2/27/2008

Desafios, TPCs, olá ukié

Como o prometido é de vidro, há sempre um dia em que a malta tem de se decidir a (cor)responder aos desafios, TPC's e afins que a nossa mui solicitada vida neste quintal que é a blogosfera nos exige/proporciona (depende de que ângulo queremos ver a coisa, se do do copo meio-cheio, se do do meio-vazio...). De modos que vamos a isto, que já se faz tarde e se a malta não diz nada, os inúmeros e incontáveis vão-se embora e ficamos tristes e abandonados na imensidão do ciberespaço. Ah, pois é. Pediram-me, pois, 12 palavras de que eu gostasse particularmente e ós pois, outras 12 de que eu em especial não gostasse.

Mas como eu sou do contra, e sem desrespeito por quem me fez as encomendas - antes pelo contrário! - vou começar pelas feiosas, que é para terminar em beleza. Ora palavras de que eu não gosto, xa cá ver, como diria ó outro...
Olha, eu cá não gosto nada de ouvir a palavra colégio. Desculpem lá mas não gosto, prontos. E por isso nunca digo. Digo escola, liceu ou faculdade, é conforme, mas estas não fazem parte das minhas top 12. Também me causa alguma comichão a palavra ordeiro. Acho que é palavra típica de fascizóide. Mas acho alguma piada às palavras terminadas em óide, com excepção de hirudóid, que me lembra sempre alguma maleita, de modos que não vou escolher nenhuma destas ,embora algumas estejam ligadas a conceitos que muito repudio. Mas, lá está, trata-se de palavras e não dos seus significados, se é que conseguimos separar uma coisa da outra. Comedão é o termo técnico para ponto negro e é tão feio como o dito. Mastectomia e rinoplastia são ambas operações, em que a segunda poderá resultar bastante melhor do que a primeira, mas, como vocábulos, são igualmente desengraçadas. Irra é interjeição que não me lembraria de soltar: mais depressa vou aos palavrões, vulgo asneiras, estas sim habitualmente tidas como palavras feias.
Ainda vou a meio da primeira parte e confesso que isto não é nada fácil. Eu cá gosto de palavras, gosto mesmo, de todas elas, mesmo das que não gosto. É cá uma coisa que não sei explicar. Prossigamos, pois. Escroto é definitivamente um palavra feia, mas gosto de a dizer à boca cheia (pois, eu sei que isto pode ser mal interpretado, mas eu rio-me convosco, inúmeros e incontáveis, e deixem-se de gracinhas parvas, siiiim???), sobretudo se tiver vontade de insultar alguém. Ora experimentem lá, vão ver se não é mais giro e reconfortante que filho desta ou daquela... Aborto também é palavra cuja sonoridade me fere mas não a usaria como ofensa, até porque o assunto ficou arrumado. Espero eu de que. Não gosto de hábito, o que não significa que não a use, até porque é sinónimo de costume, e estas são palavrinhas necessárias useiras e vezeiras (ora aí está uma expressão que nunca uso, deve ter sido a primeira vez, que tal fazer um desafio com expressões de que não gostamos?) na minha prática laboral. E quem diz hábito, diz monge, substantivo comum cuja sonoridade bule com o meu sentido estético. Ornitorrinco é tão feio que até se torna giro, assim como escatológico. Definitivamente uma das minhas palavras preferidas (Heheheheh!).

Agora, passemos ao segundo, que na verdade era primeiro. Aqui a dificuldade é a escolha. São tantas e tão belas... Vejamos.
Algazarra é mais do que barulho, confusão. É um ruído intenso, brutal, que pode ser causado por um tumulto. Gosto, sem dúvida, gosto muito. Assim como também aprecio particularmente um sussurro. Faz-me pensar em segredo, bruma, serenidade. O mar é belo, belíssimo, mas o oceano é fantástico, grandioso, overwhelming (desculpem lá, mas não conheço equivalente em português. Amo o sol mas adoro a sonoridade e as formas sensuais da lua. Gosto do calor e em geral embirro com a chuva, sobretudo em Lisboa, mas a palavra nuvem tira-me do sério. E um sorriso cai bem em qualquer ocasião, mesmo - ou sobretudo! - quando estamos longe e sofremos com a linda e tão lusitana saudade....

2/20/2008

Alguém me agarre, depressa!

Por motivos de trabalho, tive de fazer uma pesquisa no google que me levou à descoberta disto.
Já tinha ouvido falar nesta reportagem (penso que até foi premiada), mas nunca a vi. Permitam-me, inúmeros e incontáveis, que partilhe um bocadinho convosco, que não consigo guardar só para mim. E desde já as minhas desculpas às vossas inteligências e sensibilidades que muito respeito.

Excerto de excerto da reportagem 'Vermelho & Negro' de Cristina Boavida (exibida na SIC algures em 2003)

"João Moura e o filho praticam quase diariamente com bezerras, esta tem cerca de um ano. Antes de entrar na arena cortaram-lhe tanto os cornos que o animal não parou de sangrar, e o facto de ser apenas uma bezerra não a impediu de ser cravada com várias bandarilhas durante o treino. As pessoas ligadas à tauromaquia ficam incomodadas quando se fala em crueldade contra os animais.

Manuel Gonçalves (empresário tauromáquico): "Minha senhora, minha senhora, minha senhora, o touro existe, só e exclusivamente para as touradas, é um animal que existe só para isto!"
Jornalista: Não acha que é um espectáculo cruel?
José Pedro Pires da Costa: Não, de maneira nenhuma.
Jornalista: Não acha que é cruel para com o touro?
JPPC: Claro que não!
Jornalista: Porquê?
JPPC: Porquê? Porque... porque... sei lá, é complicado agora estar a responder...
Jornalista: Gostas de animais?
João Moura Júnior: Gosto... cavalos, de toiros.
Jornalista: Achas que gostas de toiros?
JMJ: Gosto, gosto de toiros.
Jornalista: Mas estás disposto a andar a... a espetá-los. E eventualmente a matá-los.
JMJ: Pois, a matá-los também.
Jornalista: Achas que isso é maneira de gostar?
JMJ: Ah, não sei. Mas é a profissão, tem de ser assim.
Jornalista: Nunca teve pena de um toiro?
Sónia Matias: Não [risos] Não, acho que não.
Luís Rouxinol: O touro é... nasce com... com a finalidade em ser toureado.
João Moura: É um touro bravo que é criado só para ser toureado.
Hélder Queiroz: Os touros não sofrem naquela altura, podem sofrer mais tarde...
Jornalista: Por que é que diz isso?
HQ: Porque... essa... a raça desse touro foi lidada para isso, este touro foi criado para isso, não... não... ele foi, a genética dele não faz com que ele sofra dentro da praça...
JPPC: As pessoas que não gostam de corridas de touros deviam de se informar, informar acerca do que é uma corrida de touros.
SM: Nós somos livres de gostar do que gostamos, só vai à arena quem gosta.
MG: Deus criou o Homem e criou os animais, para que os animais servissem o homem, não é para que o homem sirva os animais.
JPPC: Não há ninguém que goste mais dos animais do que eu. "

O excerto completo aqui

2/15/2008

O S. Valentim é um canalha*

Perguntaste-me se lhe havias de enviar um sms pelo S. Valentim.
(Que sei eu do amor, meu amor?)
Respondi-te que sim, que o fizesses, se achasses que era o que devias fazer - versão irresponsável e cobarde do "faz o que o coração te mandar". Às seis da tarde ligaste-me. A chorar. "Ela disse que não". Soluçavas no teu pranto de menino. Na tua dor tão grande que era maior do que eu. Meu amor.
Se soubesses, se imaginasses o quanto foi minha a tua dor. A vontade que tive de sair a correr para te ir pegar ao colo, abraçar-te e chorar contigo. Ficar com o teu sofrimento, tirar-to todo, todinho. Dizer-te que não há no mundo mulher que mereça uma lágrima dos teus olhos de ouro. É tão cedo, meu filho. Tão cedo ainda.
Quis dizer-te que não ligasses, que não desses importância. Mas eu sei, meu filho: hoje nada é mais importante que o teu amor de menino. Meu menino.
Um dia vais sentir um amor tão maior ("Oh mãe, mas eu gosto mesmo dela. A sério. Quando estou com ela sinto uma dor na barriga. Porquê?").
Um dia o teu peito vai querer rebentar para que o teu amor se espalhe pelos campos, pelas ruas. ("Oh mãe, eu não quero gostar de outra pessoa. Eu quero gostar dela para sempre!"). Meu amor.

Sabes, filho, o S. Valentim é um cretino. Um malandro, um pulha, um canalha. Um santo do pau-oco, um aliado do capitalismo selvagem, o inimigo nº 1 do Robin dos Bosques: rouba aos pobres para dar aos ricos. Apenas existe para os encher ainda mais e esvaziar-nos a nós. E agora o biltre causou-te o primeiro desgosto de amor. Meu amor.

Deixa-me que te mande o meu postal de São Outra Coisa Qualquer (haverá lá santo que seja capaz de patrocinar o amor de uma mãe por um filho?) sob a forma de uma canção (como todas as canções de amor, ridícula)

Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita dizia ela tinha
um sorriso luminoso tão triste e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista
nas acácias floridas na fímbria do mar

Sua pele macia era suma-uma
sua pele macia cheirando a rosas
seus seios laranja laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não

Mandei-lhe um cartão que o amigo maninho tipografou
'por ti sofre o meu coração'
num canto 'sim' noutro canto 'não'
e ela o canto do 'não' dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do sete
pedindo e rogando de joelhos no chão
pela Sra do Cabo, pela Sta Efigénia
me desse a ventura do seu namoro
e ela disse que não

Mandei à Vó Xica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço bem forte e seguro
e dele nascesse um amor como o meu
e o feitiço falhou

Andei barbado, sujo e descalço
como um monangamba procuraram por mim
não viu ai não viu não viu Benjamim
e perdido me deram no morro da Samba

Para me distrair levaram-me ao baile
do Sr. Januário, mas ela lá estava
num canto a rir, contando o meu caso
às moças mais lindas do bairro operário

Tocaram a rumba e dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu
e a malta gritou 'Aí Benjamim'

Olhei-a nos olhos sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lálá lá lá lá lá
E ela disse que sim
E ela disse que sim
E ela disse que sim
E ela disse que sim...

(letra Viriato Cruz, intérpretes vários)

*(havia um filme francês chamado 'Le père-Noël est une ordure'. Não sei como se traduz 'ordure', que era a palavra exacta que gostaria de usar aqui. 'Canalha' é o conceito mais aproximado que encontrei.)

2/12/2008

Basta

Hoje digo basta.
(Da minha doença cuido eu. Quem quiser cuide da sua.
Só me lembro de ter parido dois filhos...)

2/04/2008

As duas calamitosas e o Técnico-de-raio-X-do-cabelo-cor-de-prata



Ontem de manhã, a miniCalamity não achou melhor maneira de descer do sofá para o chão do que mergulhando directamente de cabeça. Vai daí, chorou um bocadinho, fui lá peguei-lhe ao colo, dei-lhe uns miminhos, uns beijinhos e uns abracinhos, parou de chorar e eu voltei aos meus afazeres. Mas uns minutos mais tarde, ao entrar de novo na sala, apercebi-me que estava a sangrar do nariz. Fora a hemorragia (pouco abundante e já quase estanque), parecia em plena forma, até porque brincava e se divertia como se nada fosse, mas com estas coisas é melhor não facilitar, de modos que resolvi levá-la ao hospital. (A propósito, alguém me explica por que motivo, sempre que temos de ir para o hospital é domingo de manhã?)


Enviadas para o Raio X, lá fomos, corredor fora, a miniCalamity e eu, de mãos dadas, pato Chicco a arrastar ("vamos lá tirar uma fotografia ao pato a ver se tem dói-dói na cabeça") pelo chão, tentando encontrar o nosso caminho por entre setas e setinhas, portas, janelas, átrios e elevadores, pelo labirinto que nos levaria à sala das radiografias.

Recebidas por um rapaz assaz simpático, este último e a minha pessoa tentámos em seguida com a piolha a via do diálogo, mas a miniCalamity não foi na conversa. Se é para radiografar o pato, é para radiografar o pato, então para quê encostar o nariz a esta coisa onde me dizem que há de estar o Noddy? Eu cá sei muito bem com o que é que se parece uma televisão com o Noddy lá dentro e para começar, a televisão é preta e esta coisa é branca. Para além disso, a minha mãe está sempre a chatear-me para me chegar para trás e agora está aqui com este caramelo a mandar-me chegar para a frente. Mas por que carga de água é que vou encostar o nariz a esta coisa? Já bem basta o saco de gelo que a minha mãe me quis impingir durante o trajecto todo até aqui. Nem pensem. Acabou. Vou já para o chão que esta sala é gira que s'a farta e tem montes de coisas interessantíssimas para explorar...

Bom, vai tentativa vem tentativa, vai negociação vem negociação, e eis senão quando entra na sala de raio x outro técnico. Não percebi bem se vinha porque vinha ou se vinha para nos auxiliar. Mas também, inúmeros(as) e incontáveis, isso agora não interessa nada! Nossa, que homem bonito! Alto, na casa dos seus quarenta, cabelo longo cor de prata, de tal forma que eu digo: "Ó miniCalamity, olha para este senhor (e nisto o pouco bom senso que me resta dita-me que não acrescente as palavras que se preparam para brotar boca fora: "que tem um cabelo tão bonito!" e então substituo-as por um disparate do género: "mostra-lhe como és crescida e já te portas bem" - ou "como já sabes contar até 10", ou "que mias como um gato", ou "que sabes cantar o raiosparta-ónoddy" ou lá o que lhe disse, que isso agora também não interessa nada).

Claro que a MiniCalamity não cooperou muito mais do que estava a cooperar com o outro rapaz e comigo antes da entrada do Técnico-de-raio-X-do-cabelo-cor-de-prata, mas a partir daí, bem que a missão podia demorar o resto da tarde... Infelizmente duas chapas depois a coisa estava resolvida. Aguardámos o resultado na "salinha de espera" e cinco minutos mais tarde regressávamos às urgências pediátricas não sem antes nos termos perdido duas vezes pelo caminho.

À porta da sala do Raio X, o técnico nº 1 despediu-se de nós e a miniCalamity lá foi, de envelope na mão, contendo as chapas que o rapaz lhe entregara. Simpática, como de costume, lançou um sonoro "Até amanhã", ao que o rapaz respondeu com uma gargalhada e pusemos os pés a caminho, a sua vozinha monologante ecoando pelo corredor vazio. Mas vinte passos à frente, não me contive: dei uma olhadela para trás ainda a tempo de ver de relance o Técnico-de-raio-X-do-cabelo-cor-de-prata entrando de novo na sua salinha. Heheheh. Ficara a ver as duas calamitosas afastar-se corredor fora.


E agora, meninas, a questão é a seguinte: dói-me aqui. E aqui e também neste sítio... exactamente aí. Ai aiai aiaiaiai. Preciso urgentemente de uma radiografia... de corpo inteiro.

PS: a miniCalamity está óptima e recomenda-se, como é evidente...

1/31/2008

Carta

Ao Exmo Senhor que se Encontra lá nas Alturas
(creio que no 457-C)

Venho por este meio solicitar-lhe se digne enviar-me alguma iluminação divina que não lhe faça falta ou, na impossiblidade de o fazer, que encarregue um dos seus angélicos funcionários de entrar em contacto comigo ou ainda, caso também esta solução viesse causar transtorno, que me faça chegar documentação explícita no sentido de esclarecer-me sobre a situação que passo a expor:

Desde que me lembro de ser gente tenho tentado ser gentil e justa para com os meus semelhantes e inclusivamente para com alguns dos meus diferentes. Refiro-me a cães, gatos, tartarugas e borboletas, enfim, à maioria dos animais nossos amigos, embora deva confessar que ainda não atingi o nível de progresso espiritual que me permita optar pelo vegetarianismo a tempo inteiro. Admito também ter, em noites de Verão, atentado contra a vida de uma outra melga que insistia em sugar o meu tão precioso líquido sanguíneo, tão necessário à minha sobrevivência, para além de privar-me das minhas tão necessárias horas de repouso, essenciais ao meu residual equilíbrio psicológico.

Contudo, e apesar desses episódios deploráveis da minha existência pelos quais desde já me penitencio, esforço-me todos os dias para evoluir tanto no meu âmago quanto na relação com o que me rodeia e penso sinceramente que não me tenho portado muito mal. Diria também que, mesmo em tempos em que não era tão atinadinha, nunca agi de molde a prejudicar quem quer que fosse e se porventura alguma vez o fiz, foi certamente sem intencionalidade, fruto de alguma imaturidade, inconsciência, ou incapacidade de medir as consequências dos meus actos. Estou certa porém, de que jamais causei dano de maior. A cada vez que me comportei de forma leviana, irresponsável ou inconsequente, fui invariavelmente eu e só eu a arcar com os prejuízos das minhas acções, exceptuando talvez uma ou duas vezes em que magoei os que mais amava, como os meus pais, mas acredito que todos os filhos o fazem, num momento ou outro do seu percurso pelos tortuosos caminhos do crescimento. Estou em crer que o Senhor não iria querer acertar contas comigo devido a um ou outro pequeno desvario próprio da idade, que eles mesmos já me perdoaram há décadas atrás e pelos quais julgo já ter pago a minha dívida.
É por tudo isto, Senhor, que venho, com toda a humildade e respeito que devo a V/ Alteza Majestosa, perguntar-Vos, o que raio fiz eu para merecer isto?

A resposta, como já referi acima, poderá ser-me facultada pela via que V/ Eternidade Divina julgar mais apropriada, pois, modéstia à parte, V/ Bondade Celeste logrou brindar-me com apreciável QI, pelo que penso ser capaz de atingir mensagem de carácter subliminar, caso V/ Essência Etérea opte por esclarecer-me via sonho, visão ou viagem astral permitindo insight sobre a vida anterior, dado que me parece evidente, dados os factos expostos no parágrafo anterior, situar-se aí a razão para este meu Karma, o qual me vem acompanhando já há umas décadas valentes.
Agradecia também me fosse outorgada, naturalmente na ocasião considerada adequada por V/ Altura Inatingível, informação relativa ao prognóstico da situação acima exposta. Trocando por miúdos: Até quando, Senhor, durará este meu castigo?

Sem mais de momento, na expectativa da V/ Mui Prezada e Sempre Oportuna resposta

Subscrevo-me com todo o respeito, consideração e estima que me é possível na minha posição de mero e insignificante ser humano e pedindo desde já as mais humildes e esmeradas desculpas pelo tempo que possa ter usurpado a V/ Elevadíssima Agenda

Calamity Jane

1/27/2008

Posta à mão (ou elocubrações desmesuradamente longas às quais os inúmeros e incontáveis devem evitar a todo o custo lançar-se

a não ser que se considerem inelutavelmente tão desvairados quanto a sua desvairada autora. Ós pois não digam que não avisei!)

A posta you're about to read (adoro esta expressão, estar 'about to', e qualquer tradução que lhe tentasse substituir resultaria, quanto a mim, sempre aquém do original) foi escrita duas vezes, ou seja, foi primeiro escrita em papel (diga-se de passagem que sentada diante de uma paisagem magnífica, sobre uma relva verdejantemente fresca e sentindo a carícia morna de um sol delicioso) de modos que vou já avisando os inúmeros e incontáveis que, se chegaram até aqui, seria, no mínimo, simpático que não se deixassem assustar com o comprimento da mesma (e, já agora, nem pelo das frases que a compõem, com as quais tenciono desafiar Saramago a um despique assim que o senhor melhore e saia do hospital...), uma vez que tive de me dar ao trabalho de a reescrever inteirinha no computador (assim como aos múltiplos acrescentos que foram entretanto surgindo na minha insuportável mente hiperactiva), sendo que o seu primeiro 'parto' representou para mim um exercício bastante intenso e diria até de teor quase inovador, já que não o fazia há largos meses. Refiro-me ao de escrever à mão.

Escrever textos, claro está, pois que todos os dias utilizo todas as canetas que me possam aparecer pela frente para escrevinhar nos mais diversos suportes números de telefone, endereços de email, listas de faltas, recados para mim própria, lembretes e apontamentos vários, dos quais resultam uma infinidade de papéis os quais, por sua vez inundam a pouco e pouco a minha existência e, um belo dia, acabarão, eu sei, por me submergir, se tivermos em conta que sou absolutamente incapaz de os deitar fora, quer bem se trate de uma lista onde se encontram rabiscadas as palavras "cebolas, papel higiénico, leite do dia, yogurtes naturais" (ou melhor "cebs, pap hig, leite dia, yogs nats), quer de um poema que representou o que de melhor fiz nas últimas décadas e que, por incrível que pareça, permanecerá talvez guardado ao pé da referida lista de abreviaturas de compras para fazer no supermercado antes que a minha casa e a minha família resolvam expulsar-me por incomprimento até ao dia, quiçá daqui a dez anos, em que eu resolva arrumar aquele específico monte de papéis do qual serei eventualmente capaz de colocar no papelão as contas da água e luz e mesmo assim só o farei se me aperceber que, fossem elas processos judiciais por crimes graves já teriam prescrito. (ufa! que até a mim me canso!)

Escrever à mão. À medida que o tempo passa verifico que cada vez menos o faço. Algo que pratiquei sempre com uma frequência incerta (embora desde sempre me lembre a escrever por dentro da cabeça, escrever sempre, a andar na rua, a conduzir o carro, nos transportes públicos, na fila da repartição, no jardim com os putos, no elevador, onde quer que seja) mas que mesmo assim ia fazendo, fui fazendo sempre, embora de forma diferente daquela - rara - em que o faço nos dias que correm.

"Dias que correm". Detenho-me por momentos nesta expressão e apercebo-me de repente onde reside o seu verdadeiro significado, talvez o motivo pelo qual hesitei antes de o escolher em detrimento de outro sentido aproximado como "na actualidade" ou "hoje em dia" ou mesmo "presentemente". Presente mente... "Presentemente" também mereceria uma aprofundada reflexão. Dedicarei noutra ocasião mais atenção a ambas as formulações. Ou talvez não.

Retornemos, pois, à questão que me ocupava no presente momento (olha, outra!, se bem que não é nada a mesma coisa. Adiante).
Dizia eu então - se é que nesta altura do campeonato ainda resta um único de vós, inúmeros e incontáveis, a passear os olhos estafados da esquerda para a direita e de cima para baixo, exasperando-vos na espera inglória do momento, quem sabe em vão pois poderia muito bem nunca chegar, do momento, pois, em que aqui a desvairada da Calamity se decida a ir directamente ao assunto, ou deveria eu antes dizer, a ir ao assunto tout court, já que o advérbio "directamente" representa aqui o contra-senso em todo o seu esplendor - dizia eu então para os sobreviventes desta mui cansativa e interminável prosa, que hoje em dia raramente me dedico a escrever à mão, o que, definitivamente, é um exercício substancialmente (de substância, mesmo) diferente de escrever num teclado de computador. E apercebo-me de que o faço de forma também ela diferente. Diferente do que fazia antes, digo. Antes do blog.
À pressa, gatafunhando. Não desenhando as letras com algum esmero (embora sempre tenha tido uma caligrafia bastante grave) como o fiz ao longo de muitos e muitos anos, gostando de escolher para o efeito a caneta e o papel. (Mesmo que, em caso de pânico, qualquer coisa servisse para o efeito, e muitas vezes tive de lutar contra o espaço exíguo deixado livre por um extracto bancário ou depois de ocupados ambos os lados de um guardanapo de papel, ou ainda, já cheia a prata do maço de tabaco assim como as margens do pacote...).
Que beleza, um caderno todo preenchido de letras, letras escritas com amor, com raiva, com tinta feita de emoções. Pensamentos que ganham dimensão, textura gráfica!
E, por outro lado, quantas promessas nas páginas virgens de um caderno em branco. Com linhas, quadriculado, naquele magnífico papel 'Seyès' dos franceses, semelhante a uma partitura, pronto a ficar repleto de maravilhosas palavras, prodigiosos verbos, advérbios, gerúndios e particípios, todos ligados entre si por divinas partículas, conjunções, preposições, e artigos. E pontos, muitos, muito pontos. Pontos de exclamação, de interrogação, reticências e ponto e vírgulas. Caracteriais ponto e vírgulas. Ou será pontos e vírgulas?

Postar para o papel antes de o fazer para o teclado. Recuperar aquela noção de escrever para si próprio. Guardar na gaveta os cadernos cheios de mim e nunca os revelar. Mantê-los fechados, tinta e papel coladinhos num casamento daqueles à mete-nojo, sempre tão juntinhos, tão íntimos que nunca nada nem ninguém os pode sequer adivinhar.
Que invenção fabulosa, esta possibilidade de escarrapachar as divagações que, durante séculos a fio, permanecerem no recato sepulcral dessas folhas agrupadas, encerrando entre si a própria essência dos seus autores. E, ao mesmo tempo, que perda irreparável se, de repente, deixássemos de os usar, os tais cadernos paulausterianos, de cuja maciez, densidade e aparência podia depender o teor de um texto, o seu âmago. Um pouco como os poemas gráficos, uma obra tridimensional, por assim dizer… Não estaremos nós paradoxalmente a condenar os nossos escritos a uma existência puramente ‘no plano’ quando os lançamos para a aparente multidimensionalidade da blogosfera?

(to be continued)

1/22/2008

A minha blogosfera é melhor que a tua!

Hoje acordei com esta frase na cabeça. Imediatamente soube a quem ela se destinava. Claro que não era para nenhum de vós, inúmeros e incontáveis! A vossa blogosfera é igual à minha. Uma caixinha de surpresas. Recheada de pessoas bonitas, que foram entrando na minha vida devagar mas hoje ocupam um espaço real, palpável e que transcende largamente as fronteiras do virtual (seja lá o que isso for - terá a virtualidade fronteiras?). Mas a blogosfera não pára de me surpreender. A sério. E sempre pela positiva. Não consigo lembrar-me de uma única pessoa que tivesse conhecido por via deste universo fantástico e que me tivesse desiludido. E mesmo quando, por motivos vários, não entro em contacto directo com os bloggers, fico sempre pasma com o espírito de partilha, solidariedade e entreajuda com que me deparo sempre que, por algum motivo, recorro à blogosfera. Por vezes, não posso (ou não quero) dizer nada, mas fica a roer-me o bichinho. É um grilo cá dentro que diz: "Vá, denuncia-te! Diz quem és! Diz que pertences!". Pertença. Fazer parte de. É isso que a minha blogosfera me faz sentir. De certa forma possuímos algo em comum, que é só nosso e que nos une.
Da minha blogosfera sempre recebi ânimo, calor e carinho. E até a blogosfera que não sabe que é minha me correspondeu quando solicitada com uma resposta cordial, agradável e simpática, no mínimo.
A minha blogosfera é um mundo novo. Talvez seja este o início da Utopia. Uma terra sem amos, a Internacional...

De facto, a minha blogosfera, sôdona Margarida Rebelo Pinto, não tem nada a ver com a sua. A Calamity nunca poderia ter escrito, como a senhora:
"Os blogues são um território de guerrilha suja, protagonizada pelos terroristas da Internet"
Talvez seja por isso que a Calamity ainda não passou da cepa torta, e a senhora colecciona best-sellers. Mesmo assim, prefiro ser a Calamity. É que, sabe, sôdona Margarida Rebelo Pinto, a minha blogosfera é mêmo, mêmo, bem melhor que a sua, sei lá!

Sim, eu sei que isto já foi há uns meses largos, e até suscitou posta na minha blogosfera (desculpa, Azulinha, não consigo colocar o link exacto, mas, para quem lá for, é a 4ª posta, a contar de cima...), mas, o que é que querem?.. só hoje me ocorreu... Desculpem lá se já vou atrasada...

1/15/2008

Espalhem a notícia

Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
espalhem a notícia do que é quente
e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse

Divulguem o encanto
do ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado
Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher bonita

A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
o ventre de que falo
como um riotransbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou

Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol, como é costume,
foi um augúrio de bonança
sãos e salvos, felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança

Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
bonita

Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescenteda sua lavra
que a bom entendedor meia palavra basta,
é só adivinhar o que há mais os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós

Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo do mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
bonita

Sérgio Godinho
in Canto da Boca

Bem Vinda Princesa Clara

1/14/2008

O Segredo

Admito que sou cusca. Sempre fui. Por natureza e também por (de)formação profissional. Herdei a característica do meu pai e já a transmiti ao meu filho. Safa-me o facto de não usar os conhecimentos obtidos por meios pouco ortodoxos para prejudicar ninguém e até devo ressalvar, em abono da verdade e da minha pessoa, que, por vezes, me vejo bem à rasca com informações que me vêm parar às mãos (ou aos ouvidos, ou ainda, aos olhos) e que não era suposto eu saber. Acresce que tenho uma vocação inata para esbarrar de nariz nas coisas mesmo sem andar à procura delas.

Adiante. Sou cusca, portanto. E como tenho uma relação de obsessivo-compulsiva com a leitura, tenho uma mania muito feia que é ir nos transportes públicos a partilhar as letras dos vizinhos mais próximos sem para tal ter sido convidada. Qualquer coisita serve, desde os pasquins gratuitos até à 'Crítica da Razão Pura', mesmo que na sua versão original - e isto apesar de não falar nem escrever mais do que quatro palavritas na língua de Kant.

Vem isto a propósito do meu curto trajecto de autocarro de hoje. A velhota teria pelo menos uns oitenta anos. Trazia nas mãos um livro forrado a papel de embrulho de boa qualidade, acastanhado. Folheava-o nervosamente de trás para a frente e da frente para trás. De vez em quando detinha-se numa página e lia (?) um pouco. Depois, olhava para os lados - e sobretudo para mim, pois já tinha percebido, ou pelo menos pressentido da minha tendência para Mata-Hari da literatura alheia - e reforçava as suas manobras de diversão. Tudo, menos deixar que fosse quem fosse se apoderasse de uma palavrita sequer do seu 'Segredo'. Escusado será dizer que não tinham passado dois segundos sequer até que desvendasse o título da obra que a senhora tanto tentava esconder. O que deu mais ânimo à - parafraseando a Cool Mum num post recente em que esta última citava a Vieira do Mar - cabeleireira intrometida que existe em mim. Mas a minha vizinha não permitiu que decifrasse mais uma vírgula. Queres saber mais? Vai comprar! A Rhonda Byrne agradece.

1/09/2008

Um dia

ainda hei de aprender a preservar-me de certas e determinadas agruras. Agruras, sim. Não me surge vocábulo mais adequado ao sentimento a que me refiro. Se há algo que me irrita na minha pessoa é o facto de deixar que certos assuntos me tirem o sono. Literalmente. Sou aquilo que se chama uma esponja. E, por mais que me auto-eduque, repetindo a mim própria até à hipnose frases como "não te deixarás atingir por veneno alheio", "não sofrerás por quem não vale vinte e cinco tostões em moeda nova" (sim, porque em moeda antiga, sempre vale a relíquia, certo? agora tentem lá converter vinte e cinco tostões em aéreos, a ver o que a coisa dá...), a verdade é que a matéria de que sou feita me torna absolutamente susceptível, qual terra fértil na qual poderá nascer sem ser semeada a planta mais daninha e em dois tempos ocupar todo o espaço, pondo em risco as espécies protegidas mais belas e preciosas que tanto trabalho haviam dado a brotar.
Liberto esta posta na esperança de que os sentimentos desagradáveis e pensamentos carregados de más energias que me têm inundado o campo nestes dias se dissolvam na imensa blogosfera, transitem para o espaço intergaláctico, se transmutem e apenas regressem sob a forma de centelhas multicolores de amor e bem-aventurança.
Inúmeros e incontáveis: se souberem de algum curso que ensine as esponjas a transformar-se em espelhos, avisem a Calamity, tá?..

1/02/2008

12/27/2007

É hoje!!!

Em Alcântara, Rua Prior do Crato, entre o BES e o Paraíso de Alcântara, frente ao Palácio. Chama-se Brilha Tejo e está marcado para as 20h30. Melão, Ck, Mocho, e etc, etc, estamos à espera da vossa confirmação. Digam coisas!!!

(esta mensagem autodestruir-se-á dentro de algumas horas...)

12/21/2007

Oh! Oh! Oh!

Prestes a tirar uns bem merecidos dias de semi-férias, no meio da leva de aniversários que constitui o mês de Dezembro no seio dos calamitosos - ah, pois é, inúmeros e incontáveis, a vossa Calamity fez 19 anitos (em cada perna, claro!) ensanduíchada entre o filhote que fez 10 e a filhota que faz 2 amanhã... - não quero deixar de desejar aos inúmeros e incontáveis um santo e feliz Natal e relembrar a super-farra com janta, ceia e pequeno-almoço incluídos marcada para a próxima 5ª feira, dia 27 numa cervejaria lisboeta (isto, claro, é o ponto de partida...). As inscrições estão quase quase a fechar, por isso toca a marcar os vossos lugares, dizer quantos são e bute aí córtir à grande e à lusitana. Aqui ou em calamityjanerealmente@gmail.com, tudo a cão-correr, faxavori!

12/14/2007

A revolução

Há dias fiz um teste (The Political Compass - desculpem lá mas não consegui gravar como deve ser para reproduzir aqui e repetir o teste ia demorar mais do que o que posso hoje) que encontrei no tasco da Tuxa. Destinava-se a situar-nos do ponto de vista político (esquerda/direita), económico e social. O resultado obtido indica que me situo à esquerda de Nelson Mandela e de Gandhi, num ponto para lá de qualquer juízo ou noção do mundo real. Aliás, o mais provável a seguir a esta posta é que metam numa camisa de forças e me internem compulsivamente numa unidade psiquiátrica de alta segurança.

Uma das perguntas colocadas no referido teste era qualquer coisa como "Concorda que a terra seja algo que se possa comprar e vender?". Pois bem, inúmeros e incontáveis, a verdade é que, embora sonhe com o meu quinhãozinho, onde possa um dia cultivar umas batatas e uns tomates e passar uma velhice mais tranquila, ouvindo a brisa agitar as folhas do arvoredo e observando as mudanças subtis dos tons de verde e castanho ao ritmo das estações, a resposta é "Não, não concordo". Como os índios, acredito que a terra não nos pertence. Se o sol, quando nasce é para todos, também a terra, a água, o ar e o fogo. Porque, para ser algo que se compra e vende, é porque pertence a alguém. E se pertence a alguém é porque esse alguém a comprou ou a herdou ou a roubou a outrem. E antes disso, o mesmo. E por aí afora. Mas um dia, teve de ter havido um tipo que chegou ali e disse: "Isto aqui é meu". E com que direito, pergunto eu?

Tenho andado com uma série de questões a incomodar-me o neurónio. Eu sei que a todas estas angústias não serão alheios o Inverno, os dias curtos, o frio. Mas regularmente assola-me um pensamento: a geração anterior à minha fez alguma coisa para mudar o mundo. Mesmo se deu na merda que todos sabemos. Mas ao menos, eles mexeram-se por algo em que acreditavam. Tá bem que hoje, estão quase todos sentados, acomodados. Mas, e nós??? Os que hoje têm 30, 40? O que fizémos nós? O que estamos a fazer? Que mundo é este que estamos a deixar aos nossos filhos? Não podemos fazer nada? TANGA! TANGA! TANGA!!!

O senhor Óscar Niemeyer faz 100 anos amanhã. No fim-de-semana passado deu uma entrevista ao Diário de Notícias. No final da mesma, dizia algo como:

Acredito na revolução (...) O socialismo está dentro do coração das pessoas e não acaba de um dia para o outro. A revolução na União Soviética talvez tenha sido um acidente de percurso. O que é justo é um Estado correcto amando o povo, procurando criar um clima normal, de felicidade geral (...)”

O mesmo senhor diz também que a vida é um sopro. E eu, que acredito que temos uma missão na vida, caso contrário não sei bem o que estaríamos aqui a fazer, digo-vos, inúmeros e incontáveis: se há quem chegue aos 100 anos a acreditar na revolução, no amor e na felicidade, então temos de acordar rapidamente para fazer a nossa parte. A vida é um sopro, sim. Um sopro divino que tem de nos levar onde nós temos de ir. Fazer o que temos de fazer.

É possível mudar o mundo porque eu quero.

12/07/2007

Tá tudo doido???

O Presidente do Banco Central Europeu defendeu há dias, num simpósio em Berlim o fim dos salários mínimos obrigatórios. Afirma o iluminado senhor, de seu nome Jean Claude Trichet - refira-se a título de curiosidade que 'tricher' significa em francês 'fazer batota - que os mesmos impedem a criação de postos de trabalho. Boa, senhor Trichet! Eu se fosse a si levava a coisa mais longe. Bute nessa! Inúmeros e incontáveis, o desafio é claro: vamos todos escrever à Comissão Europeia e defender o regresso da escravatura. Se formos muitos, muitos, mesmo, pode ser que a malta consiga. A bem dizer já esteve mais longe. Bem mais longe. Cerca de 5 décadas antes da Revolução Industrial...

Uma senhora cujo nome não foi divulgado resolveu doar o seu corpo Faculdade de Medicina de Coimbra. Uma bela atitude, a bem do avanço científico, penso eu de que. Ora, a referida senhora faleceu sexta-feira passada, no Instituto de Oncologia daquela bela cidade. Acontece que o referido Instituto tinha a câmara frigorífica avariada. A faculdade estava fechada e ninguém conseguiu contactar com os responsáveis da instuitição universitária. Por sua vez, o Instituto de Medicina Legal recusou-se (!!!) a guardar o corpo. Resultado: quando, na 2ª feira, chegou ao IPO o técnico da Faculdade de Medicina encarregue de recolher o dito corpo, este já não se encontrava em condições para ser usado com fins científicos. Ora! Qual é o problema???! Não dá para perceber. Lá porque o cadáver tinha três dias, não o podiam utilizar?! Estes cientistas têm cada uma! Precisavam de um corpo, não era? O corpo estava morto, certo? Então! Morto por morto, o que é que isso interessa...

O Tribunal Judicial de Vila Real resolveu 'devolver' à mãe biológica a menina Iara, de 6 anos, que vive desde os 25 dias de idade com os 'pais afectivos', a nova expressão agora em voga para designar aqueles que são pais embora não adoptivos, neste caso porque se trata de uma família chamada 'de acolhimento'. Refira-se que, quando tinha cerca de 2 anos, a menina chegou a a ser entregue pelo Tribunal de Alijó à mãe biológica, toxicodependente. Pouco tempo depois foi o próprio companheiro desta que devolveu a menina aos pais afectivos, por se aperceber da incompetência desta em cuidar da filha. Iara sabe da decisão judicial: "Fartou-se de chorar, não quis ir à escola e fez chichi nas calças"... Os pais afectivos não sabem se ainda passará o Natal com eles, já que poderá ser retirada à família de acolhimento a qualquer momento. O motivo de tão nobre decisão prende-se com a alegada recuperação da mulher que há seis anos a deu à luz.
Eh pá malta, esta nem sequer consigo comentar.

Só vos digo, inúmeros e incontáveis.
Ponham-se a pau.
Lembrem-se daquele poema de Berthold Brecht:

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso,
também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.



Inúmeros e incontáveis: desejais que continue esta minha leitura dos jornais da semana?

PS: As inscrições para a janta continuam abertas...

12/05/2007

Todos à janta interbloggers de 27 de Dezembro

Vai ser em Lisboa.
Vai ser muita louco.
Vamos ser mais cás mães.
Vão inúmeros e incontáveis amigos do 'Nada...' mas a janta foi ideia da Chiqui (amanhã linko-a assim como a outros dos inúmeros e incontáveis já confirmados e por confirmar a ver se se decidem rapidamente) e eu sei que ela não se vai importar que eu estenda o convite a todos os inúmeros e incontáveis. Aliás, qualquer inúmero e incontável da Chiqui é um inúmero e incontável meu e se ela concordar, o vice-versa também é válido.

Desculpem se fui confusa mas estou quase a fazer tilt, de modos que vou já pra casa jantar com os putos que é coisa que não faço há mais de três quinze dias. Ah pois é.

Mais pormenores amanhã. Estão abertas as inscrições

11/29/2007

FMI (Foi Muito Intenso) ou mais uma Crónica da Outra Vida

Foi em 1981. Eu tinha 11 anos. Tento em vão que o meu cérebro digira esta realidade assustadora. Passaram 26 anos. Não diria que parece que foi ontem. Mas anteontem, certamente. Quando me lembro ainda me arrepio. Claro que a possibilidade de ouvir a gravação (daquilo de que estou a falar, claro) permite refrescar a memória das células. Embora conste que já não são as mesmas. Mas isso é outro assunto. Portanto, adiante.
Foi, pois, em 81. Aqui mesmo ao lado, no Teatro Aberto, na Praça de Espanha. O dito teatro não ficava, como hoje, na Avenida Gulbenkian, como quem vai para a Av. de Berna, mas antes do outro lado da praça, como quem seguisse em direcção ao Hospital de Santa Maria. Isso agora também não interessa nada, como diria a Teresa Guilherme, mas os inúmeros e incontáveis já sabem como sou e o quanto gosto de me perder em pormenores, tipo janela barroca e o que vale é que depois a janela abre e fecha e veda na mesma, e dá para uma qualquer paisagem e, a bem dizer, podia dar-me para pior, que era esquecer-me ao que ia, ou neste caso vinha.
Os meus pais sempre me levaram para estas coisas, e diga-se de passagem que era mais por influência do meu pai que da minha mãe.Tratava-me como se eu fosse mais crescida do que na realidade era e agradeço-lhe o ter-me assim proporcionado momentos que trago comigo, agarrados à pele e aos ossos e que fazem parte de mim, indissociáveis do que sou, ou pelo menos julgo ser... Naquela noite, o programa era o espectáculo do José Mário Branco. 'SerSolid(t)ário'. Não era imensa, a audiência, que o teatro não levava uma multidão. Mas era suficiente para encher a sala e formar um todo,do qual se desprendia sopro, consistência, vibração. E sei que, apesar dos meus 11 anos, aquilo que senti a determinada altura não foi exclusivo meu, da minha ingenuidade, da inocência que trazia, muito inferior, diga-se, à de muitos 11 anos que por aí vejo. Não sei se feliz, se infelizmente, mas também isso são outros assuntos, e tantos haveria para trazer ao 'Nada...'...
E 'às páginas tantas', diz assim o Zé Mário: "Vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não seja muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam já não ser muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto. Chama-se FMI.Quer dizer: Fundo Monetário Internacional. Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos... É o internacionalismo monetário..."
E foi assim que assisti à primeira (e única??) apresentação (demorei um pouco a achar esta palavra e, embora não me pareça a ideal para definir o que foi 'aquilo', talvez seja a única que eu consiga achar neste momento, por isso aqui ficará a não ser que entretanto me surja outra mais adequada...) ao vivo desse texto e até hoje, a cada vez que me lembro, sinto-me grata. E muitas outras coisas, mas não sou menina para repetir adjectivos, apesar do meu já bem conhecido pendor para o alongamento verbal. E sei que, naqueles longos minutos, as confusas e variadas emoções que emergiram no meu ser foram de uma intensidade brutal e inesquecível. Sei também que algumas delas foram partilhadas com a restante plateia. O às tantas não saber se o homem 'se tinha passado' (nessa altura não se usava tal expressão), e se aquilo faria mesmo parte do que estava previsto. O sentir que estava ali a mais, frente a um homem com idade para ser meu pai que se estava a 'desmanchar' diante de 300 pessoas, para lá de todo o pudor, de toda a contenção. O riso e o espanto. A desmesura.

Ando há dias com este poema fabuloso no ouvido. Passaram 26 anos(!!!). 28 desde que foi escrito. Mas mudássemos-lhe nomes e pormenores e poderia ter sido escrito ontem. Anteontem. Amanhã.

Inúmeros e incontáveis. Se não conheceis, lede. E ouvide. Se não conheceis, idem. (Espero que esteja em óptimas condições. Não tive ocasião de ouvir tudo, que ainda me punham na rua por acto subversivo no local de trabalho. E já se se sabe, o precariado tem de manter low profile. Very, very low...)

Acrescento: Ando a cozinhar esta posta há uma semana. E o FMI às voltas na minha cabeça. Sempre e sempre. Mas da posta perdeu-se muita coisa pelo caminho. Vou-me lembrando, à medida que leio e releio o texto, que tem algumas imprecisões em relação à gravação. Pedaços que tomam um significado cada vez maior. Como: "(...) Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!"(...). Passaram 26 anos que o ouvi despejar isto. 28 que ele o escreveu. E hoje, quem tem 37 anos sou eu. E nunca como hoje senti este texto tão meu.

11/23/2007

Será um sinal?

Abri o tasco. Marcava 8888 visitas. Merece uma posta, pensei eu. Abro o blogger. Posta nº 111.
É do caraças, não acham, inúmeros e incontáveis?

Volto o mais breve possível, com assuntos menos comezinhos. Penso eu de que.

Ah! Gosto muito de vocês. Eu sei que estas coisas não se agradecem, mas o vosso carinho enche-me de calor e de luz :-)

11/15/2007

Nada

Sinto-me vazia. Sem assunto para escrever e de palavras gastas. Acabei de terminar mais uma correria de vários dias a cortar, colar, trocar, esticar e encolher vocábulos sobre questões alheias. À minha vontade e ao meu interesse. Não conseguir alinhar dois parágrafos dos quais sinta orgulho. Esperar por gente que se atrasa e não poder ir embora. Não poder fazer o mesmo sob pena de não esperarem por mim. Estar com os miúdos meia-hora por dia. Procurar em vão um par de meias no armário. Uma camisola que combine com a t-shirt e que aqueça na rua. Uma t-shirt que não destoe das calças e suficientemente fresca para os 30 graus da redacção. Umas calças que não pareçam ter sido adquiridas em 1983. Conseguir chegar a casa antes das dez da noite e sentir que não estou a fazer ali nada. Estar só no meio da multidão. Não pertencer a lugar algum. Ter saudades do futuro. Ansiar pelo que nunca tive e lamentar o que deixei para trás. Desejar outra coisa. Desejar desejar. Querer querer. Querer mais. Querer menos. Querer sair. Viajar. Conhecer. Querer entrar. Dormir. Acordar. Dormir. O inverno está a chegar e sinto-me vazia.