10/27/2008

O grande engodo


Tenho a mania, entre muitas outras, de querer comer coisas saudáveis, seja lá o que isso queira dizer. Faz-me impressão a quantidade de merdas que misturam naquilo que nos impingem e que nós alegremente compramos, consumimos e damos a consumir aos nossos filhos. Já há tempos, aliás, fiz aqui uma posta sobre o assunto. Falava sobretudo de 'E's, esses entes misteriosos sob os quais pode estar disfarçada a substância mais inócua do mercado ou o mais prejudicial veneno sem que, a maior das vezes, a maior parte dos fregueses se apercebam, já que imagino que, além da minha obsessiva pessoa, só deve haver outros dezassete consumidores em Portugal a percorrer paranoicamente as listas de ingredientes nos supermercados, acabando por deixar para trás 95% dos produtos novos que surgem e chamam de tempos a tempos a tempos a minha atenção.
Já o tinha dito e repito, pois não consigo, por mais que tente, compreender, como é que pessoas que dizem preocupar-se com o que ingerem, acabam por levar gato por lebre, nomeadamente quando acham que estão a comprar um magnífico pão integral, cheio de cereais e fibras, e enriquecido com sementes, mas se esquecem de constatar que o dito pão se acha igualmente enriquecido com meia-dúzia de aditivos químicos dos quais pelo menos dois são comprovadamente cancerígenos. Aliás, muito se poderia discorrer aqui só sobre o pão. Alguém já se apercebeu, por exemplo, que existe à venda uma broa de milho provinda de uma entidade que à partida nos mereceria total credibilidade chamada "Museu do Pão" (sede: Seia, Serra da Estrela) e que mesmo esta não é isenta de aditivos, vulgo merdas que misturam na farinha, no fermento e sei lá mais o quê para aquela porra durar mais tempo ou lá o que é, como se a broa não durasse naturalmente uma semana e até mais caso se guarde no frigoríco e/ou se torre em fatias finas??? E ninguém diz nada?

Sim, eu também "aderi" à "moda" dos produtos naturais, aliás, nisto como noutras coisas, já lá andava antes de a maior parte das pessoas se ter dado conta da sua existência, desculpem os inúmeros e incontáveis a falta de modéstia, mas as verdades são para serem ditas. Só que tentei fazer a coisa como deve ser e como sou imensamente paranóica e obsessiva - sim, eu sei, já o tinha dito anteriormente, mas o assegurar-nos constantemente de que deixámos as torneiras fechadas faz parte da nossa doença, não sei se os inúmeros e incontáveis conhecem - dizia eu pois que, como sou imensamente paranóica e obsessiva, passei nessa altura a ler tudo o que era rótulo e a assegurar-me da composição dos alimentos e até de outras coisas, mas isso não vem agora ao caso. O importante e trágico é que progressivamente fui eliminando produtos da despensa, frigorífico e sobretudo da alimentação diária. A coisa piorou um pouco quando o meu filho nasceu, e como já vai fazer onze anos, podem os inúmeros e incontáveis comprovar que o que digo é deveras verdade, ou seja, ainda nem bem se sonhava neste país que os ditos produtos naturais se tornariam uma coisa muito in e já eu frequentava os celeiros da vida e me tinha apercebido do quanto isto pode ser enganador e, além de enganador, paradoxal. Pois não andou o ser humano a "evoluir" durante tanto tempo a fim de conseguir produzir mais e mais barato, de conseguir fazer com que a riqueza chegasse a mais e mais gente e a um preço mais acessível, a inventar formas de conservar os alimentos para que durassem mais e com eles as suas qualidades nutritivas, a reproduzir artificialmente qualidades naturais para que chegássemos a esta espantosa realidade: se eu hoje quiser um alimento natural, tal qual era consumido no tempo dos meus avós, tenho de pagar bem mais caro por ele do que se o consumir cheínho de produtos químicos ou a saber a plástico, porque há uma lei qualquer para a qual eu não votei que diz que o mesmo tem de ser embalado numa porra de uma embalagem que lhe altera as características além de ser antiecológico, mas isso já são outros quinhentos e se vocês ainda tiverem pachorra outro dia faço uma posta sobre o assunto.

Dei por mim a pensar nisto e em muitas outras coisas enquanto percorria os corredores de um recém-inaugurado espaço comercial especializado em agricultura biológica. Tudo muito bom, mesmo muito. Leite propriamente dito, mugido da vaca que pastou erva pura, sem pesticidas. Só por isso tenho de pagar duas vezes e meia o preço da coisa geneticamente modificada e artificialmente manipulada. Pão sem quatrocentos e e trinta e cinco 'E's. (Sim, inúmeros e incontáveis, ide comprar o vosso pão ao Pingo Doce e lede a etiqueta. E depois, se quiserdes, continuai a comê-lo e a dá-lo de comer aos vossos filhos. Eu cá sou maluquinha mas prefiro comprá-lo na padaria ou na tal loja e imaginar que ele vem um pouquinho que seja mais limpo...). Mais 50% de aéreos. Fruta e legumes que cheiram ao mesmo que aqueles que colho nos pomares alentejanos onde por vezes tenho o privilégio de poder fazê-lo (Arrotar mais 30 a 150% dos aéreos em relação aos mesmos frutos e legumes inodoros, congelados quando ainda não estavam maduros e que vão apodrecer sem nunca terem passado pela fase do comestivel). Não garanto a pureza a cem por cento, mas como fazê-lo? Não estão os lençóis freáticos, as águas, os caudais contaminados? Mas quando os produtos são preparados, como o pão de que falava mais acima , pelo menos não lhes foram acrescentadas substâncias que dão por nomes enigmáticos como 'intensificador de sabor' ou 'regulador de acidez'. Lá em casa, a hortelã, o coentro e o sumo de limão acrescentados na hora ainda conseguem intensificar o sabor e regular a acidez de qualquer alimento...

Mas francamente, que chateia à brava, chateia. Comprar a minha manteiga sem sal ( e branquinha..., como veio ao mundo) e ter de pagar mais dez a vinte cêntimos do que se levasse a sua congénere salgada. Ou chegar à farmácia querendo comprar um produto contra os piolhos - pois é verdade, inúmeros e incontáveis, eles andem aí, mais fortes, mais invasores do que nunca!!!, preparando-se para um ano escolar em grande e para contribuir para a riqueza da indústria farmacêutica em peso (aliás, pergunto a mim própria se não serão estes que "fabricam" estas pragas todos os outonos...) - e dar com uma loção nova que apregoa o seguinte: "SEM NEUROTÓXICOS". E logo ao lado, não se fosse dar o caso de eu não ter percebido: "NO NEUROTOXICS". Sim senhor. É assim que ao fim de cinco anos a lutar desenfreadamente contra esta bicharada fico a saber o que andei a colocar repetidamente na cabeça do meu filho! FODA-SE! ESTES GAJOS ESTÃO A GOZAR COM QUEM??? Portanto eu pago vinte euros por um frasco de uma tanga qualquer cujo efeito vai durar 15 dias, que vai pôr o puto aos berros e a chorar, e ao fim de quinze dias vou lá buscar mais porque entretanto ele foi re-infestado e estou a pespegar-lhe com uma droga que lhe está a causar danos cerebrais e nem sequer sou informada???
Mais, para quem ainda não saiba: gelatina é bom, não? Pois é. Faz crescer as unhas e o cabelo, não é? Pois é. Mas não é aquela que vos vendem. Essa é feita à base de farinha DE CARNE DE PORCO. Procurem nos ingredientes. Só a gelatina vegetal é saudável e essa só é vendida em determinados sítios.
Mais. Cornetto de Morango e Perna de Pau. É bom, não é? Pesquisem lá que 'E's são aqueles. Dois deles são cancerígenos. Porque é que ainda estão no mercado? Vocês sabem? Eu não.

Exijam da porra do governo e da rachtaparta da ASAE, já agora, que foi para isso que os puseram lá, se é que alguém ainda se lembra, que nos esclareçam sobre as merdas que andamos a comprar e a dar aos nossos filhos. Que venenos são estes que são permitidos/tolerados pelas autoridades?


E já agora, se tiverem estômago, dediquem lá 20 minutos das vossas vidas a ver isto. Mas vejam mesmo. Aprende-se mais do que em três anos de blogosfera. Se precisarem, existe uma versão traduzida e legendada em Português que está bastante fiel ao original. Divulguem. Mostrem aos nossos filhos. É que, apesar de tudo, pode ser que ainda haja saída. Afinal, andamos aqui para alguma coisa ou só para alimentar este gigantesco engodo?




Ah, é verdade: com 1/2 copo de vinagre dá-se cabo da piolhada... Ah, pois é!!! É vê-los, senhoria, a tombar na banheira, que nem tordos, clamando por misericórdia!... O preço? Uma agradável surpresa!...

PS: Só para terminar, e depois prometo que não vos empato mais, não percam esta brilhante crónica do RAP. Eu própria não o teria dito melhor (heheheh)...

7 comentários:

Luz de Estrelas disse...

Eu sou das que procura E´s! LOLOLOL. Pensei que era só eu com a tara. E CJ, não podia estar mais de acordo contigo... Eu cresci sem E´s. Na altura, o normal era tudo ser biológico. Agora custa-me ver que tudo, tudo, tudo entra para o mercado. E essas lojas discount, onde, infelizmente, tb páro... é o símbolo perfeito da falta de controlo da qualidade. Só gostava de saber em nome do quê, permitem que nos matemos aos poucos. Pior do que isso: que permitam qie matemos os nossos filhos, só porque não temos pagar produtos de qualidade. Este "mundo" está assente em razões tão perversas que me dá um nojo imenso. Sou uma revoltada e depois? Pelo menos algumas pessoas entendem-me.

Loira disse...

Eu confesso q sou daquelas q prefere nºão pensar mto nisso. Smp q possível opto pelo biológico e td o q há de mais natural possível e sei q pago bem caro por isso. é triste.

Rita Camões disse...

Cj sou afortunada rapariga, tenho horta e pomar em casa, tirando a carne e o peixe, produzimos quase tudo o que comemos. São as vantagens de viver na pastelândia LOL. O que não significa que não esteja exposta a esse tipo de produtos, afinal faço compras nos mini preços e afins em que o controlo já se sabe que não é por aí além.

Cool Mum disse...

Vi a notícia desse novo supermercado, mas não o encontrei. Boraí tomar café e ir gastar aéreos biológicos?

Cristina disse...

A minha avó é que via os "E"'s todos. E dos gelados também. Evito os de morango por causa disso.
Eu vou lendo os rótulos por causa da bebé, sem leite e sem ovo... LOL

Cristina

Ck in UK disse...

ouve la nao sabia que andavas na perseguicao dos E's.
Eu nao sou muito cuidadosa com isso, so qb. fruta organica e vegetais e carne pica no chao. mas e o peixe? e o eite? e o pao como tu dizes? nem penso nisso.pq depois um idiota qqr q nao toma banho espirra em cima de mim no metro, e oioai quem se lixa e o mexilhao, e nao ha ca organico que me valha!
beijos

Amélia do Benjamim disse...

Grande posta, CJ!
às vezes vou ao Bairro Alto à feira dos biológicos.
também vou à feira, com uma amiga comprar courgetes e cenouras das hortas de Lisboa
e ao Asia market para o óleo de soja.
Vou ao el corte ingles para o bascalhau fresco, cujo sabor é muito diferente do salgado (que também gosto, mas gosto mais do outro)
Acho que sou afortunada,
mas caviar puro só colherita e enjoei para o resto da vida.

o E330... os hidrogenados... blhac!

beijo
Adorei a do vinagre, isto é, já me tinha esquecido, se é que me entendes... ;))