1/15/2009

Porque postar sobre frivolidades (ao que parece) é sempre garantia de sucesso - Parte 2

Dirijo-me então sob uma chuva intermitente (e ainda não dissolvente) ao dito-cujo centro comercial. Assim que entro dou de caras com uma sapataria pejada de botas pretas. Ahah! digo de mim para comigo. Vou finalmente resolver o meu assunto. E vai ser já. Qual quê! Que vos dizia eu? Botas normais? Népias. Nada. Rien de rien. Em 30 pares de botas rasas nem um que tenha um corte aceitável. Quem foi que disse que o design do calçado português é de primeira qualidade? Só se for num concurso organizado pela Associação dos Produtores de Sapatos da Baixa da Banheira! E mesmo assim, convidaram para júri vinte criaturas que não saíram de casa desde 1979. Belheurc!!! Vou ali ver outra montra. Sigo pelo primeiro corredor à esquerda. Pelo caminho julgo ver uma colecção de calças pretas no meio das quais descobrirei certamente umas que me sirvam no cu, nas ancas e no gosto. Aproximo-me. Pois. Tal como as botas, era bom de mais para ser verdade. Nem me dou ao trabalho de tirá-las do cabide (cruzeta, diria a Teresa da Cabra de Serviço, link a colocar oportunamente). Parecem todas, rigorosamente todas envoltas numa camada de meio-centímetro de poeira. Tecido de vigéssima quinta categoria. Havia de ser giro, mesmo que umas me agradassem e servissem. Eu a entrar no autocarro e tudo a espirrar. Eu a entrar no meu local de trabalho e a funcionária da limpeza atrás de mim com o aspirador em riste. Ou quem sabe com o espanador. Mas esta gente nao vê o que está a vender? Não entendem que deviam pagar para lhes desempoeirarmos a loja? Haja paciência.

Regresso ao corredor e prossigo na minha missão sapataria. As calças terão de esperar por melhores dias, até porque, mesmo que encontrasse umas que eventualmente pudessem servir o meu propósito (noutra loja que não as das calças agarradas ao pó, claro), teria de as experimentar para ver se cabiam nos restantes critérios (para quem eventualmente esteja interessado e possa - não sei bem porquê - ter-se perdido no raciocínio, estão referidos a meio do parágrafo anterior), o que implicaria desapertar os atacadores infindáveis das minhas bem-amadas botas castanhas com quase 4 anos de idade (quem me dera que assim fosse com as botas pretas mas a verdade é que estas são daquelas que irão durar uma vida e tratarão da saúde a qualquer traça que se aproxime, aliás, pensando melhor, tratarão também da saúde a qualquer meliante pois não gostaria de estar na pele de quem levasse com elas nas trombas), despir as calças, arranjar espaço na cabine de provas para pendurá-las, e à mala e ao casaco, experimentar as ditas que em 95% dos casos não iriam cair bem e recomeçar todo o processo em sentido contrário, coisa que não me estava minimamente a apetecer por isso adiante, siga pra bingo, que é como quem diz, hoje vieste em busca de botas e em busca de botas continuarás. E continuei. Paragem seguinte é sinónimo de paragem forçada. Eu bem tentei desviar-me, que já a vinha topar a léguas. Mas a bacana apanhou-me. Quase me agarrou pelo colarinho. O que estava a tentar impingir-me, não sei e continuei sem saber mesmo após ter dado de caras com ela três vezes - três!!! e ela ter voltado à carga sempre com a mesma intensidade. Caramba, que não sei como estes arquitectos constroem os rachtaparta dos centros comerciais e isto nunca me acontece no bendito Shopping das Amoreiras mas vim a comprovar que é característico dos de Picoas ao tentar circular no seguinte: é que por mais que a gente tente rentabilizar a volta e não repetir trajectos acabamos por passar e repassar não sei quantas vezes no mesmo sítio! E eu até sou gajinha que me gabo de ter um bom sentido de orientação. Quando vi que ia passar pela quarta vez pelo território da angariadora deveras decidida a impingir-me sei lá o quê e já depois de por duas vezes ter voltado para trás pela mesma razão, esgueirei-me pela mesma porta por onde tinha entrado. Ufa! É que não há meio desta gente entender uma coisa muito simples: quando quero comprar uma coisa vou à loja. Que mais poderia estar eu a fazer num centro comercial??? À procura de uma angariadora deveras decidida a impingir-me sabe-se-lá o quê? Ainda se fosse um gaijo giro!

Cá fora a chuva passara a dissolvente. Botas, claro, nem vê-las. Entre as investidas da angariadora deveras decidida a impingir-me sabe-se-lá o quê (e que, diga-se de passagem, agora que penso nisso, deixa muito a desejar na sua competência profissional uma vez que parece não ser capaz de fixar na sua fraca memória fotográfica a imagem que acredito ser assaz assustadora de uma gaija deveras decidida a não se deixar levar por ela bem como, aliás, no seu deficiente arquivo sonoro o registo do rugido de uma mulher deveras decidida a prosseguir o seu caminho sem ser importunada) conseguira detectar por entre as passagens labírinticas do espaço comercial de arquitectura duvidosa duas sapatarias, a Foreva e a Hellius, na qual em tempos satisfiz alguns caprichos sapatais, mas nada. Dois pares de botas giras porém fora do meu objectivo. Mas estou já cá fora, por entre a chuva trucidante e toca de penetrar no espaço comercial que se segue. Mesmo filme, estarei a sonhar? Terá sido o mesmo arquitecto o responsável por tão desconcertante construção? Julgarão eles profíquo este tipo de estrutura geradora de paranóia desesperante? Terão eles em mente um raciocínio perverso do género "tantas vezes deparará a Calamity com esta mesma loja que acabará por entrar e comprar a peça mais fora de orçamento que conseguir encontrar quanto mais não seja porque acabará por acreditar que só assim conseguirá quebrar o feitiço e descobrir o caminho para o outro lado do centro comercial?" Sim, porque eu ainda acredito que aquele centro comercial tinha um outro lado ou terei sido induzida em erro por uma ilusão de óptica daquelas causadas por um jogo de espelhos colocados tão estrategicamente que não dei com as trombas em mim própria nenhuma vez embora tenha passado seis vezes frente à mesma montra onde umas botas quase-quase a meu gosto me eram ofertadas a troco da módica quantia de 647 euros (mas com 30% de desconto, atenção!!!).

16 comentários:

M disse...

CREEEDOOO! É a única coisa q me apraz dizer!

Para além de que, me oriento mt melhor nesses sitios circulares da zona de Picoas-Saldanha, q nas Amoreiras, q nnc sei o principio/meio/fim do rachtaparta do centro comercial....


ps: ainda vai haver parte 3 hj, ou posso ir deitar-me? É q já me doem as bochechas de tanto rir....:P

Cool Mum disse...

vá, bora combinar uma ida às compras que a gente até anda nos mesmos sítios e tudo

(ando a namorar umas croco pretas lá em CO)

Loira disse...

Olha, vinha eu toda contente deixar-te um comentáriozito, qd leio o q está ali :s.
Este ano nõa está mto fácil encontrar botas de ano muito justinho.
Ah e os básicos são sempre os 1os a desaparecer nas lojas :D.

beijo e boas compras!

Caracoleta disse...

Aqui no Norte também há esses edifícios circulares e também não se arranjam botas pretas em condições :P

Luz de Estrelas disse...

E não compraste? :D Por aqui, tb há desses cc labirínticos muito antigos que nos fazem rodopiar, nunca saber onde estamos e nunca, mas nunca saber como se chega às lojas que se vêm de baixo. Que, às tantas, até são as mesmas reflectidas no espelho. As botas pretas tb são a minha saga. Qdo não as quero, vejo montes delas giras, quando as procuro evaporam-se. Mas eu uso salto alto, sempre aumenta as probabilidades de ao fim de vários dias à procura, conseguir finalmente encontrar umas a gosto.

Lina disse...

Olha passa ás calças primeiro...quando andares á procura das calças vais encontrar as botas!!! Milhentas vezes me acontece assim!!!

Flores disse...

647 euros, com 30% de desconto. Olha, q simpático!

Rita Camões disse...

O que me ri com a primeira parte da tua epopeia e o que ainda me estou a rir com a segunda.

Olha lá 647 euros é uma pechincha rapariga.

Bjkas e bom fds

Cristina disse...

Sempre que encontro alguma coisa que goste, é sempre tão caro!!! LOL

Cristina

Sinapse disse...

... estou triste ... o que tens contra as cruzetas? ... :(










;))))

Anónimo disse...

E a que proposito uma gaja do norte conhece a Baixa da Banheira?

Ass- uma banheirense

Loira disse...

Deixei-te um desafio lá no meu barraco... :)

AEnima disse...

e ja acabou??? estava preparada para mais meia horita de leitura...:)

O que me chateia em ter um blog de gaja eh de ainda por cima nao ter a qualidade de blog de gaja que tem o teu... se assim fosse... ate nem me importaria de ter um blog de gaja... que ha muitas que admiro.. e aos seus blogs.

voltarei para ler frivolidades com sucessos e outras coisas com menor mas tambem interessantes, a meu ver, (i.e. de gaja).

AEnima disse...

ui... oh miuda... tu tem cuidado com os anonimos em furia... credo!

Mae Frenética disse...

:) Tas tramada. Tb ando pra comprar uns botins pretos há 3 Invernos e nao arranjo nada q me encha as medidas... temos de ir as 2 as compras!! ;)

Anónimo disse...

Cara anónima banheirense:

Eu de gaja do norte não tenho nada, nem sequer para alguém da margem sul, uma vez que passo quase tanto tempo no além tejo quanto em Lisboa, quanto mais não seja em pensamento... Daí que lhe retorne a pergunta: e a que propósito a faz? Desde já lhe asseguro que o exemplo não teve qualquer intenção ofensiva para com a muy nobre Baixa da Banheira que foi o primeiro nome que me ocorreu como podia ter sido Tercena/Barcarena, Freixo de Espada a Cinta ou A-dos Cunhados...

Calamity