9/25/2007

Retrocessos

Olha que giro! Esta é a posta nº 100! Que títalo mais sugestivo... nada como realmente, não é, ó Inúmeros e Incontáveis?!...

Porque será que, cada vez mais, tenho a sensação de que o país está a andar para trás e não para a frente?
Os exemplos são inúmeros e variados. Cobrem as mais diversas áreas de actividade e, mesmo em termos culturais, é muito discutível que o nível geral esteja mais elevado. Sim, o analfabetismo baixou desde 1974. É um facto. Mas será que não foi à custa de um iletrismo crescente? É que, pelo que vejo, ouço e leio...
Mas dizia eu que vejo esta coisa a que chamamos Portugal a retroceder dia após dia, e isto, perante a complacência impávida e serena das várias gerações que deveriam berrar e estrabuchar, cada vez mais alto, e impedir o caminhar lento mas inexorável desta tanga pró cadafalso. Alguns dados soltos para ilustrar este meu pensamento:

- Simplex? Sim quê? Onde? Como? Excuso de desenvolver, não excuso?

- O novo Estatuto do Jornalista. Uma lei bacoca e fascizante, que o próprio Cavaco vetou. Será preciso explicar mais? Já só falta mesmo vir a comissão do lápis lazuli tratar-nos da saúde aos textos, conteúdos e - horror dos horrores! - opiniões que possam estar manifestas ou implícitas, já que - toda a gente sabe - , se há coisa absolutamente proíbida a um jornalista, seja ele assalariado ou, sobretudo, "independente" (este também um conceito deveras sui generis nos dias que correm e no país que temos), é ter e manifestar uma opinião, sobretudo se esta for contra a corrente - leia-se, contra quem manda nela, ou seja os grandes grupos económicos donos das empresas "jornalísticas", que é como quem diz o governo, que é como quem diz esta merda vai toda dar ao mesmo e como diziam uns gaijos que em tempos tiveram alguma piada mas depois foram para o parlamento, "só mudam as moscas", isto é quando o senhor Marques Mendes ou o seu concorrente Menezes se tornarem primeiros-ministros a malta vai continuar a rir-se a bom rir, mas adiante, ou onde é que eu ia, que já tou com as ideias trocadas, ai, balha-me deuj noxenhore...

- E já que falamos em "novo", falemos então no tal "Novo Código de Processo Penal" - é assim que se diz, não é?
Quer-se dizer. Esta gente, em vez de trabalhar comàs pessoas, e fazer com que os processos decorram um bocadichinho mais depressa, que é pró bacanos que enchem as nossas cadeias serem julgados em tempo útil e para que não passem anos esquecidos a apodrecer em prisão preventiva, não!, vá de alterar a lei e sacar cá pra fora figuras de filme de terror como o padrasto do Daniel, que, francamente, e apesar de eu ser rigorosamente CONTRA os julgamentos populares - e linchamentos e outros que tais terminados em mentos, à excepção talvez dos jumentos, uns gajos porreiros nos dias que correm -, só merecia que lhe tivessem enfiado UMA VASSOURA DE PREGOS pelo ânus acima até que lhe saísse pela boca.
Isto, enfim, para não mencionar outros que deviam lá estar mas, não só não estão, como ocupam lugares de relevo na nossa sociedade e passeiam-se nos seus carros de luxo, deitam-se nas camas dos hotéis de luxo que licenciaram a troco de sabe-se lá que favores em paisagens que outrora foram protegidas e agora estão fodidas, desculpem lá os inúmeros e incontáveis a frieza do verbo mas a bem dizer esta cena já viu melhores dias ou então é da minha vista que me entrou um cisco pró olho, a bem dizer...

- E só porque esta posta já vai longa e não me pagam pra publicar mensagens subversivas na internet, aliás, não me pagam pra muitas outras coisas e o que pagam mal dá pró gasto, mas isso são outros assuntos e a posta já vai longa e eu já me estou a repetir (não liguem, ó inúmeros e incontáveis, está a dar-me um daqueles meus ataques ou achaques ou lá o que é), só porque não dá agora pra continuar, que eu, a bem dizer, era capaz de continuar a achar exemplos de como esta merda vai de mal a pior até pelo menos ao próximo dia 17 de outubro, isto se continuasse a escrever non-stop, e só porque depois ia precisar de comer qualquer coisinha, tomar um duche e mudar de roupa, dizia eu então que só pra terminar esta posta ia agora falar de um assunto assim a modos que mai levezinho mas não menos ilustrativo do quão para trás isto anda e não prà frente como seria normal, expectável e, quiçá?, desejável.

Quiseram o destino e os meandros desta insondável existência que eu mandasse umas larachas a troco de uns miserentos trocos numa universidade privada cujo nome não mencionarei mas que se gaba de ter um corpo docente valioso embora não seja capaz de o pagar a tempo e horas, aliás, capaz será, mas encaixam-se muitos milhares de euros por mês retendo os salários de várias centenas de professores durante cerca de doze dias por mês (e os respectivos subsídios de férias e Natal ao longo de seis meses - seis!) e lá estou eu outra vez com o meu mau feitio e sempre a desviar-me do assunto, ora desculpem lá os inúmeros e incontáveis mas isto é a minha incorrigível língua de trapos...
Dizia eu pois que a dita-cuja universidade me faz o favor de pagar tardiamente uns tustos a troco de eu partilhar algum do meu parco saber com umas criaturas por quem os respectivos pais desembolsam fortunas consideráveis a fim de lhes garantir um futuro deveras incerto enquanto elas - as criaturas - se passeiam em jeeps de luxo que nem nos meus sonhos mais atrevidos eu conduzirei um dia e emborcam cervejas e fumam cigarros no bar da faculdade e depois não sabem que "dever" é um verbo transitivo e também não percebem que um trabalho universitário se redige em Português e não se assemelha a nenhuma sms nem a um conjunto das ditas. As referidas criaturas também têm uma certa dificuldade em distinguir um trabalho de pesquisa de um mero plágio e algumas delas nem deveriam ter alguma vez passado da quarta classe, mas isto sou eu novamente a deixar-me levar pela maldade, pois o país carece de licenciados a fim de engrossar a lista dos disponíveis da função pública, e também para poderem ser eles os que, por sua vez, ensinarão aos nossos filhos (salvo seja!!!) aquilo que aprenderam nos quatro anos passados a beber cerveja e a fumar cigarros num bar repleto de avisos reaccionários e circulares com cigarros atravessados obliquamente por um traço vermelho. Adiante.
Pois se há coisa que me irrita, para além dos "eu devo de" e dos testes e trabalhos recheados de pérolas da nossa literatura - e da nossa argúcia! - como "Câmara subjectiva é aquela k está lá mas não se vê", se há coisa, pois, que me enerve e até, ouso dizer, que me entedie, é ver as referidas criaturas fardadas - perdão, trajadas - com aquelas fatiotas pretas a que dão o pomposo nome de "capa e batina". É aquilo, não é? Aqueles fatos pretos, 'bleizer' e saia pelo joelho prà menina e 'bleizer' e calça clássica pró menino, ambos com gravata preta presa com colher (com colher???!!!! No meu tempo passear-se com uma colher significava andar a dar na fruta... e não era na salada de), camisa branca de poliester e meia preta (collant) no caso ainda das meninas, que envergam tão brilhante vestimenta combinando-a com um calçado a preceito digno de ter sido usado pelas senhoras suas avós no tempo em que não havia duas marcas distintas em Portugal e os sapatos eram todos fabricados em Santa Maria da Feira. Eh pá, desculpem lá, mas há que dizê-lo com frontalidade: há lá coisa mai feia do que um estudante com aquela roupa esquisita que mais parece estarem todos de luto no ano da graça de 1947? E o pior é que cada vez são mais a andar com aquilo vestido! São às resmas, aos magotes. Eh pá, até no tempo da outra senhora, os estudantes se vestiam melhor. E foram capazes de mexer um bocado com as coisas. Agora com uma geração de universitários que usa aquilo, e ainda por cima com orgulho, embora não façam a mais pequena ideia do que significa 'paradigma' e julguem que Levi-Strauss é um famoso designer de calças de ganga, digam lá, ó inúmeros e incontáveis: Como é que esta merda há de andar prà frente??? Hein??!!!

9 comentários:

S.A. disse...

Muito, muito bom!

Agata disse...

Depois de ter lido isto tudo, gostava muito de poder deixar aqui uma palavra de optimismo e dezer que "não é bem assim", etc., etc. mas... infelizmente, não posso. São coisas como estas que também me pergunto muitas vezes e quem me dera ter uma palavrita de ânimo que fosse, para mim.

. disse...

Mereces ser lida e comentada com tempo. Mas hoje deixo só um apontamento, aliás dois. O pão. O pão, meu Deus do céu. Será o símbolo máximo da pobreza. As padarias daqui reduziram-no a metade. O desespero. O desrespeito máximo pelas pessoas. Parece não ter importância, mas faz toda a diferença. Deprimiu-me. É um prenúncio. Como tb me deprimiu o facto de a Tânia Ribas ter feito essa mesma confusão entre os Levi Strauss.

Unknown disse...

Bolas rapariga, esperamos tanto tempo por cada novo post, mas logo depois surpreendes a malta com isto.

tenho que reler para poder comentar - sera que me estou a tornar iliterato? ou corro o risco de me darem uma vassourada pelo que escrevo e nao possa escrever mais, porque sou independente, e para poder ganhar acesso novamente a este espaco tenho que enviar via internet um formulario de 383 paginas que me cria uma empresa que publica os textos, isto se nao me mandarem para a choldra, para me soltarem ao fim de 2 anos por nao ter havido julgamento e condenacao.

beijos

Cool Mum disse...

Oh linda, que até consegues arrancar uns sorrisos à conta da desgraça geral.

(ficaste assim tão triste de não ir ao Jamor?)

Cristina disse...

O problema ainda são aqueles que apoiam o primeiro-ministro pela sua ânsia, ou devo dizer, loucura reformista. Porque reformar é sempre bom. Pensam eles.
E o conteúdo das mesmas?
Vamos de mal a pior!

Bjos

Cristina

. disse...

O que podemos fazer? Pergunto isto com geníno interesse, não é a ironia típica de quem quer baixar os braços. O que podemos fazer, agora a sério? Todos os dias penso nisso. Estou sempre à espera de um caminho. Não quero o meu País assim, não durmo sossegada. Enjoa-me o "deixar andar", o ignorar, o não olhar para o lado. Já reparaste que o egoísmo cresce e cresce? Cada qual defende a sua causa. Uns choram a perda de regalias e desleixam-se ainda mais, uns encetam revoltas silenciosas que prejudicam todos menos os que deviam ser prejudicados. Desânimo geral e colectivo. Desânimo nojento. Quem tem uns tostões, vai vendo o tempo que falta para chegar ao cadafalso. Sem grande interesse, desde que a sua comidinha esteja garantida. Mesmo que tudo vá mal. TUDO. Escapa alguma coisa agora? Saúde, Educação, Jornalismo? Alguma coisa???? Olha merda para isto.

125_azul disse...

Tu hoje deste-lhe com força! Estavas inspirada, é o que é. As gajas de Umoja vão adorar ter-te por lá, é o que te digo. E como elas têm net, os inúmeros e incontáveis que ficarem por cá também não te perdem...
Beijinhos, moça rebelde. É assim que gosto de ti e PRONTESSSSSS

AEnima disse...

Antes de mais nada deixa-me ca dizer gaja.. que nos tempos de censura que corremos (ah espera, que a ditadura de esquerda ainda nao e' oficial, vamos la reformular) - nos tempos que passamos em que e' politicamente correcto ser-se socialmente consciente - dizer assim mal de ambas entidades patronais e' um arrojo que muita gente nao teria coragem para tal.

MAS TENS TODA A RAZAO!

E' preciso denunciar! Nao seremos a Hungria dos anos 50 reencarnada no terceiro milenio. E' preciso contrariar DE FACTO o poder podre instituido.... e nao so falar dele.

Quanto as fardas os morcegos acefalos - perdao, trajes dos estudantes que as usam - e' a expressao ultima do corporativismo que o Portugues tanto ama. Eu usei a minha uma vez, para a cerimonia da graducao e ja considerei isso uma grande concessao. E tambem orgulhosamente nao me inscrevo na ordem de Economistas... ide la criar burocracias bacocas a regular o caralhinho, mas deixem a minha profissao em paz.

Beijo, gaja corajosa!