravessar uma estrada - e é disso que se trata - daquela perigosidade (estamos a falar de seis faixas de rodagem - seis). Nem mesmo um adulto. Como podem então deixar que aquela - e outras, oh meu deus, nem quero pensar - criança vá e venha sozinha da escola atravessando aquela estrada assassina??! Como puderam deixar??!!! Desculpem e chamem-me o que quiserem. Mas desta vez eu tenho pena daquele taxista. Que provavelmente nunca mais vai dormir descansado.

O meu filho tem oito anos e desde pequenino que aprendeu a atravessar as ruas. No entanto, ainda não vai sozinho para a escola que é bem perto e não sei quando irá. É que (eu não sei em que país vivem os habitantes da Quinta da Cabrinha na Av. de Ceuta mas) eu vivo num país em que crianças morrem por caírem em bocas de esgoto deixadas destapadas por negligência e por apanharem choques de alta tensão nos semáforos. Por enquanto vou continuar a acompanhar o puto para todo o lado. Chamem-me o que quiserem.

Descansa em paz, miúda Rafaela. Vieste sem dúvida parar ao sítio errado.

10 comentários:

Repolha disse...

Chamar-te-ei consciente... Até me estou a ver a deixá-la atravessar a estrada sozinha (de 2 faixas de rodagem e com um sinal verde) aos 8 anos, mas comigo ali a ver...
Bom fim-de-semana.

Mae Frenética disse...

Q post tão contundente.
Realista.

Pobre Rafaela...

RB disse...

não tinha conhecimento da tragédia que ocorreu, até terem feito um comentário no meu blog sobre isso...
fica transtornada, tal como tu.
não percebi bem o porque de uma criança tão pequena estar ali sozinha...
estou sem palavras...

Zuza disse...

"Como puderam deixar??!!!"

Desculpa mas por MUITA razão que ache q tens, porque muito que saiba que EU não deixaria... acho esta pergunta, e usando as tuas palavras: lírica!!! No mínimo.

Tinham alternativa??? Pergunta a ingénua, eu.

Pobre Rafaela, pobre taxista... e pobres pais!!

(eu não conheço o caso concreto. vi de relance nas notícias e li aqui)

calamity jane disse...

Carla: sim, provavelmente contigo a ver. E mesmo assim, os oito anos chegam mt mais rápido do q pensamos... e sem dúvida, os 8 anos deles são mt diferentes dos nossos; o mundo de hoje é de facto 1 lugar perigoso para se viver

Mãe frenética::-(((( pobre Rafaela!

Rute: O pior é que eu percebo o porquê de ela estar ali sozinha. Ela e provavelmente 95% (estarei a ser ingénua?) das crianças q frequentam aquela escola... percebo mas não aceito

Zuza: Acredita que pensei em tudo isto e hesitei bastante antes de escrever o post. Li todas as notícias sobre o acontecimento e até um "debate" cibernético no site do CM. Pesei todas as palavras cuidadosamente.
Sempre que acontece uma tragédia destas todos se precipitam a apontar culpados. Eu sei que, no meio de onde a Rafaela provém, poucas, muito poucas serão as crianças 'superprotegidas' como os meus filhos e os de quase as mães da blogosfera. Não que as pessoas de meios menos privilegiados amem menos os filhos. Mas porque a vida para eles é mais dura. Mais implacável. Talvez tu, que és do Norte não saibas, mas aquele bairro da Cabrinha é o bairro para onde foram realojados há cerca de 1 década os moradores do Casal Ventoso. Penso q ñ será necessário explicar-te do que se trata. No Casal, os miúdos brincavam descalços na rua, no meio dos traficantes e dos agarrados. Meninos de 3 e 4 anos apanhavam seringas usadas do chão. Amarão estes pais menos os filhos? Não sei. Provavelmente não. Mas viveram sempre num meio mais duro. Em que cada um tem de aprender a lutar por si muito cedo. Mas se amam os filhos tanto qt eu e tu, e se sabiam o quão~perigosa era aquela estrada, e que ainda ñ tinha sido resolvido aquele problema pelas autoridades competentes, digo eu q deveriam ter bloqueado a estrada mais cedo. Arranjado soluções entre todos.As assistente sociais q trabalham com aquelas populações tinham - digo eu - obrigação de ajudá-las a achar soluções e tb a tomar consciência de q ñ deveriAm deixar as crianças atravessar sozinhas. Os pais trabalhavam, mas não haveria uma tia, uma avó, nem que fossem de outra família? O avô e o primo q assistiram ao acidente ñ estavam, visivelmente, a trabalhar àquela hora. Porque ñ podiam ajudar aquela e outras crianças a atravessar. Talvez ñ tivessem evitado o que aconteceu. Mas talvez tivessem. Um sem número de perguntas q coloquei antes de escrever o post e contin uo a colocar. (eu sei q sou lírica)

Beijos a todas

Loira disse...

:( Estou de acordo ctg... uma tragédia para o taxista e para a menina. Qto aos pais, será q tinham outra alternativa??? Nem sempre ela existe... já a avó... sem comentários.
Tb não deixava o meu filho atravessar sozinho...
bj*

Smas disse...

Nem consigo comentar. O meu não irá atravessar ruas sozinho que eu posso proprocioar que tal não aconteça, eu ia à escola sozinha mas o mundo (des)evoluiu e hoje tal não é possível.
Pobre miúda e pobre taxista...
BJs

Zuza disse...

E sabes que eu só comentei precisamente por ter a certeza que tu sabias do que estavas a falar. Caso contrário teria “lido e andado”. ;)
Não conheço mesmo o bairro. E compreendo agora, eu disse que era ingénua, que a realidade que eu conheço de crianças que ainda vão para a escola sozinhas seja completamente diferente dessa. Embora algumas, raras, vezes o resultado seja o mesmo.
Lamento.

(Obrigada por teres respondido.)

. disse...

:( Ainda hoje presenciei um atropelamento. Uma velhota, à saída do Centro de Saúde. Fiquei toda a tremer. O barulho dos ossos a baterem no carro é simplesmente aterrador. Com a pressa de ir acudir à senhora, quase me esquecia do meu filho. A senhora estava consciente e ainda chamou o condutor de filho da puta. Atravessou fora da passadeira e de rompante. O automobilista atropelou-a, felizmente, a 40 à hora, o que, mesmo assim é mau... Ficou super aflito, à toa. Fiquei com pena de ambos. Umas vezes são horas do diabo, outras podem ser tragédias evitadas , sei lá...

Repolha disse...

ena ena... temos novidades... olha lá! Tu por favor aumenta aí o nº que já fomos mais que 16 humpf!!! Pelo menos 160, ok?