2/25/2009

Seis verdades e três mentiras

Por incrível que pareça não sou grande mentirosa. Aliás, não sei mentir. O que, por mais que seja uma acérrima defensora da verdade a todo o custo nem sempre me tem sido de grande ajuda. Adiante. Desafia-me a Teresa para contar acerca de mim seis verdades e três mentiras. Como é por escrito, pode ser que não me vejam corar e torcer os lábios ;-)

1 - Ainda acredito no príncipe encantado;
2 - Há 10 anos que ando a tentar deixar de fumar;
3 - A minha mãe nasceu em Alcácer Quibir, o meu pai em Lisboa e eu no fim de uma tarde de nevoeiro em Paris;
4 - Quando tinha dez anos de idade atravessei um lamaçal com altura pelo joelho à meia-noite porque o Chico Buarque em pessoa se encontrava do outro lado;
5 - Já adulta cheguei a passar um ano inteiro sem dar uma queca;
6 - Até hoje não casei mas já me separei mais de vinte vezes do mesmo homem de quem tive dois filhos;
7 - Fui convidada para a mesma festa onde se encontravam a Claudia Raia, a Patrícia Pillar, o Tarcísio Meira e o Ary Fontoura. E falei com todos eles;
8 - Nunca fiz nudismo;
9 - Li os três tomos de 'O* Capital' de Karl Marx.

Desafio a Estrelinha, a Loira, a Cool, a Flores, a Blubina, a Ritmargaride, a Cristina, o Melão e o Mocho (não ponho links por estarem quase todos aqui ao lado e também porque não tenho tempo). Não desafio outras meninas de quem muito gosto por terem tascos privados... mas se quiserem agarrar, por mim, estão à vontade, obviamente.

* Uppsss: Obrigada, AEnima. Não te direi se acertaste ou não. Não era preciso lê-los para saber-lhes o título de trás para a frente, pois constam 'em pessoa' na estante da sala em casa dos meus pais assim como tudo o que o dito-cujo escreveu com Engels, tudo o que foi escrito acerca de e ainda ... E que tal fazeres também?

Já pensei tantas vezes em mandá-los passear mas às vezes há aquelas pequenas coisas...

"Bom dia, Professora.
Junto envio o meu trabalho de avaliação.
Desejo-lhe boas mini-férias, bom carnaval e melhores felicidades.
Muito obrigada pelo seu esforço e pela sua boa vontade e boa disposição perante nós, estudantes.
Com os melhores cumprimentos,"

fulana de tal


(não , não sou professora, mas dou aulas há muitos anos - é um complemento, uma actividade secundária, digamos assim)

2/13/2009

O que se pode dizer que outros não tenham dito antes?

(e muito melhor do que nós...)

Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's all right

Little darling
It's been a long cold lonely winter
Little darling
It feels like years since it's been here

Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's all right

Little darling
The smiles returning to the faces
Little darling
I seems like years since it's been here

Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's all right

Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes

Little darling
I feel that ice is slowly melting
Little darling
It seems like years since it's been clear

Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's all right
Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun
It's all right
It's all right

The Beatles (no mui frutífero ano de 69)

2/11/2009

A taberneira está de trombas

Tenho três postas iniciadas e disponibilidade zero para as terminar. A miúda esteve quatro dias sem pregar olho e eu idem idem aspas aspas. Estou com trabalho em atraso até à orelhas e só me apetece fugir. Estou zangada com o mundo e em particular com a PT, duas espécies de entidades patronais (não sei que outro nome lhes dar, aliás o termo "técnico" é "clientes" dos quais eu sou "fornecedora" - extraordinário!!!), o Ministério das Finanças, a Segurança Social, o Estado Português, o Estado em que esta Merda se Encontra e até (talvez devesse dizer "e sobretudo") comigo própria. Neste momento sinto que não há sequer uma alminha no mundo inteiro com quem possa contar de verdade. Portanto, meus amigos, é clicar na ligação seguinte que este tasco está fechado para balanço.



O que não quer dizer que não reabra amanhã.

2/08/2009

Diz que os inúmeros e incontáveis já degustavam outro repasto

e a bem dizer, também eu.

Fui ver. No frigorífico, a coisa não está famosa. Leite, iogurtes e uns queijitos. Ovos nada. O resto está no congelador mas lá ficará. Legumes vários que até transformaria numa ratatouille se alguém os descascasse e cortasse em rodelas, que o meu tempo escasseia, para não dizer que ruge. A acompanhar com um belo coucous que se faria quase sozinho... Mas tudo não passa de um exercício de imaginação. Assim sendo, e por que vos prezo, subtilizei a imagem aqui e deixo-vo-la (que lindo!) para alimentar os vossos sonhos mais palatais. Quanto a mim, fico-me pelas tostas com os ditos queijitos e à espera de melhores dias...

2/03/2009

A Minha Própria CCI

Começo por desde já repor a legitimidade: quis roubar a rubrica à Carlota e para a coisa não ficar logo escarrapachada no título encontrei esta 'solução': arranjar uma sigla que disfarçasse um pouco o meu acto de usurpação. Para os ínúmeros e incontáveis que eventualmente tenham resolvido prosseguir na leitura desta já de nascença enjeitada posta aqui fica o título por extenso: A Minha Própria Colecção de Coisas Irritantes.

E vou já avisando que são aos montes. Herdei do meu querido pai o feitio sagitariano cruzado de neurótico o que deu como resultado que sou de facto uma mecinha muito irritadiça. Tudo me irrita. Irrita-me tanta coisa que às vezes até me irrita este meu irritar tão rápido. Tão lesto, tão pronto a manifestar-se ao mínimo factor irritógeno. O que, diga-se, é algo que abunda neste nosso sonso e pacato paraíso à beira-mar plantado. O que é dificil é passar mais que uns instantes sem nos irritarmos, a não ser que estejamos a dormir. E mesmo assim, é sabido que existem dúzias de coisas que podem irritar o nosso sono: moscas, melgas e mosquitos, vizinhos barulhentos, digestões difíceis e filhos em crise. Mas acordados dificilmente deixamos de nos irritar. É que coisas irritantes não faltam à nossa volta. Eu até defendo a teoria que Portugal se devia virar para esta indústria e esquecer o turismo. Deixem lá isso para os países onde faz mesmo bom tempo. O clima tuga é apenas um mito. Dediquem-se antes a aperfeiçoar essa grande especialidade nacional que consiste em ser particularmente irritantes, irritadiços e profissionais do irritanço. Trabalhem em prol do desenvolvimento dos ícones irritógenos que irei apresentar em seguida. Descubram ou inventem outros. É um sector inesgotável. Verão que há poucos locais como o nosso querido país capazes de reunir num espaço tão diminuto como, por exemplo, a cidade de Lisboa, tanto objecto, hábito, comportamento, mobiliário urbanístico ou outros itens da mais variada natureza tão profundamente irritante ou susceptível de provocar irritação directa ou indirectamente.
Ontem durante a tarde tive a ocasião de me deparar com vários, já que fui a um local onde eles existem em grande número: um centro comercial. Começando pelas escadas rolantes. Há poucos fenómenos tão bizarros como o comportamento de um português diante de uma escada rolante. E, no entanto, há mais de duas décadas que elas foram implantadas em Portugal. Duas gerações, pelo menos, já nasceram com elas. Outras duas, ou até três, aprenderam - ou deviam ter aprendido - a conviver com este apetrecho típico das cidades contemporâneas. Como nos filmes de Hollywood, qualquer semelhança entre elas e um elevador é mera coincidência. Ou pelo menos, deveria ser. Elas até trazem uns sinais quanto a mim facilmente descodificáveis que nos informam do seguinte: Estacione à direita; circule pela esquerda. Onde se lê 'circule' deverá ler-se 'suba' ou 'desça', já que estas escadas costumam ser a direito, sendo que circular se torna algo complicado; mas esta realidade já existe no código de estrada e não parece causar tanta interpretação errónea. À falta de rotundas, há um certo número de pessoas que consegue perceber o que esta mensagem significa. E não estacionar sistematicamente em segunda fila, que, por sinal, no caso em questão, é a única pela qual se poderia circular. Pois até ao dia de hoje não encontrei uma alminha neste país que se comportasse em condições numa escada rolante. E não é só num centro comercial, o qual, poderiam os inúmeros e incontáveis argumentar, sendo um templo do consumo não é compatível com a situação de pressa. Quando o cidadão tuga se depara com uma escada rolante, seja lá onde for, mesmo que seja no metropolitano a trinta segundos da partida do último comboio, chega, estaca e ali fica. E se uma pessoa quer subir ou descer, que é para isso que elas servem, isto é, para nos ajudar a fazê-lo com mais celeridade e não para o fazerem por nós, já que para isso existem os elevadores, que muitas vezes se encontram no mesmíssimo espaço, se uma pessoa quiser, digo, subir ou descer, tem de zigzaguear nos poucos espaços deixados vagos, pedir mil vez com licença, e ainda ser fustigado com mil olhares de rávia, ódio, escárnio e maldizer como quem diz, olha esta malcriadona a querer passar à frente de toda a gente!!!
Mas prossigamos nesta incursão à montra de coisas irritantes que se podem encontrar num local aparentemente tão inócuo como um centro comercial. Nas casas-de-banho em geral, temos direito a mais duas: a primeira, assim que chegamos à torneira e a abrimos. Chamam-lhe inteligente. Inteligente como? Por que carga de água?!! Só se for daquela que iremos gastar quer queiramos quer não! Pois se aquela trampa deixa de correr quando estamos prestes a desaparecer sob a intensa espuma produzida pelo sabonete líquido que cheira a pastilha elástica obrigando-nos a carregar de novo com toda a força e com as mãos terrivelmente escorregadias, mas depois de eliminado o dito sabonete, aquilo parece comporta de barragem em dia de cheia e continua a deitar água suficiente para encher várias garrafas de litro e meio!

Depois, secar as mãos. Mas onde terão ido parar aqueles maravilhosos rolos de toalha de pano imaculadamento brancas que desapareciam à medida que os usávamos e que asseguravam o carácter ecológico dos nossos lavabos públicos? Eu até compreendo que já não se usem toalhetes de papel - o que, em última instância, seria preferível, já que o papel higiénico acaba por ser utilizado no seu lugar, mas como se desfaz facilmente gasta-se provavelmente muito mais sendo que depois vai para a sanita e não para o cesto - agora existirá alguma criatura com mais de catorze anos que realmente goste daqueles secadores automáticos? Que além de barulhentos, gastam energia e não secam coisa nenhuma a não ser que estejamos dispostos a passar ali o resto da tarde?

Saído para a rua em busca de um pouco de paz encontramos logo outro item desta colecção virtualmente infinita: os passeios. Mas quem raio se terá lembrado de não os fazer suficientemente largos para aqueles grupos de pessoas que decidem ocupá-los por completo? Por que razão obscura não terão eles todos pelo menos quatro metros de largura e corredor de escoamento para chatas como eu?

Um objecto que definitivamente, para ser autorizado, deveria ser sujeito a uma vistoria por uma entidade independente ou então, como os seus congéneres, à obtenção de uma licença de uso e porte de arma, são os guarda-chuvas, vulgo chapéus-de-chuva. Para já, onde terão ido buscar este nome? Toda a gente sabe que um chapéu é um objecto que se usa em cima da cabeça. E mesmo a palavra guarda, está bem, pois da forma como muitas pessoas o usam, está-se mesmo a ver o motivo: "En garde", grita o objecto que trazem ameaçadoramente espetado na nossa direcção como quem dissesse "E se não te pões a pau, eu chego-te" (Like american say: if you don't put you a stick, I'll arrive you"). Embora 'chegar' seja pouco mais que um eufemismo. Trespassar seria um termo mais adequado. Quanto à terminação 'chuva', enfim, releva da mais óbvia falta de observação. Guarda-distâncias, sim faz todo o sentido. Agora guarda-chuva? Para guardar a chuva, os dito-cujos deveriam apresentar-se ao contrário, de outro modo, como fazer? Pois se ela lhes escorrega por cima?!!

(continua)
(assim como a série das Sopeiras, para gáudio de um(a) certo(a) anónimo(a) que me brindou com uns mimos e que faço questão de presentear com mais uma das minhas incontornáveis postas, assim como um lugar especial no pódio da Minha Própria CCI)

1/30/2009

Retrato-robô das sopeiras de antanho

Capítulo 1 – As criadas das nossas avós

Chamavam-se Emília ou Judite ou simplesmente Maria. Quando se falava delas eram referidas como as criadas e não havia mal nisso. Chamavam os nossos pais “Menino José Manuel” e as nossas avós “Minha Senhora”. Não tinham idade e já estavam em Lisboa há tanto tempo que nem se lembravam do nome da terra de onde vinham. Usavam lenço na cabeça, bigode e pêlos nas pernas. Dormiam num quartinho que existia em todas as casas ao lado da cozinha e acordavam antes de toda a gente para ir ao leite e ao pão e às 7 da manhã já estavam a arranjar o pequeno-almoço da família inteira. À noite, só recolhiam depois de lavada e arrumada a loiça do jantar. Decidiam e confeccionavam as refeições, sempre de acordo com as suas senhoras e não havia prato ou sobremesa que não soubessem fazer. Depois de lavada e arrumada a loiça do almoço, sentavam-se a fazer naperons de croché e botinhas para o enxoval dos netos da patroa. Andavam atrás de nós para ter a certeza de que comíamos os papos-secos com manteiga (flora) e açúcar que nos davam para a merenda depois de nos irem buscar à escola (como é que nós conseguíamos gostar daquilo???). Falavam e gritavam muito alto, e, se nos portássemos mal, tinham ordem para nos puxar as orelhas, a qual levavam à letra. Não sabiam ler nem escrever mas dominavam todos os conhecimentos necessários à administração de uma casa e nunca se enganavam nas contas nem se esqueciam de comprar o pão. Lavavam a escada do prédio e o chão da cozinha de gatas e ‘desarredavam’ os móveis de madeira maciça à força de braços para limpar energicamente o pó que se acumulava por detrás. Tinham as cozinhas rigorosamente impecáveis e se caísse pinga de gordura em cima do fogão limpavam-na com a unha. Sabiam distinguir uma peça de roupa suja de uma limpa e não era preciso dizer-lhes para tratarem da saúde ao conteúdo da tulha, que geriam. Lavavam no tanque, determinadamente, com sabão azul e branco. E não havia nódoa que lhes resistisse. Sabiam que a roupa branca se estende ao sol e a de cor à sombra e, mesmo que não tivessem grandes cuidados em evitar vincá-la quando a estendiam, não havia problemas pois arranjavam sempre um espaço na sua agenda para a engomar. E, evidentemente, arrumavam-na no seu lugar. Seria de todo impossível para elas confundir a roupa de uma mulher de 39 anos com a do seu filho de 11, por mais parecidas que pudessem ser (Sim, eu sei que nessa altura era mais fácil distinguir, mas, convenhamos, sweat-shirts XL a dizer ‘Boarder’?!). Sabiam igualmente detectar quando algo estava roto ou descosido e não era preciso dizer nada. Remendavam tudo, muitas vezes sem que sequer o dono da peça em questão se tivesse sequer dado conta do buraco. Também não era preciso explicar-lhes que a sujidade se acumula debaixo das camas e deve ser limpa, nem pedir-lhes que, por especial favor, deslocassem os objectos de cima dos balcões quando os limpavam. Sabiam sempre quando era preciso mudar as roupas das camas e as toalhas nas casas-de-banho.
Chegada a primavera, subiam para cima dos bancos e dos escadotes e lavavam os vidros por dentro e por fora, arrecadavam as mantas e os tapetes, limpavam as teias de aranha da despensa e dos tectos, arejavam todos os cantinhos da casa, tiravam a roupa de verão dos malões onde esta se encontrava, lavavam-na, estendiam-na, engomavam-na criteriosamente e nunca tinham o serviço atrasado. Todos os dias variam e lavavam o chão com sabão azul e branco e quinzenalmente enceravam as madeiras. Nesses dias, expulsavam-nos da sala, que se chamava casa-de-jantar , dando-nos palmadas nos rabos ou vassouradas na barriga das pernas. Não tinham vida própria e eram felizes assim. Ao domingo saiam às três da tarde. De inverno, iam à matinée do Tivoli ou do Paris e quando estava sol iam ao jardim da Estrela dar pão seco aos patinhos e fazer renda nos bancos. Sem esquecer, claro, a missa das seis. No regresso traziam caramelos “para os meninos”. Quando nos portávamos bem com elas, deixavam-nos ir brincar com os vizinhos mesmo que os nossos pais nos tivessem posto de castigo. Faziam parte da família e choravam com as nossas penas, emocionavam-se com as nossas alegrias e estavam presentes nos aniversários, baptizados e casamentos. Quando um dia ficavam demasiado velhas, regressavam à terra não sem antes ter ido lá buscar a sobrinha de quinze anos que se chamava Isabel ou Maria do Céu e a quem antes de partir ensinavam com desvelo todo o serviço da casa.

(próximo capítulo: As empregadas dos nossos pais)

1/29/2009

Por estas e por outras é que eu gosto dela

se houvesse uma palavra para a definir, essa palavra seria ternura. Tem sobre a realidade um olhar raro. Sei que não se vai importar que o partilhe convosco...

A luz ao fundo do túnel

... há quase três horas que não chove!!!

1/26/2009

Portugal, 2009

48 horas para cozinhar uma posta é muito tempo. Nem que fosse de bacalhau especial. Esta não. A ver com o bacalhau só o facto de se referir a factos que ocorrem neste triste paraíso à beira-mar plantado e de especial o tamanho da estupidez, da ignorância, da maldade. Sim, porque em todo o acto de discriminação, não me venham com tangas, tem de existir um quê de maldade, uma pontinha do inquisidor que dorme no fundinho do ser mas que cabe a todos nós domar, digo eu de que, mas é verdade que eu sou como a tia do outro e tenho a mania de dizer coisas.

Pois 48 horas para cozinhar uma posta é muito tempo mas há coisas que se nos atravessam na garganta e a malta não sabe muito bem como abordar, como trazer ao de cima, de tão boquiabertos ficamos quando somos confrontados com elas.

Imagine-se uma clínica dentária de renome em Lisboa, capital de Portugal, país-membro da União Europeia desde 1986 (se não me falha a memória), país membro da ONU, país signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, país que foi o primeiro do mundo a abolir a escravatura e a pena de morte, país que se diz de brandos costumes, país este onde vivo e que amo, em 2009, final da primeira década do séc. XXI, um quarto de século (e mais uns trocos) depois de isolado o VIH, 125 anos depois de Pasteur, quinhentos anos depois da inquisição.

Imagine-se, dizia, uma clínica dentária aqui e agora que descobre que um dos seus utentes está in(a)fectado por uma doença crónica que é (comprovadamente) apenas transmissível por via sanguínea. Imagine-se que essa clínica, onde é suposto que todo o material utilizado seja amplamente esterilizado e, obviamente, todas as práticas e rotinas sejam de molde a proteger técnicos e utentes da mais leve possibilidade de serem contaminados com seja que doença for, e por maioria de razão, de estarem em contacto com vírus como o HIV (transmissão sanguínea e sexual) e o HCV (transmissão sanguínea).

Para quem possa eventualmente ignorá-lo, calcula-se que o HCV (Vírus da Hepatite C) afecta actualmente cerca de 1,5% da população portuguesa, sem que a grande maioria (90%) dos portadores tenha desse facto sequer a mais leve suspeita. Feitas as contas dá qualquer coisa como 150 mil pessoas. Nada que se compare, nem de longe nem de perto, com a incidência da SIDA. É por isso considerada pelos médicos como "A epidemia silenciosa". Mas adiante. Há cerca de 10/15 anos que se sabe com toda a certeza que o vírus da Hepatite C apenas é transmissível por via sanguínea, sendo que os raríssimos casos em que há suspeita de outros modos de transmissão dizem respeito a casos de eventual contaminação por via sexual (quem garante que nos casos em questão não existiam feridas, mesmo microscópicas?) ou de mãe para filho (mais uma vez nestes casos há uma grande probabilidade de ter havido contacto entre o sangue da mãe e o do bebé, quanto mais não seja no momento do parto). À diferença das mães seropositivas para o HIV, as que são portadoras do HCV são incentivadas pelos médicos a amamentar os seus filhos, já que se considera que os benefícios desse acto são infinitamente superiores aos (nunca demonstrados) riscos de transmissão do vírus através do leite (excluindo-se, uma vez mais, a existência de feridas ou gretas no mamilo que pudessem pôr em causa a segurança da amamentação).

Imagine-se, pois, uma clínica dentária aqui e agora, uma clínica dentária privada mas que possui acordos com várias entidades que lhe conferem desse modo credibilidade, uma clínica dentária de dimensão considerável, uma clínica dentária que tem um serviço de urgências, tornando-se assim muito concorrida . Imagine-se que esta clinica, ao descobrir que um dos seus utentes está in(a)fectado pelo vírus da Hepatite C (mas podia ser HIV), lhe transmite a informação de que, dali em diante, terá de ser atendido depois das 19h00, no "final do expediente". Imagine-se que este utente pede explicações para tal medida, suspeitando que se trate de uma política discriminatória, logo inaceitável. Imagine-se que lhe é dada uma desculpa totalmente esfarrapada que invoca entre outros disparates desprovidos de qualquer bom-senso a "ausência de esterilização do ar" e enormidades do género.

Imagine-se ainda que o médico dentista que fala em nome da clínica acrescenta com sobranceria que ali, naquela clínica, ninguém se nega a atender clientes infectados com aqueles vírus, à diferença de outros "colegas", que o fazem. Imagine-se que o utente, espantado com tal revelação, a questiona e que lhe é respondido que "um médico-dentista não é obrigado a atender ninguém, muito menos em clínica privada" e que, confrontado com as questões inerentes à deontologia médica, responde que "os médicos-dentistas não são médicos, nós não estamos sujeitos ao juramento de Hipócrates" (!!!).

Pois bem, inúmeros e incontáveis, não precisais de violentar a vossa preciosa imaginação em exercícios tão complexos como conceber episódios desta natureza. A clínica dentária existe e este caso ocorreu na semana passada. Em 2009, em Lisboa, em Portugal . No tal país. No país onde se isolam parturientes portadoras dos vírus acima referidos sem qualquer justificação plausível. Violando o princípio da igualdade, um dos mais elementares, garantido pela Constituição da República e pela tal Declaração Universal (ultrapassada, diariamente, pelos acontecimentos, em todo o mundo). Violando o direito ao anonimato e à privacidade dos doentes, já que a condição de positivos é escarrapachada nos quadros clínicos usados pelo pessoal de enfermagem os quais se encontram nos corredores das enfermarias à vista de todos os que por ali passam. No país onde, em Dezembro de 2005, a vossa Calamity foi deixada 14 horas depois de parir dentro da mesma sala onde tinha feito a dilatação pois não havia quartos na neotologia embora existisse um bloco de partos novo em folha por estrear desde Março do ano anterior o que ainda não ocorrera por falta de material. Onde a vossa Calamity teve de berrar com uma enfermeira-chefe para que lhe fosse dado o direito a receber um par de cuecas da sua mala para que, quando se levantasse para ir à casa-de-banho (o que ocorre algumas vezes quando se acabou de ter um filho) não tivesse de andar de cu para o ar e penso entre as pernas em frente das visitas da sua companheira de quarto, pois o hospital não dispunha de cuecas descartáveis e não deixava entrar objectos estranhos na sala de dilatação onde ambas se encontravam com os seus bebés recém-nascidos por falta de quartos. O mesmo país onde se deixam morrer doentes em estado terminal à hora das visitas à frente de crianças que visitam o doente da cama ao lado. O mesmo país onde pessoas com gripe, tuberculose, pneumonia, herpes labial e uma inifinidade indiscrível de doenças infecto-contagiosas não são protegidas nem submetidas às mais elementares regras de prevenção para que não contagiem terceiros nos centros de saúde, hospitais e nas tais clínicas dentárias onde se pratica discriminação indiscriminada e criminosa.

O país onde, diariamente, a realidade ultrapassa a ficção.


1/25/2009

Coisas que encontramos perdidas há que tempos na caixa do gmail...

DICIONÁRIO FEMININO

Sim. = Não.

Não. = Sim.

Talvez... = Não.

Não sei se será assim. = Vai ser como eu quero.

Nós queremos. = EU quero.

Faz como quiseres. = Vais pagar muito caro por isto!

Precisamos de conversar... = Agora vais ouvir.

Vai em frente. = Não quero que vás.

Não estou chateada. = Lógico que estou chateada.

Sê romântico, apaga as luzes... = Sinto-me gorda.

Esta cozinha não dá muito jeito = Quero uma casa nova.

Até que ponto me amas? = Fiz algo que não vais gostar de saber...

Estou pronta num minuto! =Tira os sapatos, escolhe um canal de TV e relaxa.

Estou gorda? = Diz que estou bonita.

Precisas de aprender a comunicar. = Concorda sempre comigo.

Não estou a gritar! = VOU PARTIR ESTA MERDA TODA!


DICIONÁRIO MASCULINO

Estou com fome. = Estou com fome.

Estou com sono. = Estou com sono.

Estou cansado. = Estou cansado.

Queres ir ao cinema? = Vamos dar uma queca ?

Posso convidar-te para jantar? = Vamos dar uma queca ?

Posso ligar-te? = Vamos dar uma queca ?

Queres dançar comigo? = Vamos dar uma queca ?

Bonito vestido! = Que decote! Vamos dar uma queca!

Pareces tensa... Deixa-me fazer-te uma massagem. = Vamos dar uma queca.

Estou chateado. = Vamos dar uma queca.

Amo-te! = Vamos dar uma queca, agora!

Vamos conversar... = Vamos dar uma queca...

Queres casar comigo? = Não quero que andes por aí a dar quecas com outros.

Gosto mais desse... = Qualquer vestido serve, vamos dar uma queca duma vez!


(Cool, este encaixa direitinho na sequência do Men's brain/Women's brain... )

E vão 200 postas...

1/22/2009

E agora, para algo completamente diferente...

A Cultura geral é bonita


Para aumentar o conhecimento :
Sabiam que antigamente, na Inglaterra, as pessoas que não fossem da família real tinham que pedir autorização ao Rei para terem relações sexuais? Por exemplo: quando as pessoas queriam ter filhos, tinham que pedir consentimento ao Rei, que, então, ao permitir o coito, mandava entregar-lhes uma placa que deveria ser pendurada na porta de casa com a frase 'Fornication Under Consent of the King' (fornicação sob consentimento do rei) = sigla F.U.C.K ., daí a origem da palavra FUCK.
Já em Portugal , devido à baixa taxa natalidade, as pessoas eram obrigadas a ter relações: 'Fornicação Obrigatória por Despacho Administrativo' = sigla F.O.D.A ., daí a origem da palavra FODA.
Por sua vez, quem fosse solteiro ou viúvo, tinha que ter na porta a frase: 'Processo Unilateral de Normalização Hormonal por Estimulação Temporária Auto-induzida', sigla P.U.N.H.E.T.A .
Vivendo e aprendendo...
A gente pode até dizer uns palavrões, mas com conhecimento e cultura é outra coisa!

(recebido por email)

1/20/2009

Há assuntos dos quais é difícil desligar

(imagem daqui)


Ainda estou em choque. Nasceu no mesmo ano que eu. Fecho os olhos e não consigo deixar de ver a sua imagem luminosa, a sua energia contagiante. De ouvi-lo cantar com veemência: "Há quem navegue de porto em porto, eu navego de bar em bar, há quem procure fazer fortuna eu procuro naufragar". Era um miúdo. Eu era uma miúda. Ainda sou... "Telefonei pra Tóquio só pra te ouvir cantar, pensei que a tua voz me pudesse animar..." Cantava Sitiados à filha de uma amiga, ainda bebé, seis meses apenas, e ela torcia-se de gozo... A minha filha de 3 anos tem hoje o mesmo nome que essa bebé. E a bebé... a bebé fez 18 anos há pouco mais de um mês. Sim, a bebé tem hoje 18 anos mas eu ainda sou uma miúda e o João também.