Inúmeros e incontáveis, quem vos avisa, vossa amiga é: mantenham-se bem caladinhos. Aliás, devo dizer que até estou surpreendida que estas notícias tenham vindo a lume. O comportamento da maioria dos meus colegas, outrora camaradas - para quem possa ignorá-lo, ainda há muito poucos anos, quando entrávamos pelas primeiras vezes numa redacção, éramos de imediato advertidos que não deveríamos tratar os companheiros de profissão por colegas; "colegas são as putas", rezava a velha máxima que iniciara escribas ao longo dos anos da ditadura - cada vez menos difere do das avestruzes. Não é preciso fazer um desenho, pois não?
Aliás, a política na redacções - e na maior parte dos outros locais de trabalho - é cada vez mais uma espécie de lápis azul incluso. Não mexer na merda, porque cheira mal. Porque suja as mãos. Porque temos emprego. Porque não temos - mais uma razão, pois então! - Trabalhamos a recibos verdes e receamos pelo nosso futuro e pelo dos nossos filhos. Os tais que ainda não nasceram, nem sabemos se os iremos trazer a este mundo estragado. Mas foram os outros que estragaram, por isso nós não vamos mexer. Vamos ficar aqui bem caladinhos. A fazer o que nos mandam, pois pagam-nos para isto. É um favor que nos fazem, como toda a gente sabe: pagarem-nos para trabalharmos, pois há quem pague para poder fazê-lo. Temos sorte, não? E então? Ainda vamos provocar? Não senhor. Vamos mas é ficar sossegadinhos no nosso canto, que isto não é nada connosco. Tá tudo tão bem, tão calminho.
Hoje não precisamos de lápis azul. Temos recibos verdes. O lápis azul já vem programado nos nossos cérebros. Escrevemos o que nos mandam e não vamos mais além. O lápis azul são as teclas que nunca digitaremos. Pois se ninguém nos pediu nada. Por que diabo o faríamos? Fiquemos quietos e caladinhos. E tenhamos cuidado com o que lemos, dizemos e ouvimos. Façamo-lo em surdina. Acautelemo-nos também com os blogues, esses antros de pouca-vergonha, asseguremo-nos do seu total e absoluto anonimato e congratulemo-nos por a administração ainda ser (relativamente) anafanética (aproveitemos pois este espacinho e prevariquemos o mais javardamente possível, à boa maneira de um recluso em dia de precária, que a ilusão de liberdade dura pouco mas dá uma tesão do caraças!), pois breve breve, estaremos a responder no DIAP pelas nossas postas mais atrevidas. E quiçá pelas outras também...
PS (Salvo seja!!): Em breve, novidades...
6 comentários:
1- "Ai não queres trabalhjar até às tantas todos os dias, porque tens família? Se calhar estás na profissão errada".
2- "Olha, o outro foi para a direcção com exigências, puseram-no à peça".
3- "Anda lá um gajo a contar as peças dos avençados. Eles pensam, 1500 euros por dez notícias, mais vale pô-lo à peça?".
4- "Encostaram-na à parede, saía dos quadros e ganhava à peça. Ele negou, mas não fo para Tribunal. Já viste a imagem com que ela ia ficar no mercado?".
5- "É preciso esgaravatar, fazer reportagens, quem desanimar está lixado. Se não querem ganhar mal e ser escravos, há mais quem queira".
6- "Hoje em dia nem qualidade querem, o que importa é a página cheia".
8- "O XPTO anda revoltado, cortaram-lhe nos valores das peças cerca de 20%. E prejudica-me a mim, editor? Se está descontente, que saia".
9- "Engraçado, a classe está sempre a denunciar ilegalidades e explorações. Mas não se defende a si mesma".
CJ, muito a sério, não consigo dizer mais do citar as brarbaridades que tenho ouvido.
Luz o "há mais quem queira", ou "para quem não quer há muito", ou ainda "queres, queres, não queres a porta da rua é a serventia da casa", são as frases que mais tenho ouvido nos últimos tempos. Cj ai de quem se atreva a contariar o lápis e tente contestar ou até mesmo reivindicar algo que ache que tem direito, porque leva logo com uma pérola daquelas que citei, e fica arrumadinho...
Bjkas
Não sabia que estávamos assim! Que cena!
Cristina
Brilhante é isto.
Ganda post!
uma posta destas devia ser espalhada ao vento...
ui, ui, ui. A censura actualmente pinta com lápis de todas as cores
Enviar um comentário