1/30/2009

Retrato-robô das sopeiras de antanho

Capítulo 1 – As criadas das nossas avós

Chamavam-se Emília ou Judite ou simplesmente Maria. Quando se falava delas eram referidas como as criadas e não havia mal nisso. Chamavam os nossos pais “Menino José Manuel” e as nossas avós “Minha Senhora”. Não tinham idade e já estavam em Lisboa há tanto tempo que nem se lembravam do nome da terra de onde vinham. Usavam lenço na cabeça, bigode e pêlos nas pernas. Dormiam num quartinho que existia em todas as casas ao lado da cozinha e acordavam antes de toda a gente para ir ao leite e ao pão e às 7 da manhã já estavam a arranjar o pequeno-almoço da família inteira. À noite, só recolhiam depois de lavada e arrumada a loiça do jantar. Decidiam e confeccionavam as refeições, sempre de acordo com as suas senhoras e não havia prato ou sobremesa que não soubessem fazer. Depois de lavada e arrumada a loiça do almoço, sentavam-se a fazer naperons de croché e botinhas para o enxoval dos netos da patroa. Andavam atrás de nós para ter a certeza de que comíamos os papos-secos com manteiga (flora) e açúcar que nos davam para a merenda depois de nos irem buscar à escola (como é que nós conseguíamos gostar daquilo???). Falavam e gritavam muito alto, e, se nos portássemos mal, tinham ordem para nos puxar as orelhas, a qual levavam à letra. Não sabiam ler nem escrever mas dominavam todos os conhecimentos necessários à administração de uma casa e nunca se enganavam nas contas nem se esqueciam de comprar o pão. Lavavam a escada do prédio e o chão da cozinha de gatas e ‘desarredavam’ os móveis de madeira maciça à força de braços para limpar energicamente o pó que se acumulava por detrás. Tinham as cozinhas rigorosamente impecáveis e se caísse pinga de gordura em cima do fogão limpavam-na com a unha. Sabiam distinguir uma peça de roupa suja de uma limpa e não era preciso dizer-lhes para tratarem da saúde ao conteúdo da tulha, que geriam. Lavavam no tanque, determinadamente, com sabão azul e branco. E não havia nódoa que lhes resistisse. Sabiam que a roupa branca se estende ao sol e a de cor à sombra e, mesmo que não tivessem grandes cuidados em evitar vincá-la quando a estendiam, não havia problemas pois arranjavam sempre um espaço na sua agenda para a engomar. E, evidentemente, arrumavam-na no seu lugar. Seria de todo impossível para elas confundir a roupa de uma mulher de 39 anos com a do seu filho de 11, por mais parecidas que pudessem ser (Sim, eu sei que nessa altura era mais fácil distinguir, mas, convenhamos, sweat-shirts XL a dizer ‘Boarder’?!). Sabiam igualmente detectar quando algo estava roto ou descosido e não era preciso dizer nada. Remendavam tudo, muitas vezes sem que sequer o dono da peça em questão se tivesse sequer dado conta do buraco. Também não era preciso explicar-lhes que a sujidade se acumula debaixo das camas e deve ser limpa, nem pedir-lhes que, por especial favor, deslocassem os objectos de cima dos balcões quando os limpavam. Sabiam sempre quando era preciso mudar as roupas das camas e as toalhas nas casas-de-banho.
Chegada a primavera, subiam para cima dos bancos e dos escadotes e lavavam os vidros por dentro e por fora, arrecadavam as mantas e os tapetes, limpavam as teias de aranha da despensa e dos tectos, arejavam todos os cantinhos da casa, tiravam a roupa de verão dos malões onde esta se encontrava, lavavam-na, estendiam-na, engomavam-na criteriosamente e nunca tinham o serviço atrasado. Todos os dias variam e lavavam o chão com sabão azul e branco e quinzenalmente enceravam as madeiras. Nesses dias, expulsavam-nos da sala, que se chamava casa-de-jantar , dando-nos palmadas nos rabos ou vassouradas na barriga das pernas. Não tinham vida própria e eram felizes assim. Ao domingo saiam às três da tarde. De inverno, iam à matinée do Tivoli ou do Paris e quando estava sol iam ao jardim da Estrela dar pão seco aos patinhos e fazer renda nos bancos. Sem esquecer, claro, a missa das seis. No regresso traziam caramelos “para os meninos”. Quando nos portávamos bem com elas, deixavam-nos ir brincar com os vizinhos mesmo que os nossos pais nos tivessem posto de castigo. Faziam parte da família e choravam com as nossas penas, emocionavam-se com as nossas alegrias e estavam presentes nos aniversários, baptizados e casamentos. Quando um dia ficavam demasiado velhas, regressavam à terra não sem antes ter ido lá buscar a sobrinha de quinze anos que se chamava Isabel ou Maria do Céu e a quem antes de partir ensinavam com desvelo todo o serviço da casa.

(próximo capítulo: As empregadas dos nossos pais)

1/29/2009

Por estas e por outras é que eu gosto dela

se houvesse uma palavra para a definir, essa palavra seria ternura. Tem sobre a realidade um olhar raro. Sei que não se vai importar que o partilhe convosco...

A luz ao fundo do túnel

... há quase três horas que não chove!!!

1/26/2009

Portugal, 2009

48 horas para cozinhar uma posta é muito tempo. Nem que fosse de bacalhau especial. Esta não. A ver com o bacalhau só o facto de se referir a factos que ocorrem neste triste paraíso à beira-mar plantado e de especial o tamanho da estupidez, da ignorância, da maldade. Sim, porque em todo o acto de discriminação, não me venham com tangas, tem de existir um quê de maldade, uma pontinha do inquisidor que dorme no fundinho do ser mas que cabe a todos nós domar, digo eu de que, mas é verdade que eu sou como a tia do outro e tenho a mania de dizer coisas.

Pois 48 horas para cozinhar uma posta é muito tempo mas há coisas que se nos atravessam na garganta e a malta não sabe muito bem como abordar, como trazer ao de cima, de tão boquiabertos ficamos quando somos confrontados com elas.

Imagine-se uma clínica dentária de renome em Lisboa, capital de Portugal, país-membro da União Europeia desde 1986 (se não me falha a memória), país membro da ONU, país signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, país que foi o primeiro do mundo a abolir a escravatura e a pena de morte, país que se diz de brandos costumes, país este onde vivo e que amo, em 2009, final da primeira década do séc. XXI, um quarto de século (e mais uns trocos) depois de isolado o VIH, 125 anos depois de Pasteur, quinhentos anos depois da inquisição.

Imagine-se, dizia, uma clínica dentária aqui e agora que descobre que um dos seus utentes está in(a)fectado por uma doença crónica que é (comprovadamente) apenas transmissível por via sanguínea. Imagine-se que essa clínica, onde é suposto que todo o material utilizado seja amplamente esterilizado e, obviamente, todas as práticas e rotinas sejam de molde a proteger técnicos e utentes da mais leve possibilidade de serem contaminados com seja que doença for, e por maioria de razão, de estarem em contacto com vírus como o HIV (transmissão sanguínea e sexual) e o HCV (transmissão sanguínea).

Para quem possa eventualmente ignorá-lo, calcula-se que o HCV (Vírus da Hepatite C) afecta actualmente cerca de 1,5% da população portuguesa, sem que a grande maioria (90%) dos portadores tenha desse facto sequer a mais leve suspeita. Feitas as contas dá qualquer coisa como 150 mil pessoas. Nada que se compare, nem de longe nem de perto, com a incidência da SIDA. É por isso considerada pelos médicos como "A epidemia silenciosa". Mas adiante. Há cerca de 10/15 anos que se sabe com toda a certeza que o vírus da Hepatite C apenas é transmissível por via sanguínea, sendo que os raríssimos casos em que há suspeita de outros modos de transmissão dizem respeito a casos de eventual contaminação por via sexual (quem garante que nos casos em questão não existiam feridas, mesmo microscópicas?) ou de mãe para filho (mais uma vez nestes casos há uma grande probabilidade de ter havido contacto entre o sangue da mãe e o do bebé, quanto mais não seja no momento do parto). À diferença das mães seropositivas para o HIV, as que são portadoras do HCV são incentivadas pelos médicos a amamentar os seus filhos, já que se considera que os benefícios desse acto são infinitamente superiores aos (nunca demonstrados) riscos de transmissão do vírus através do leite (excluindo-se, uma vez mais, a existência de feridas ou gretas no mamilo que pudessem pôr em causa a segurança da amamentação).

Imagine-se, pois, uma clínica dentária aqui e agora, uma clínica dentária privada mas que possui acordos com várias entidades que lhe conferem desse modo credibilidade, uma clínica dentária de dimensão considerável, uma clínica dentária que tem um serviço de urgências, tornando-se assim muito concorrida . Imagine-se que esta clinica, ao descobrir que um dos seus utentes está in(a)fectado pelo vírus da Hepatite C (mas podia ser HIV), lhe transmite a informação de que, dali em diante, terá de ser atendido depois das 19h00, no "final do expediente". Imagine-se que este utente pede explicações para tal medida, suspeitando que se trate de uma política discriminatória, logo inaceitável. Imagine-se que lhe é dada uma desculpa totalmente esfarrapada que invoca entre outros disparates desprovidos de qualquer bom-senso a "ausência de esterilização do ar" e enormidades do género.

Imagine-se ainda que o médico dentista que fala em nome da clínica acrescenta com sobranceria que ali, naquela clínica, ninguém se nega a atender clientes infectados com aqueles vírus, à diferença de outros "colegas", que o fazem. Imagine-se que o utente, espantado com tal revelação, a questiona e que lhe é respondido que "um médico-dentista não é obrigado a atender ninguém, muito menos em clínica privada" e que, confrontado com as questões inerentes à deontologia médica, responde que "os médicos-dentistas não são médicos, nós não estamos sujeitos ao juramento de Hipócrates" (!!!).

Pois bem, inúmeros e incontáveis, não precisais de violentar a vossa preciosa imaginação em exercícios tão complexos como conceber episódios desta natureza. A clínica dentária existe e este caso ocorreu na semana passada. Em 2009, em Lisboa, em Portugal . No tal país. No país onde se isolam parturientes portadoras dos vírus acima referidos sem qualquer justificação plausível. Violando o princípio da igualdade, um dos mais elementares, garantido pela Constituição da República e pela tal Declaração Universal (ultrapassada, diariamente, pelos acontecimentos, em todo o mundo). Violando o direito ao anonimato e à privacidade dos doentes, já que a condição de positivos é escarrapachada nos quadros clínicos usados pelo pessoal de enfermagem os quais se encontram nos corredores das enfermarias à vista de todos os que por ali passam. No país onde, em Dezembro de 2005, a vossa Calamity foi deixada 14 horas depois de parir dentro da mesma sala onde tinha feito a dilatação pois não havia quartos na neotologia embora existisse um bloco de partos novo em folha por estrear desde Março do ano anterior o que ainda não ocorrera por falta de material. Onde a vossa Calamity teve de berrar com uma enfermeira-chefe para que lhe fosse dado o direito a receber um par de cuecas da sua mala para que, quando se levantasse para ir à casa-de-banho (o que ocorre algumas vezes quando se acabou de ter um filho) não tivesse de andar de cu para o ar e penso entre as pernas em frente das visitas da sua companheira de quarto, pois o hospital não dispunha de cuecas descartáveis e não deixava entrar objectos estranhos na sala de dilatação onde ambas se encontravam com os seus bebés recém-nascidos por falta de quartos. O mesmo país onde se deixam morrer doentes em estado terminal à hora das visitas à frente de crianças que visitam o doente da cama ao lado. O mesmo país onde pessoas com gripe, tuberculose, pneumonia, herpes labial e uma inifinidade indiscrível de doenças infecto-contagiosas não são protegidas nem submetidas às mais elementares regras de prevenção para que não contagiem terceiros nos centros de saúde, hospitais e nas tais clínicas dentárias onde se pratica discriminação indiscriminada e criminosa.

O país onde, diariamente, a realidade ultrapassa a ficção.


1/25/2009

Coisas que encontramos perdidas há que tempos na caixa do gmail...

DICIONÁRIO FEMININO

Sim. = Não.

Não. = Sim.

Talvez... = Não.

Não sei se será assim. = Vai ser como eu quero.

Nós queremos. = EU quero.

Faz como quiseres. = Vais pagar muito caro por isto!

Precisamos de conversar... = Agora vais ouvir.

Vai em frente. = Não quero que vás.

Não estou chateada. = Lógico que estou chateada.

Sê romântico, apaga as luzes... = Sinto-me gorda.

Esta cozinha não dá muito jeito = Quero uma casa nova.

Até que ponto me amas? = Fiz algo que não vais gostar de saber...

Estou pronta num minuto! =Tira os sapatos, escolhe um canal de TV e relaxa.

Estou gorda? = Diz que estou bonita.

Precisas de aprender a comunicar. = Concorda sempre comigo.

Não estou a gritar! = VOU PARTIR ESTA MERDA TODA!


DICIONÁRIO MASCULINO

Estou com fome. = Estou com fome.

Estou com sono. = Estou com sono.

Estou cansado. = Estou cansado.

Queres ir ao cinema? = Vamos dar uma queca ?

Posso convidar-te para jantar? = Vamos dar uma queca ?

Posso ligar-te? = Vamos dar uma queca ?

Queres dançar comigo? = Vamos dar uma queca ?

Bonito vestido! = Que decote! Vamos dar uma queca!

Pareces tensa... Deixa-me fazer-te uma massagem. = Vamos dar uma queca.

Estou chateado. = Vamos dar uma queca.

Amo-te! = Vamos dar uma queca, agora!

Vamos conversar... = Vamos dar uma queca...

Queres casar comigo? = Não quero que andes por aí a dar quecas com outros.

Gosto mais desse... = Qualquer vestido serve, vamos dar uma queca duma vez!


(Cool, este encaixa direitinho na sequência do Men's brain/Women's brain... )

E vão 200 postas...

1/22/2009

E agora, para algo completamente diferente...

A Cultura geral é bonita


Para aumentar o conhecimento :
Sabiam que antigamente, na Inglaterra, as pessoas que não fossem da família real tinham que pedir autorização ao Rei para terem relações sexuais? Por exemplo: quando as pessoas queriam ter filhos, tinham que pedir consentimento ao Rei, que, então, ao permitir o coito, mandava entregar-lhes uma placa que deveria ser pendurada na porta de casa com a frase 'Fornication Under Consent of the King' (fornicação sob consentimento do rei) = sigla F.U.C.K ., daí a origem da palavra FUCK.
Já em Portugal , devido à baixa taxa natalidade, as pessoas eram obrigadas a ter relações: 'Fornicação Obrigatória por Despacho Administrativo' = sigla F.O.D.A ., daí a origem da palavra FODA.
Por sua vez, quem fosse solteiro ou viúvo, tinha que ter na porta a frase: 'Processo Unilateral de Normalização Hormonal por Estimulação Temporária Auto-induzida', sigla P.U.N.H.E.T.A .
Vivendo e aprendendo...
A gente pode até dizer uns palavrões, mas com conhecimento e cultura é outra coisa!

(recebido por email)

1/20/2009

Há assuntos dos quais é difícil desligar

(imagem daqui)


Ainda estou em choque. Nasceu no mesmo ano que eu. Fecho os olhos e não consigo deixar de ver a sua imagem luminosa, a sua energia contagiante. De ouvi-lo cantar com veemência: "Há quem navegue de porto em porto, eu navego de bar em bar, há quem procure fazer fortuna eu procuro naufragar". Era um miúdo. Eu era uma miúda. Ainda sou... "Telefonei pra Tóquio só pra te ouvir cantar, pensei que a tua voz me pudesse animar..." Cantava Sitiados à filha de uma amiga, ainda bebé, seis meses apenas, e ela torcia-se de gozo... A minha filha de 3 anos tem hoje o mesmo nome que essa bebé. E a bebé... a bebé fez 18 anos há pouco mais de um mês. Sim, a bebé tem hoje 18 anos mas eu ainda sou uma miúda e o João também.

1/15/2009

Porque postar sobre frivolidades (ao que parece) é sempre garantia de sucesso - Parte 2

Dirijo-me então sob uma chuva intermitente (e ainda não dissolvente) ao dito-cujo centro comercial. Assim que entro dou de caras com uma sapataria pejada de botas pretas. Ahah! digo de mim para comigo. Vou finalmente resolver o meu assunto. E vai ser já. Qual quê! Que vos dizia eu? Botas normais? Népias. Nada. Rien de rien. Em 30 pares de botas rasas nem um que tenha um corte aceitável. Quem foi que disse que o design do calçado português é de primeira qualidade? Só se for num concurso organizado pela Associação dos Produtores de Sapatos da Baixa da Banheira! E mesmo assim, convidaram para júri vinte criaturas que não saíram de casa desde 1979. Belheurc!!! Vou ali ver outra montra. Sigo pelo primeiro corredor à esquerda. Pelo caminho julgo ver uma colecção de calças pretas no meio das quais descobrirei certamente umas que me sirvam no cu, nas ancas e no gosto. Aproximo-me. Pois. Tal como as botas, era bom de mais para ser verdade. Nem me dou ao trabalho de tirá-las do cabide (cruzeta, diria a Teresa da Cabra de Serviço, link a colocar oportunamente). Parecem todas, rigorosamente todas envoltas numa camada de meio-centímetro de poeira. Tecido de vigéssima quinta categoria. Havia de ser giro, mesmo que umas me agradassem e servissem. Eu a entrar no autocarro e tudo a espirrar. Eu a entrar no meu local de trabalho e a funcionária da limpeza atrás de mim com o aspirador em riste. Ou quem sabe com o espanador. Mas esta gente nao vê o que está a vender? Não entendem que deviam pagar para lhes desempoeirarmos a loja? Haja paciência.

Regresso ao corredor e prossigo na minha missão sapataria. As calças terão de esperar por melhores dias, até porque, mesmo que encontrasse umas que eventualmente pudessem servir o meu propósito (noutra loja que não as das calças agarradas ao pó, claro), teria de as experimentar para ver se cabiam nos restantes critérios (para quem eventualmente esteja interessado e possa - não sei bem porquê - ter-se perdido no raciocínio, estão referidos a meio do parágrafo anterior), o que implicaria desapertar os atacadores infindáveis das minhas bem-amadas botas castanhas com quase 4 anos de idade (quem me dera que assim fosse com as botas pretas mas a verdade é que estas são daquelas que irão durar uma vida e tratarão da saúde a qualquer traça que se aproxime, aliás, pensando melhor, tratarão também da saúde a qualquer meliante pois não gostaria de estar na pele de quem levasse com elas nas trombas), despir as calças, arranjar espaço na cabine de provas para pendurá-las, e à mala e ao casaco, experimentar as ditas que em 95% dos casos não iriam cair bem e recomeçar todo o processo em sentido contrário, coisa que não me estava minimamente a apetecer por isso adiante, siga pra bingo, que é como quem diz, hoje vieste em busca de botas e em busca de botas continuarás. E continuei. Paragem seguinte é sinónimo de paragem forçada. Eu bem tentei desviar-me, que já a vinha topar a léguas. Mas a bacana apanhou-me. Quase me agarrou pelo colarinho. O que estava a tentar impingir-me, não sei e continuei sem saber mesmo após ter dado de caras com ela três vezes - três!!! e ela ter voltado à carga sempre com a mesma intensidade. Caramba, que não sei como estes arquitectos constroem os rachtaparta dos centros comerciais e isto nunca me acontece no bendito Shopping das Amoreiras mas vim a comprovar que é característico dos de Picoas ao tentar circular no seguinte: é que por mais que a gente tente rentabilizar a volta e não repetir trajectos acabamos por passar e repassar não sei quantas vezes no mesmo sítio! E eu até sou gajinha que me gabo de ter um bom sentido de orientação. Quando vi que ia passar pela quarta vez pelo território da angariadora deveras decidida a impingir-me sei lá o quê e já depois de por duas vezes ter voltado para trás pela mesma razão, esgueirei-me pela mesma porta por onde tinha entrado. Ufa! É que não há meio desta gente entender uma coisa muito simples: quando quero comprar uma coisa vou à loja. Que mais poderia estar eu a fazer num centro comercial??? À procura de uma angariadora deveras decidida a impingir-me sabe-se-lá o quê? Ainda se fosse um gaijo giro!

Cá fora a chuva passara a dissolvente. Botas, claro, nem vê-las. Entre as investidas da angariadora deveras decidida a impingir-me sabe-se-lá o quê (e que, diga-se de passagem, agora que penso nisso, deixa muito a desejar na sua competência profissional uma vez que parece não ser capaz de fixar na sua fraca memória fotográfica a imagem que acredito ser assaz assustadora de uma gaija deveras decidida a não se deixar levar por ela bem como, aliás, no seu deficiente arquivo sonoro o registo do rugido de uma mulher deveras decidida a prosseguir o seu caminho sem ser importunada) conseguira detectar por entre as passagens labírinticas do espaço comercial de arquitectura duvidosa duas sapatarias, a Foreva e a Hellius, na qual em tempos satisfiz alguns caprichos sapatais, mas nada. Dois pares de botas giras porém fora do meu objectivo. Mas estou já cá fora, por entre a chuva trucidante e toca de penetrar no espaço comercial que se segue. Mesmo filme, estarei a sonhar? Terá sido o mesmo arquitecto o responsável por tão desconcertante construção? Julgarão eles profíquo este tipo de estrutura geradora de paranóia desesperante? Terão eles em mente um raciocínio perverso do género "tantas vezes deparará a Calamity com esta mesma loja que acabará por entrar e comprar a peça mais fora de orçamento que conseguir encontrar quanto mais não seja porque acabará por acreditar que só assim conseguirá quebrar o feitiço e descobrir o caminho para o outro lado do centro comercial?" Sim, porque eu ainda acredito que aquele centro comercial tinha um outro lado ou terei sido induzida em erro por uma ilusão de óptica daquelas causadas por um jogo de espelhos colocados tão estrategicamente que não dei com as trombas em mim própria nenhuma vez embora tenha passado seis vezes frente à mesma montra onde umas botas quase-quase a meu gosto me eram ofertadas a troco da módica quantia de 647 euros (mas com 30% de desconto, atenção!!!).

Amazing


(imagem daqui)

Porque postar sobre frivolidades (ao que parece) é sempre garantia de sucesso

A vossa Calamity também tem um lado fútil, quanto mais não seja porque todos temos de andar vestidos e calçados - pelo menos com este tempo de m - e já que é assim, ao menos que seja com uns trapitos engraçados e apetrechos a condizer. Nunca fui muito de modas, quer dizer, se tivesse dinheiro, mas dinheiro a sério, talvez fosse mecita para comprar umas peças de roupa daquelas que se vêem nas Vogues e Marie Claires da vida, que são sempre de um corte, textura e cor irrepreensíveis e que custam cada uma o mesmo que eu levo dois ou três meses a ganhar. Mas como, claro está, apesar de eu frequentemente repetir que nasci para ser rica, os deuses parece que, além de loucos, andam distraídos, faço como (quase) toda a gente e reduzo-me à minha insignificância, o que, trocado por miúdos, equivale a dizer que vou ao chinês durante o ano todo e aos saldos quando manda a lei que eu cá sou uma cidadã respeitadora dos bons costumes. Mas ia dizendo que não vou muito em ondas e, além disso, em certas coisas serei eternamente freak. Gosto de saias compridas e esvoaçantes desde que me conheço, assim como, por mais que me esforce (tipo de 5 em 5 anos), nunca consegui usar saltos altos durante mais de quatro horas seguidas. E não é que não saiba andar com eles, que graças a deus nosso senhor fui prendada com a graça e a elegância natural de uma Ingrid Bergman (no mínimo). É pura e simplesmente porque não tenho pachorra! Gosto de sentir os pés no chão ou então de levitar declaradamente. Agora o cansaço que provoca uma incursão à rua, mesmo que não tenha de deambular por entre a nossa bela calçada portuguesa, com tudo o que ultrapasse os 3/4 centímetros de altura não vale o meu conforto, o qual, aproveito para referir, é condição sine qua non para usar seja qual for a peça de roupa. Daí que, seja qual for a moda vigente, a vossa Calamity nunca (mais) usará tops em cai cai, calça de cintura a meio dos pêlos púbicos (estas duas nunca usei que não sou masoquista e além disso tenho espelhos em casa), roupa demasiado apertada, cueca de fio dental (um dia escreverei uma posta sobre este item, mi aguardem), nem botas de matar as baratas aos cantos das salas.
Mas, claro está, e as inúmeras e incontáveis (porque os poucos dito-cujos do sexo masculino a esta hora já fugiram a sete pés deste vosso humilde tasco) habituées estão fartinhas de ter percebido, todo este longo preâmbulo não tem (quase) nada a ver com o que eu queria dizer de modos que as meninas desculpem qualquer coisinha e eu vou fazer os possíveis por ir directa aos finalmente que, para preliminares, a malta prefere aqueles... enfim, pronto, as meninas sabem, os meninos deviam saber e deixo este assunto para outra posta também...
Portanto a vossa Calamity de vez em quando lembra-se de ir aos saldos. Há dias fui ao Centro Comercial das Amoreiras e saí de lá muito satisfeita com calças para toda a família, um camisolão para mim, um vestidinho/túnica idem idem aspas aspas outro para a mini mas nada daquilo que eu realmente preciso e ia à procura e eu já sei que é mesmo assim, a malta precisa de uma coisa e vai à procura e vem sempre com montes de coisas menos aquilo que procurava. O chato nisto é que o que eu preciso é mesmo aquilo que na imprensa da moda se chama básicos e que desde sempre foi para mim o mais difícil de achar a não ser que esteja disposta a pagar a pele do cu ou o equivalente a dois ou três salários. Básicos do mais básico que há: umas calças pretas, um casaco preto, umas botas pretas. Dito assim até parece que voltei aos tempos góticos e que ando de olhos fechados, pois básicos destes abundam por aí, mas a verdade é que, como já dizia há tempos numa proverbial posta que muitas mentes abanou e cujo link já vou ali buscar que não que vos falte nada, existem poucas missões mais difíceis, nesta complexa arte de ir aos saldos (e até me atrevo a dizer: "de ir às compras tout court") do que achar peças básicas normais, cortes a direito, sem arrebiques nem mariquices. Quero umas botas pretas de pele macia, bem justinhas no cano, com salto baixinho ou até sem ele, confortáveis e que não sejam quadradas nem bicudas nem redondas. Bem posso ir procurá-las em Marte!
Aproveitando a hora de almoço na zona de Picoas, lembrei-me que há coisa de quatro anos, comprei umas bem a meu gosto e que ainda hoje usaria se não tivessem sido atacadas pela traça da pele (bicho que eu ignorava que existia mas que é a única explicação plausível que encontro para o facto de me ter deparado com as mesmas todas esburacadas no início do inverno passado) num espaço comercial denominado Atrium Saldanha ao lado do qual existe mais um com um nome parecido e em frente outro ainda, de modos que pensei com os meus atacadores (hoje não trago botões): "Vou ali que já lá comprei umas botas pretas muita giras a um bom preço e se não encontrar ali tenho mais dois centro comerciais onde, bolas, tenho de encontrar o que procuro". Diga-se de passagem que já corri Campo de Ourique inteiro mais o referido Shopping das Amoreiras sem achar as benditas botas. Mas fui, apesar de chover baba e ranho e de eu não ter guarda-chuva já que hoje de manhã por mais que procurasse por toda a casa não achei se não um da Minnie e da Margarida, que teria trazido comigo caso 1) me cobrisse mais do que a auréola que trago sempre comigo, já que tenho também mala, casaco largo e botas (não comecem que estas são castanhas!!!); 2), tivesse um cabo com mais de vinte centímetros de comprimento de forma a poder afastar o objecto do meu crânio e 3) (o mais importante) condissesse (ah pois, é assim mesmo que se diz, tenham lá santa paciência...) com a roupa que trago hoje que eu não sou fútil mas tenho noção do ridículo. Minnie e Margarida, sim, mas a fazer pandã (esta não sei mesmo como se escreve).
(continua assim que chegar a casa que se passo mais um dia sem fraldas para colocar à Mini-Calamity de noite e tenho de novo de acordar às quatro da matina para trocar pijamas e lençóis e lavar pernocas enxarcadas em xixi vou ter uma crise de nervos)

1/13/2009

Obrigada

minha índia do outro lado do Atlântico. Sempre soubemos que a nossa amizade era para toda a vida. 16 anos sem nos vermos... e falar contigo foi a confirmação da dimensão transcendente da existência. Obrigada por me recordares daquilo que o meu íntimo sabe mas que sou por vezes demasiado preguiçosa para pôr em prática. Obrigada por, como o rei Mufasa, me "lembrares de quem sou". Obrigada por brilhares no meu firmamento cumprindo o que combinámos, no longínquo verão de 1983 (!!!). A canção (seria o seu nome mera coincidência?) está hoje mais viva do que nunca.

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir

Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

(Canção Da América de Milton Nascimento e Fernando Brant)

1/12/2009

Mais Calamidades

I've got the blues

e isto é para não estar a conspurcar este respeitável estabelecimento com as palavras que me apetece dizer - e que porém não me aliviam dos sentimentos penosos que me assolam - e assim afastar (ainda mais) a parca clientela que ocasionalmente ainda vem cá beber um cafézito

E eu não queria ser malcriada e estar a falar tão alto mas até a merda do blogger está contra mim e não publica como eu quero por isso se me dão licença vou ali atirar-me da janela do rés-do-chão



1/07/2009

O tema do ano

Sabemos que estamos perante uma grande canção quando

- Mães e filhos a cantam em coro e dançam juntos;
- pressentimos que daqui a vinte anos continuaremos a cantá-la;
- não conseguimos evitar cantá-la quando a ouvimos num autocarro da Carris.

I'm Yours é o tema do ano de 2008. E mai nada.

Alguém me explica

Como raios se põem aquelas lindíssimas listas de blogs do lado direito da página com indicação das actualizações mais recentes e já agora também como se colocam links (não é endereços html, é linkinhos bonitinhos daqueles sublinhados e que mudam de cor quando os abrimos, tal qual aqui nas postas) nas caixas de comentários, pleeaase! (Sim, sim, eu sei que nesta altura do campeonato sou o único ser blogante que ainda ignora estas subtilezas....)

1/05/2009

11 coisas que me fazem ir aos arames

(sim, sim, alterei a posta... faltava-me um item importantíssimo, que estava, aliás, na génese deste 'top' e não me apetecia prescindir de nenhum dos outros...)

1) Estender a roupa lavada lá fora porque o céu está limpo, virar as costas e desatar a chover;
2) pessoas que começam a buzinar assim que vêem um carro a estacionar, sair do estacionamento ou fazer inversão de marcha;
3) empregados/donos de café armados ao pingarelho que colocam com ar emproado aquela questão estúpida que deve ser o único dilema existencial da sua triste passagem pela vida terrena: "um copo de água ou um copo com água???";
4) perder diante do meu nariz um autocarro que só passa de 15 em 15 minutos;
5) frases iniciadas pelas palavras "eu cá não sou racista mas" e discussões inúteis despoletadas por alarvidades do género;
6) dar por mim a cometer com os meus filhos os mesmos erros que sempre me enfureceram/entristeceram da parte do meu pai;
7) dar (ainda mais) dinheiro ao Estado (ou PT ou EDP ou EPAL ou quejandos - e o que eu gosto de dizer quejandos!...) porque, por esquecimento, deixei passar (outra vez) o prazo;
8) ser tão perfeccionista e exigente comigo própria que acabo por preferir não fazer as coisas a fazê-las mal/à pressa;
9) ser tão auto-indulgente que finjo que acredito na treta acima mencionada;
10) mulheres que dizem obrigado (sobretudo quando, em teoria, a sua profissão implicaria um melhor conhecimento do Português) e homens que dizem obrigada (se bem que a esta variante não consigo deixar de achar alguma graça...);

e last-but-definitely-not-the-least
11) pessoas que não separam o lixo


e muitas outras mas o título dizia 10, passou a dizer 11 quando me apercebi da falta do item mais importante, e vou respeitá-lo (ao título, claro)

(próxima posta, para ver se me animo um pouco neste dark dia de início de ano: 10 coisas que me fazem feliz... por agora vou ali e já venho)