4/14/2009
Samba e Amor ou A vida é demasiado curta para que a passemos a engolir sapos
Sentir-nos felizes com aquilo que fazemos no dia-a-dia é condição sine qua non para mantermos a sanidade mental. Sempre me interroguei sobre como fazem aquelas pessoas que passam 40 horas por semana a sentirem-se miseráveis nos seus postos de trabalho, aturando chefes intratáveis ou executando tarefas deprimentes que não lhes dão qualquer tipo de prazer. Admiro essa capacidade de sacrifício mas seria absolutamente incapaz de viver assim. Admito que o meu saco deve ser particularmente pequeno, comparado com o da maioria, mas, quando começo a sentir-me em dissonância com um "emprego" - e é óbvio que, sendo precária desde 1998, este conceito de emprego é algo difícil de definir - o mal-estar vai num crescendo que, a pouco e pouco, vai tomando proporções tais que acaba por ocupar todo o espaço. É então que surgem os sintomas físicos de rejeição. Os primeiros, como não podia deixar de ser, situam-se (ainda) no campo psico-somático. Há cerca de 15 anos que deixei de ter insónias na acepção mais comum do termo. Esteja mal ou bem, adormeço sempre com a maior das facilidades. Às vezes até demais: quantas vezes não me fico a meio do intervalo de um filme que gostaria de ver até ao fim. De há uns anos para cá passei a ter nos gravadores de vídeo uns grandes aliados. Hoje em dia, se adormeço tarde, é porque ainda não comecei a amochar sobre o teclado do PC. A seu tempo, a coisa dar-se-á, presumo. Mas voltando à vaca-fria, dizia eu que não costumo ter dificuldades para adormecer. O meu sinal de alarme faz-se ouvir quando começo a acordar antes do despertador. Uma vez por outra, isto poderá ser aceitável, e até dar um certo jeito. Mas quando o fenómeno começa a repetir-se madrugada após madrugada e, sobretudo, quando me impede de descansar em condições - pois, sejam que horas forem, e tenha-me eu deitado cedo ou a desoras, a partir de determinada altura estes despertares nocturnos ou demasiado matinais são irreversíveis para aquela noite em concreto, ou seja, acordo e não volto a pregar olho -, eu sei que chegou o momento de tomar uma atitude. Tudo isto para dizer que as minhas capacidades preditivas atingiram provavelmente o seu auge. Sei hoje anticipar com uma precisão assustadora a altura em que o meu supracitado saco começará a carregar no indicador de "cheio" que, por sua vez, fará acender a luz vermelha. E por ter, ainda nem há um ano, passado um período em que deixei que às insónias nocturnas sucedesse a fase seguinte - vulgo destrambelhanço total - sei que o meu amor próprio não permitirá que volte tão cedo a deixar-me adoecer por coisas que não valem a minha preciosa saúde. Eu, os meus filhos, a nossa vida, o meu caminho (aquele que já escrevi e o que se encontra à minha frente por desbravar) - merecemos mais e melhor. Estou pronta a dar tudo num trabalho que me realize, que faça vir ao de cima o melhor de mim. Tenho muito para dar e só sei funcionar assim, com paixão. Compreendo (embora até hoje tenha dificuldade em aceitá-lo) que a maioria das tarefas não sejam compatíveis com a minha natureza. Mas acredito que, apesar de tudo, e por mais que me queiram fazer engolir conversas para boi dormir sobre a crise, a concorrência e o raio que os parta, há um lugar onde eu posso cumprir-me. Sem nós na garganta, sem apertos no estômago, sem noites mal dormidas que não sejam por febre criativa ou por fazer, como o meu querido Chico, "Samba e Amor até mais tarde". Fiquem, pois, com ele que eu vou ali e já venho.
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23 comentários:
É nestas coisas que somos almas muito similares, muito, muito similares. Talvez por isso nunca encaixemos em protótipos de vida, do "deixa-me aguentar". O limite é impossível de ignorar. Ou por outra, talvez por isso cheguemos onde queremos. Não sei. Desejo-te tanta sorte como a que desejo a mim mesma. Com paixão, sempre.
É isso aí... bola prá frente que atrás vem gente:)
bjkas
... é que senão não vale a pena, amiga! :-)
Olhó simultâneo, Rita! ;-)
estou entre a balança da luz e o teu sagitário, o q me anda a fazer a andar atrás do ferrão e n sair do mm sitio :S
qt a ti, sky is not the limit, just the beginning ;)
bj meu
Ser feliz e saber ser feliz é o que levamos desta vida!
Mas engolir sapos tambem faz parte!
Oh se faz!
Bjs grandes e toda a sorte gaja!
Toda a força do mundo para seguires esse caminho!
Não poderia ter dito melhor... o meu último emprego, como sabes, levou-me ao limite dos limites... as consequências foram a colite nervosa, coisa q nunca tive. Te garanto que NUNCA mais. Nunca mais deixo passar mais tempo qd tudo em mim diz: BAZA!
Beijo grande. Estou cá para ti (mas esquece os roupeiros, q eu nem coragem tenho para os meus LOL).
Eu li e reli e acenei muitas vezes. Sou assim, refilo, chateio-me, exagero, deixo o saco rebentar. Não tenho a coragem para o passo seguinte, a não ser que
esse passo me dê uma segurança financeira idêntica à que tenho. Não consigo, nem posso. Mas deixo-me ir demasiadas vezes ao ponto de rebentar... E compreendo bem o que dizes...
Magnífico post. Acho que também estou a chegar ao meu limite, se bem que o meu sinal é a dificuldade em sair da cama, de manhã.
Monikyta, não deixes que tu sejas a tua própria inimiga. Não sendo escorpião, tenho um pouco essa tendência, por às vezes respeitar mais o outro que a mim própria.
E obrigada pelo voto de confiança!
Sim, Tita, mas engolir sapos em doses industriais não volta a ser comigo. Não acredito que faça bem a seja quem for. Nem mesmo a quem nos faz engoli-los.
Obrigada Zá. Preciso dela a toda a hora. (e sempre nos vemos no fds, para falarmos de coisas transcendentes - e não só?)
Loirita, estamos aí, não é? ;-))
Tania, às vezes essa segurança é só mais uma ilusão. A mudança é algo a que resistimos naturalmente. A minha experiência diz-me que as coisas se encaminham por si só para o equilíbrio, como, aliás, na natureza...
SC, se o post tiver servido nem que seja para te ajudar a tomar consciência de que algo tem de ser mudado, então já "valeu a pena" tê-lo escrito. É engraçado como algo que fazemos a pensar em nós pode ganhar novas dimensões quando é partilhado...
se há pessoa que gosta de qualquer um dos trabalhos que faz sou eu e se há alguém que se empenhe simplesmente porque gosta mesmo daquilo e porque acredita e porque acha que vale a pena, de certeza sou eu e quantas noites passo de volta dele...
mas (caramba, há sempre um mas em todo o lado)
um dia aprendi que me pagam para trabalhar e portanto eu trabalho o melhor que sei para não ficar a dever nem 1 centimo a quem me paga
mas (caramba, às vezes há mais do que um mas)
pagam-me para trabalhar, não me pagam para me irritar, para deixar de viver e muito menos para morrer
portanto (além dos mas também existem os portanto)
eu trabalho mas (só mais um) sem me irritar, sem deixar de viver e muito menos para morrer!!!
querem, querem, não querem, teriamos pena se fossemos galinha que é quem tem penas, mas como não somos, optamos por viver
ena pahhhhh até já aprendi a escrever ao km como tu
:)
Este post fez-me pensar que aqui onde estou é mais dificil mudar porque estou farta do que faço. Sou do quadro do governo, um governo chinês numa cidade em que o português desaparece a cada dia que passa e os falantes de português vão fazendo menos falta, excepção para os juristas porque a lei ainda funciona melhor em português que os chineses não sabem ler nas entrelinhas nem percebem indirectas...
Já houve tempo em que me esforcei em que fiz o melhor que podia, perdia o sono a encontrar a melhor solução, adiei a chegada dos filhos. Um dia vi que não valia a pena e comecei a deixar de passar tanto tempo no trabalho, a deixar tudo para trás das costas quando saio, a não pensar mais nos problemas que a minha vida não é o trabalho. Este faz-me falta porque não nasci rica, antes pelo contrário e porque tenho 2 seres que dependem de mim e a quem quero dar o que não tive e a quem não quero que falte nada, sem exageros que o mundo em que vivemos é demasiado materialista.
Gosto do que faço, tenho menos que fazer, nào aceitam as sugestões para mudar, paciência, mas não me chateio nem perco o sono e discuto quando me dizem que estou errada e sei que não estou... enfim, vamos vivendo um dia de cada vez. :)
Beijinhos e boa sorte para ti!
Concordo em pleno contigo. E falo com conhecimento de causa. Nunca tive um emprego seguro, sempre precário. É difícil conseguirmos fazer o que gostamos...
Cristina
muitas vezes não há possibilidade de mudar, infelizmente não há mesmo, principalmente agora. e as pessoas limitam-se a aguentar, e por isso se vê mais de meio mundo infeliz, stressado, carrancudo...
se tens esse hipótese, força, não a deixes escapar.
boa sorte :)
CJ, Sabado, combinadissimo!
Só não sei se a esplanada do oceanário será a melhor opção com este tempo de treta.
Fazemos reunião por mail na sexta para definir o sitio ok?
Beijo grande
clap clap clap clap clap clap clap clap clap clap clap clap
Daqui me levanto e aplaudo de pé este post, que a mim faz-me um sentido do caraças e tu nem imaginas como
beijos
CJ, tás bem?
Escarlate, é que é mesmo isso!
(e que bem que te fica a escrita quilométrica!...)
Sandra, não será mau chegar a esse ponto, mas mesmo assim não sei se me contentava...
I will, Cool, I will.
Difícil mas possível, Cristina, há que acreditar. (E aparecer no Mayday? )
Patrícia, as hipóteses somos nós que as fazemos. Com cabecinha, sem precipitações inconscientes, mas determinação. Isso do não se ter hipótese é muitas vezes a pastilha que nos fizeram engolir para que nos verguemos sem estrabuchar...
Zá, tá no ir ;-))
Obrigada, Mochito. Espero que te sirva de inspiração, então. (sempre às ordes)
Tou, querido Tubarão. Obrigada por te preocupares. E vou com calminha. Aquilo foi um desabafo, mas o timing está pensado e ainda não é já (que raio de frase esta)
Força.
Algo me diz, que vais conseguir tudo o que anseias.
O problema e q mesmo as paixoes nao duram sempre. Tenho periodos de paixao com o que faco, mas ultimamente acho que tanto eu como o meu emprego precisamos de counselling pra podermos fall in love again. Se calhar e fruto das tensoes do momento.
O rapazinho Chico é sempre uma actualidade!!!! A sério: concordo com tudo o que dizes sobre a maioria dos trabalhos. Eu que até nem me posso queixar!!! Deixo-te beijinhos e a minha esperança (que pouco ou nada vale, eu sei!) de que as coisas mudem e que os teus sonos se "destroquem" por boas razões como seja a ou uma segurança económica e profissional.
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